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João Miguel retorna com o juízo final de Bispo do Rosário

Com solo criado em 1996, ator foi à Chapada Diamantina para buscar a força da loucura de um artista do fim do mundo

Por Leandro Nunes
Atualização:

“Estão dizendo que isso que eu faço é arte. Quem fala não sabe de nada. Isso é a minha salvação na Terra.” Se, por um lado, a frase do artista plástico Arthur Bispo do Rosário põe em xeque o olhar sob o que pode ser considerado criação, por outro, dá impulso e entusiasmo para encarar as inúmeras possibilidades desse fazer. É com esse espírito que João Miguel estreia Bispo, nesta sexta, 17, no Sesc Bom Retiro.

Em uma pesquisa que se iniciou em 1996, o ator, que também assina a direção e o texto faz um passeio pela obra do artista plástico nascido em Sergipe, em 1909. “Comecei estudando sua biografia, que é encantadora, e passei a desenvolver oficinas dentro de hospitais psiquiátricos, em meio à luta antimanicomial”, conta o ator.

Casa cheia. Na temporada baiana, peça recebeu 1.500 pessoas no Teatro Castro Alves Foto: Rebeca Matta

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Bispo chegou a ser fuzileiro da Marinha e pugilista campeão. Em 1938, foi internado pela primeira vez após um “delírio místico”. “Ele se tornou admirável por conseguir dialogar com o mundo confinado em uma cela”, diz Miguel que, durante a primeira temporada, fez algumas apresentações no local em que o artista desenvolvia seus trabalhos como navios de sucata, faixas, bandeiras e objetos domésticos. “Aquele lugar deveria virar um museu ou um centro cultural”, insiste. 

Em um palco abarrotado de “lixo”, Miguel não pretende realizar um peça biográfica, mas buscar reconhecer a grandeza de um artista que já foi comparado ao francês Marcel Duchamp. “Ele tinha uma urgência em suas criações, mesmo usando materiais inúteis”, aponta Miguel sobre a criação mais importante de Rosário. “Ele fez o Manto para vestir no dia do Juízo Final. Havia um construção poética que marcava seu trabalho como uma grande obra brasileira.” E nacional no sentido em que se usa da cultura oral em suas criações e de figuras típicas, como os marinheiros, caboclos e boiadeiros. “Ele traz consigo esse inconsciente coletivo que está na vida de todos nós.” 

Ator de '3%', João Miguel festeja o sucesso da série nos EUA Foto: Sergio Castro/Estadão

Amparado nesse jogo de “ver e ser visto”, o ator então mistura memórias da própria vida com a biografia de Rosário. A origem nordestina em comum permite que o mergulho seja sem redes de proteção. E para invocar essa nova temporada Miguel passou pela Chapada Diamantina, na Bahia. “Acho que o que ele fez não tem fronteiras, o que me impulsiona a estar livre no palco.”

Com a retomada do projeto e das próximas temporadas, Miguel, que gravou dois filmes que devem ser lançados ainda neste semestre, também festeja a ótima audiência de 3% pelo mundo. A produção brasileira da Netflix é a série de língua não inglesa mais vista nos EUA. “Fiquei muito feliz porque, às vezes, sinto que ainda não consegui me comunicar com o público mais jovem, dos 13 aos 20 anos. A vantagem de ser ator é poder experimentar personagens diferentes e, ainda que não dê certo, arriscar com eles.”

BISPO. Sesc Bom Retiro. Alameda Nothmann, 185. Tel.: 3332-3600. 6ª, sáb., 21h, dom., 18h. R$ 30 / R$ 15. Estreia hoje, 17. Até 23/4.

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