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Para o visagista Leopoldo Pacheco, são muitas as sutilezas do palco

Em cartaz com as peças 'Para Tão Longo Amor' e 'Adeus, Palhaços Mortos', ele fala da profissão que veio antes dele se tornar ator

Por Leandro Nunes
Atualização:

“A cor dos olhos e o tom de pele inspiram a criação.” Pode parecer poesia, mas é a frase que guia o trabalho do visagista e ator Leopoldo Pacheco. E nessa ordem, pois, antes de subir aos palcos como intérprete, ele já criava cenários, figurinos no curso de artes plásticas. “Eu roubava a maquiagem das minhas irmãs e levava para o curso”, confessa.

Da mesa de seu escritório, com parede de tijolos brancos e sem quadros, ele explica que o visagismo tem relação direta com a harmonia. “Trata-se de uma questão de unidade. Em um espetáculo, não pode ser o que cada pessoa quer fazer, mas o equilíbrio do conjunto. E esse olhar é trazido por alguém de fora do processo”, conta. 

Harmonia. As duas profissões conferem um olhar mais próximo na criação Foto: Gabriela Biló|Estadão

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Tal qual o ofício de ator, a profissão de visagista é milenar, e tem seus primeiros passos no célebre conceito do arquiteto Louis Sullivan (1856-1924): “A forma sempre segue a função”. De que serve uma bela cadeira se ela é desconfortável? Mas é só em 1918 que o francês Fernand Aubry cunha o termo, com foco no rosto e na criação de uma imagem personalizada. 

No teatro, esse esforço tende a observar o individual sem perder de vista o coletivo, defende Pacheco. Era nos bastidores de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, que o visagista desenhava, individualmente, a maquiagem de cada um dos personagens animais da adaptação da obra de Jorge Amado. “Eu maquiava os atores, um por um, e os ensinava a fazer o mesmo”, recorda. “Eles tiravam fotos do resultado e usavam como modelo ao longo da temporada.” 

A melhor parte, diz Pacheco, vinha depois. “Quando eu assistia à peça, que estava muito tempo em cartaz, percebia como os atores se apropriavam da maquiagem.” O duplo ofício de Pacheco confirma que eles estavam no caminho certo. “Como ator isso é essencial, pois a maquiagem e o figurino são as identidades dos personagens, e você precisa desenvolvê-los.” Cuidado com os detalhes nunca é demais e também garante que a maquiagem não saia dos trilhos no fim da temporada. 

O jeito com os traços foi desenvolvido desde a infância. Na adolescência, Pacheco chegou a criar animações em uma produtora. E foi na faculdade, sem perceber, que ele começou a desenhar cenários e figurinos para o grupo de teatro da Fundação Armando Alvares Penteado. Num dia qualquer, o diretor da peça precisou de um ator substituto e incentivou Pacheco, que já conhecia a peça inteira. “No fim da temporada, ele disse que eu levava jeito, então fui estudar.”

Palhaços. Hoje, ele está duplamente envolvido em Para Tão Longo Amor, dividindo o palco com Regiane Alves – indicada para o Prêmio Shell pela personagem – e assinando o visagismo. “Tirei dela toda imagem de mocinha vinda da televisão.” A atriz vive uma poeta rebelde e viciada que se apaixona por um editor de livros divorciado.

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Mais recentemente, Pacheco estreou Adeus, Palhaços Mortos, uma adaptação do texto de Matei Visniec feita em um cubo colorido com três palhaços dentro. “Aqui eu precisava reforçar a face dos atores,” continua. “Há muitas luzes e projeções no cubo e elas não poderiam ofuscar os rostos. Então, deixei cores fortes nos olhos e na boca, sob o fundo branco.” 

Para ele, a função permite que se possa acompanhar a criação do espetáculo em diferentes etapas. “Por vezes, o figurino vem antes, depois a iluminação e, por último, a maquiagem.”

E os palhaços de Visniec não foram os primeiros. Aliás, seres do picadeiro sempre acompanharam a carreira de Pacheco, que mantém longa parceria com a Cia. Os Fofos Encenam. Em Ferro em Brasa (2008), o visagista se debruçou a criar o retrato de uma família portuguesa do século passado com base na linguagem do circo-teatro.

A tela que representava a cozinha da casa foi desenhada com giz de cera, lembra. “São figuras com características muito próprias, como a mocinha e o vilão. Juntos, maquiagem e o figurino são como máscaras que os identificam.”

VISAGISMO

Origem ‘Visagisme’ é derivada de ‘visage’, que significa rosto.   Conceito A palavra foi cunhada no início do século 20, pelo francês Fernand Aubry. Ele criava estilos que diferenciassem a elite da época.

Histórico Desenvolvido ao longo da humanidade, o conceito já era praticado em culturas africanas e indígenas. Ao criar a imagem de um indivíduo com base nos orixás ou guias espirituais, associava a caracterização aos elementos da natureza ou animais sagrados.

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