Público do Rio ganha cinco teatros em seis meses

O Ziembinski reabre na zona norte, área pouco privilegiada, que também receberá o novíssimo Cesgranrio

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Por Roberta Pennafort
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RIO - Wolf Maya reconhece: a iniciativa de construir um teatro com recursos próprios – e de mantê-lo aberto, sem apoio estatal ou privado – requer mais do que coragem. “É uma atitude meio suicida”, brinca o diretor da TV Globo, que investiu R$ 12 milhões no Teatro Nathalia Timberg, impulsionado pela experiência no Teatro Nair Bello, em São Paulo, também empreendimento seu, desde 2007. A nova casa abriu há quatro semanas na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. 

“Teatro sempre deu prejuízo. Todos os que foram criados por atores e diretores fecharam. Numa época de meia-entrada, verbas pequenas de patrocínio e temporadas curtas, é ainda mais difícil de manter”, disse Maya. “Vendi vacas que herdei da família em Goiás e conto com a renda da minha escola de teatro, como fiz no Nair Bello.”

Ziembinski. Teatro passou por obras estruturais e reabre com peça de Fernanda Torres Foto: Eduardo Rocha|Divulgação

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Os 400 assentos do Nathalia Timberg e os 100 da Nathalinha, a segunda sala, se somam a outros 1.769 que o Rio está ganhando neste primeiro semestre. O circuito carioca foi acrescido de mais cinco teatros: dois antigos palcos que estavam desativados e foram reabertos e três novidades. Nenhum deles na zona sul, a área mais privilegiada com esses equipamentos. 

Hoje, reabre o Teatro Ziembinski, na Tijuca (zona norte), bairro onde também será inaugurado, mês que vem, o novíssimo Teatro Cesgranrio, um antigo auditório. O centro, que recebeu de volta o histórico Serrador em janeiro, verá nascer até junho o Riachuelo, o maior entre eles, com 1.080 lugares.

“Espero que os novos teatros venham sacudir o marasmo em que a gente está vivendo. As pessoas falam só de educação, mas esquecem que ela é decorrência da cultura, não o oposto”, considera Nathalia Timberg, em cartaz no “seu” teatro com 33 Variações, sucesso da Broadway de Moiseis Kaufmann, com Wolf como ator e diretor. 

O Serrador e o Ziembinski são teatros da Prefeitura do Rio que estavam fechados. O primeiro, na Cinelândia, parou por dois anos. Recebeu agora novos carpetes, cortinas e ar-condicionado. A reestreia marcou a volta de Bibi Ferreira ao palco onde ela surgira profissionalmente, há 75 anos. A noite foi cheia de simbolismos: o Serrador foi inaugurado em 1940 com um montagem da companhia de Procópio Ferreira (1898-1979), pai de Bibi, hoje com 93 anos.

Erguido pelo ator Walmor Chagas em 1988, o Ziembinski ficou em obras estruturais por seis meses. O telhado foi consertado para que parasse de chover na plateia. O palco teve o piso trocado. Quem vai reabri-lo é a atriz Fernanda Torres, com seu monólogo A Casa dos Budas Ditosos, com récitas hoje, para convidados, e no dia 25 para o público. “Walmor é um dos maiores atores que o Brasil conheceu. Tenho uma admiração tão grande por ele quanto por Ziembinski, diretor e ator genial. O teatro guarda a lembrança desses dois homens tão importantes”, afirmou Fernanda. 

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Os teatros municipais praticam preços populares – até R$ 40, sendo que a maior parte do público paga meia, por ser carioca ou residente na cidade. Os espaços também são mais atraentes para os produtores, pois não há a cobrança de um valor mínimo de aluguel, apenas de 15% da bilheteria. Ambos receberão residências artísticas, que darão o tom da programação, explica o secretário de Cultura, Marcelo Calero.

O Teatro Ziembinski, na Tijuca, zona norte do Rio, será inaugurado na quarta-feira, com o monólogo "A casa dos budas ditosos", de Fernanda Torres Foto: Eduardo Rocha|Divulgação

“Precisamos de mais teatros públicos. Nos particulares, cobra-se um mínimo de até R$ 16 mil por semana, um valor absurdo”, relata o presidente da Associação de Produtores de Teatro do Rio, Eduardo Barata. Segundo o presidente da Fundação Cesgranrio, Carlos Alberto Serpa, o Teatro Cesgranrio terá esse caráter: “Nossos artistas merecem mais uma casa de espetáculos, mas desta feita com características não lucrativas”.

À exceção do Cesgranrio e do Nathália Timberg, as demais salas têm metrô na porta, característica importante para a diversificação da plateia. Do Riachuelo, “são 32 passos” até a estação Cinelândia, conforme ele se anuncia. Trata-se do Cine Palácio, ao qual é creditada a exibição do primeiro filme sonoro do Brasil, em 1929. Tombado, o prédio, de 1890, foi reformado pelo Fundo Imobiliário Opportunity. A Aventura Entretenimento (produtora de musicais como A Noviça Rebelde e Elis – A Musical) vai operar o teatro.  A abertura será com um musical intitulado Garota de Ipanema, dirigido por Andrucha Waddington. “Dificilmente um teatro desse tamanho se sustenta sem patrocínio, não dá para contar só com a bilheteria”, diz Aniela Jordan, sócia da Aventura, que gere também o Oi Casa Grande, no Leblon, explicando o contrato com a rede de lojas Riachuelo.