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Willy Wonka e seus chocolates ganham musical na Broadway

Inspirado no livro de 1964,

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Por Redação
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Willy Wonka sempre soube da importância de uma boa edição. "Sabe o que é", disse ele, em 1964, tentando, sem sucesso, fazer com que Violet Beauregarde desistisse que provar sua goma de mascar mágica, "eu ainda não acertei a mão".

Em 1971, ele revisou a própria terminologia idiossincrática. "Mate essa", disse ele, depois de uma formulação confusa. "Mude tudo."

Cena de 'A Fantástica Fábrica de Chocolate', de 1971 Foto: Paramount Pictures

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Agora, o próprio chocolatier excêntrico está sendo reimaginado, desta vez para a Broadway.

"A Fantástica Fábrica de Chocolate", novo musical baseado no livro de 1964, que apresentou Wonka ao mundo, e no filme de 1971, que o popularizou, é um remake raro. Depois de ficar em cartaz em Londres durante quatro anos, os produtores substituíram diretor, coreógrafo e elenco, o roteirista reescreveu parte da história, o cenógrafo reformulou o cenário e os compositores refizeram a lista de músicas, acrescentando alguns números favoritos do filme.

"Não achava que fossem querer algo assim; aliás, nem queria necessariamente refazer nada, mas eles insistiram", confessa Jack O'Brien, o novo diretor do espetáculo e vencedor de três prêmios Tony.

O show é uma aposta alta do estúdio Warner Bros., que perdeu dinheiro em várias investidas teatrais anteriores e vem trabalhando na adaptação de "A Fábrica" há oito anos. A produção londrina recebeu críticas contraditórias, mas conseguiu se manter durante alguns anos; a versão de Nova York, que a assessoria de imprensa descreve como uma "transferência transatlântica", mas não um show novo, enfrenta forte resistência em uma temporada altamente competitiva.

Difícil imaginar um título mais promissor para um musical. O livro de Roald Dahl vendeu mais de 40 milhões de cópias; o filme original, estrelado por Gene Wilder, é um cult adorado por várias gerações; o remake de 2005, com Johnny Depp, foi bem nas bilheterias; além disso, temas familiares já conhecidos fazem sucesso entre os turistas que dominam o público da região teatral. 

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A única adaptação anterior na Broadway para um livro de Dahl, "Matilda the Musical", foi elogiada pela crítica e faturou quatro prêmios Tony (além de uma honraria especial pelas meninas que encarnaram o papel principal); foram 1.591 apresentações que recuperaram o investimento e agora está em turnê pelos EUA e Austrália. Em Londres se saiu ainda melhor, em cartaz na cidade há quase seis anos.

Os promotores do novo show estão dando duro para tirar ouro de chocolate: criaram vídeos caprichados mostrando Willy Wonka em Manhattan; convidaram Dylan Lauren, dono da Dylan's Candy Bar, a "selecionar" os doces que serão vendidos no teatro; encheram a fachada do teatro de piadas e referências visuais, incluindo a lata de lixo para as "nozes ruins" e uma portinha roxa para os Umpa-Lumpas. 

Em termos da história, pouca coisa mudou: Charlie Bucket é um menino pobre, meigo e sonhador que vive à base de repolho, mas sonha com barras de chocolate Wonka; Willy é um chocolatier criativo, isolado há anos em sua fábrica misteriosa. O drama se desenrola quando Wonka concorda em abrir as portas de suas instalações para cinco crianças (e seus acompanhantes) que encontraram os bilhetes dourados nas barras.

"Cansado de ser sozinho, ele sai à procura de um herdeiro, parceiro e amigo e fica feliz de poder mostrar seu negócio. Nós tentamos torná-lo mais humano, em vez de retratá-lo como alguém excessivamente excêntrico. O público pode encará-lo como uma pessoa ferida, meio doidinha; um gênio com alma", explica Christian Borle, ator com dois prêmios Tony no currículo que foi convidado a desempenhar o papel na Broadway.

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No livro, Wonka só se revela no capítulo 14. Em Londres ele aparece para Charlie logo no início do espetáculo, mas a equipe nova-iorquina achou a abordagem sutil demais. Agora, então, passa uma boa parte do primeiro ato disfarçado de vendedor de doces, trabalhando em uma loja perto da casa de Charlie, o que permite que ambos se conheçam e passem a conversar – e assim dá a deixa para que o espetáculo se abra ao som de uma das músicas mais populares do filme, "The Candy Man".

"O rei disfarçado de plebeu é um recurso teatral fantástico; extremamente comum, é uma linha adorável sob a qual a trama se desenrola no primeiro ato", conta o dramaturgo escocês David Greig, que escreveu o libreto para o espetáculo de Londres e o está reescrevendo para Nova York.

Como no filme original, mas ao contrário do livro, o pai de Charlie na Broadway morreu, criando um contexto psicológico para a ligação, cada vez mais forte, do garoto sem pai e o chocolatier sem filhos. "A relação dos dois é a base emocional e espiritual da história e, tendo a chance de poder mexer nela de novo, quis explorá-la um pouco mais", conta Greig.

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A equipe de criação é superexperiente: O'Brien e os compositores Marc Shaiman e Scott Wittman, participaram de "Hairspray", sucesso de público e crítica que ganhou o Tony em 2003 como Melhor Musical Novo. Mark Thompson, cenógrafo e figurinista que já foi indicado inúmeras vezes ao Tony, em Nova York, terá a companhia de um marionetista famoso: Basil Twist, membro da Fundação MacArthur que, em 2015, entrou para a categoria de "gênio". E Borle já tem um pequeno histórico com o material: foi o protagonista da série "Smash", da NBC, que tinha músicas de Shaiman e Wittman; anos atrás, quando a dupla começou a tentar compor canções para "A Fábrica", pediram a ele que gravasse as primeiras fitas demo.

Eles fizeram escolhas criativas ousadas, arriscadas até, a começar com a escalação de adultos como os donos (mimados) dos bilhetes – Violet Beauregarde, Augustus Gloop, Veruca Salt e Mike Teavee. (O papel de Charlie, o vencedor que acaba sendo recompensado em vez de punido, é dividido entre um trio de atores mirins cujos nomes, acredite se quiser, são Ryan Foust, Ryan Sell e Jake Ryan Flynn.)

E explicam a opção alegando que ela permite não só maior precisão na hora de cantar as músicas, de letras complexas, como também os momentos mais sombrios até do que o livro original: como a hora em que Violet, depois de mascar o chiclete que ainda não está pronto, não só incha feito um baiacu, mas também explode, enquanto Veruca, que insiste em levar para casa um dos esquilos de Wonka, é devorada pelos roedores (no livro, eles a jogam em uma lata de lixo).

"Quando fizemos a cena no ensaio, muita gente ficou horrorizada, mas o primeiro público viu e adorou. E acabamos deixando por que é ridículo demais", confessa o coreógrafo, Joshua Bergasse.

O palco é espartano, dominado por cores fortes em vez de peças suntuosas para reforçar o tema do show que não chega a ser mencionado, ou seja, a importância da imaginação. A mudança foi motivada, em parte, pela necessidade, já que os cenários britânicos foram criados para um teatro do West End muito maior que a casa da Broadway.

Em relação aos inesquecíveis, mas problemáticos Umpa-Lumpas – os pigmeus apaixonados por cacau que trabalham para Wonka e que, como conta, conheceu em uma viagem a Lumpalândia –, a linha adotada, como com tantos outros elementos da história, foi uma mistura do conhecido com novidades.

Twist sugeriu o uso de "humanetes", híbridos de humanos e marionetes, nos quais a cabeça dos atores fica visível sobre o corpo dos bonecos – e o resultado é que agora os pequenos parecem mais fazer parte de um coral do que de uma força de trabalho e o público parece apreciar a novidade. Esse, ao mesmo tempo, é brindado com outra música do filme, "The Oompa-Loompa Song", de Leslie Bricusse e Anthony Newley.

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"A produção britânica foi excelente, mas há um motivo por que o filme de 1971 é o mais reprisado da TV. A nova equipe conseguiu manter esses pontos positivos, mas, ao mesmo tempo, incluir mais a sensibilidade e os ingredientes do longa para o mercado norte-americano. É um show totalmente diferente", conta Luke Kelly, neto de Dahl e diretor de seu patrimônio literário.

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