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Zélia Monteiro costura sabedoria do movimento em 'Percursos Transitórios'

Bailarina mostra lenta expansão do gesto no espetáculo em cartaz até domingo, 26, na Galeria Olido

Por Helena Katz
Atualização:

Uma névoa paira, baixinha, apertando a horizontalidade, e o corpo, como se fosse matéria prima dele mesmo, se ancora em um chão, que logo vai ser dissolvido. Com um cuidado que zela por cada detalhe de todas as minúcias, Zélia Monteiro avança lentamente para a expansão dos gestos, que começam perto do corpo para logo se tornarem vestígios deles mesmos. Seu novo trabalho, Percursos Transitórios, em cartaz na Galeria Olido até domingo, 26, é um pouco Klauss Vianna, um pouco Maria Melô, outro pouco ela mesma.

Zélia estudou com Dona Maria Melô (1908-1993), em São Paulo, por oito anos, de 1977 a 1985, quando se tornou sua assistente. Com a sua mestra italiana, aprendeu a técnica Cecchetti de balé. E, durante oito anos, de 1984 a 1992, mergulhou no entendimento de dança de Klauss Vianna (1928-1942). Estes dois percursos vão configurando o seu corpo, um se incrustando no outro, que se volta para o um, cortando as cercas para fazer correr um fluxo no outro. 

Cena do espetáculo 'Percursos Transitórios', de Zélia Monteiro Foto: Camila Picolo|Divulgação

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É uma espécie de rito, que não deixa nada voltar para seu ponto de partida. Porque um vai se desenhando no outro, enquanto o deixa desenhar-se em si. Vão restando laivos do que cada um foi antes, talvez para assegurar a grandeza da operação em curso. É preciso uma vida inteira para saber tanto do corpo.

A criação que Hernandes de Oliveira faz para a luz deste espetáculo acompanha os entranhamentos que materializam a dança de Zélia. Ele usa a luz-lâmina, que fatia o espaço; a luz-volume, que espessa as camadas da transparência; a luz-arquitetura, que tonaliza os ambientes com neblinas. Uma luz malevicheana para um corpo que mistura Atenas e Esparta.

Felipe Merker Castellani estende a música rente ao chão e vai redesenhando a sua relação com o corpo. Como um rumor, ela adentra a criação, não para completá-la, mas para comentá-la.

Têm rareado as oportunidades de encontrar o rigor que atua como um tique-taque, pulsando com a dança. É com ele que Zélia Monteiro costura a sua sabedoria do movimento. Neste Percursos Transitórios, produz uma dobra que se volta na direção da excelência.

PERCURSOS TRANSITÓRIOS Galeria Olido. Av. São João, 473, tel. 3331-8399. Sábado (25), 20h; domingo (26), 19h. Grátis – retirar ingressos com uma hora de antecedência.

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