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'Playground' volta com um drama matemático e dupla autodestrutiva

Cenário da peçasurge como um portal que permite passagem ao fluxo de memórias apresentadas no palco

Por Leandro Nunes
Atualização:

Enumerar não é uma dificuldade para ele e nem para o dramaturgo norte-americano Rajiv Joseph. O autor de Playground criou uma “estrutura matemática” que não interfere na fruição da montagem pelo público, defende o ator, mas que ainda assim merece ser descrita: “São oito cenas, que compreendem um período de 30 anos da vida de duas pessoas”, conta Monteiro. “E como a nossa memória, elas são resgatadas de maneira não linear.”

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O que não quer dizer aleatório, explica o diretor Marco Antônio Pâmio. “A história começa quando as personagens têm oito anos. Quando se avança para o futuro, acrescenta-se 15 anos, ao retroceder subtrai-se dez.”

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O resultado é um conjunto de 8 cenas que retratam a relação de Daniel e Karina com 8, 23, 13, 28, 18, 33, 23 e 38 anos. A repetição de dois momentos na equação também ganha um jeito especial. O diretor conta que a dupla tem uma interação curiosa. “São pessoas com histórias particulares que se conectam porque são igualmente carentes. Ele reage sendo inconsequente, com um comportamento autodestrutivo e desafiando a própria vida. Já Karina prefere cultivar os próprios medos, que roubam a autonomia da jovem para tomar decisões”, explica Pâmio.

Maratona. Ao lado da atriz Lara Hassum, Mateus Monteiro recebe sua primeira indicação ao Prêmio Shell na peça de Rajiv Joseph Foto: Leekyung Kim/Divulgação

Monteiro, que recebeu sua primeira indicação ao Prêmio Shell pelo personagem, afirma que o jogo entre os dois não parece se consumar. Talvez por isso eles sejam tão radicais. “Há uma atração marcada pela violência e de um estranho afeto que os mantém unidos. Isso não significa que sejam amigos ou amores, há muitas outras possibilidades.”

Para dar conta de tantas transições no tempo, o diretor ressalta que o cenário surge como um portal que permite passagem ao fluxo de memórias apresentadas no palco. “Ao fundo, há um conjunto de portas e janelas fixas, transparentes ou não. O que se transforma são elementos que entram e saem para retratar ambientes como o quarto de uma das personagens e de um hospital.”

Monteiro acrescenta que “o espaço caótico permite que o público refaça suas próprias lembranças.” E isso foi outra surpresa estranha para o elenco. “Eu acreditava que apenas o público com a faixa etária descrita na dramaturgia iria apreciar a peça. Ao longa da primeira temporada, recebemos relatos de pessoas mais velhas contando suas experiências”, conta o ator.PLAYGROUND Viga Espaço Cênico. Rua Capote Valente, 1323. Tel.: 3801-1843. 2ª e 3ª, às 21h. R$ 20. Até 28/2.

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