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Livro reúne as análises de montagens internacionais feitas por Sábato Magaldi

Obra traça um ótimo panorama estrangeiro feito pelo ex-crítico do 'Estado' e do 'Jornal da Tarde'

Foto do author Ubiratan Brasil
Por Ubiratan Brasil
Atualização:

A importante recuperação da obra artística de Sábato Magaldi (1927-2017) ganhou mais um capítulo - depois do hercúleo trabalho de resgatar mais de 650 artigos e 2 mil críticas sobre a cena brasileira publicadas em jornais e revistas (especialmente o Estado e o Jornal da Tarde) que resultou no livro Amor ao Teatro (Sesc), a escritora Edla van Steen, que foi casada com Magaldi, deu outro passo e reuniu os escritos sobre peças estrangeiras. “São comentários de companhias de teatro que passaram pelo Brasil”, conta Edla, que organizou agora o volume Na Plateia do Mundo (Global).

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São textos sobre peças que passaram por São Paulo e pelo Rio, além de espetáculos que o crítico assistiu em diversos países, especialmente a França, onde estudou e escreveu, durante dez meses de 1952, um expressivo número de artigos. “Sábato teve a sorte de ver e comentar as primeiras peças de Ionesco e Adamov. Também pôde conhecer o repertório da Comédie Française e assistir a espetáculos dirigidos por grandes encenadores, com Jean Vilar e Jean-Louis Barrault”, observa João Roberto Faria, professor de Literatura Brasileira da USP, na introdução do volume.

Sábato Magaldi pertenceu a uma geração que moralizou o exercício da crítica teatral, tornando-a um instrumento eficaz de reflexão e norteadora de caminhos. Quando ele começou, em 1950, no Diário Carioca, a maioria dos críticos atuava como meros propagandistas das peças, alguns até ganhando propinas das companhias teatrais. Frequentador assíduo de espetáculos e leitor voraz de textos dramatúrgicos, o jovem mineiro recém chegado ao Rio substituiu Paulo Mendes Campos como crítico e, já em 1951, demonstrou seu talento.

Sábato Magaldi Foto: Wilton Junior/Estadão

Depois de passar aquele ano estudando na França, Magaldi voltou e, em São Paulo, assumiu, em 1954, a crítica de teatro do Estado, ao mesmo tempo em que dava aulas na Escola de Arte Dramática dirigida por Alfredo Mesquita. Exerceu a função de crítico até 1988, quando assinava textos no Jornal da Tarde, redigindo, a uma velocidade espantosa, artigos que apontaram desde a concepção épica de Brecht até a profunda brasilidade de Nelson Rodrigues, dramaturgo de quem se tornou amigo e cuja obra foi detalhadamente analisada por ele.

“Sábato tinha uma predileção por atores nacionais, especialmente quando os comparava aos estrangeiros”, conta Edla, que se diverte ao relembrar as considerações negativas que o crítico fazia às montagens da Comédie Française. “Mas, claro que também ele sabia valorizar os grandes nomes, especialmente entre os mais jovens.”

É o que se observa na crítica publicada em 3 de julho de 1951, quando Sábato analisou o espetáculo La Vedova Scaltra, apresentada, no Rio, pela Companhia do Teatro Italiano. Além de elogiar o trabalho do diretor Luigi Squarzina, o crítico observa as qualidades cênicas do jovem Vittorio Gassman, que “esteve muito seguro, (é) possuidor de inegável personalidade, embora não fosse o momento de mostrar o quanto é capaz”.

Vittorio Gassman. Ator italiano supera as expectativas Foto: Acervo Estadão

O teatro era a profissão de fé de Sábato Magaldi. No texto introdutório de Na Plateia do Mundo, Edla conta que o crítico deixou um farto arquivo, repleto de originais de 48 ou 49 cadernos manuscritos de quatrocentas páginas cada um, que ele intitulou Crônica Teatral e que não queria que fossem publicados antes de 30 anos da sua morte. “Serão doados à Academia Brasileira de Letras”, conta Edla, sobre a entidade à qual Sábato pertenceu entre 1994 a 2017.

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Em sua apreciação sobre produções estrangeiras, o crítico notou o talento até mesmo de quem ainda se iniciava - é o caso do encenador americano Robert Wilson, que apresentou The Life and Times of Dave Clark no Municipal de São Paulo, em 1974. “O começo me deixou cansado e perplexo, embora a plasticidade do espetáculo, bebida fortemente em sugestões surrealistas, trouxesse um estímulo contínuo”, escreveu. “Por incrível que pareça, o cansaço foi cedendo lugar a uma espécie de beatitude, sentimento dominante ao fechar a cortina.”NA PLATEIA DO MUNDOEditora: Global (472 págs., R$ 59) Pesquisa, seleção e organização: Edla van Steen

AMOR AO TEATRO Org.: Edla Van SteenEditora: Sesc (1.224 págs.; R$ 154) Obra traz críticas feitas entre 1966 e 1988 para o Jornal da Tarde

PANORAMA DO TEATRO BRASILEIRO Editora: Global (328 págs.; R$ 49) Clássico da historiografia cênica analisa dos autos de Anchieta às peças de 1960

O TEXTO NO TEATROEditora: Perspectiva (504 págs.; R$ 67) Livro aborda nomes fundamentais da criação dramatúrgica e cênica internacional

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