Não espere figurinos em tom ocre, chapéus de cangaceiro e um trio de sanfona, zabumba e triângulo. O projeto do Grupo Carmin tem tanto fôlego quanto o chamado regionalismo, mas o desejo de alcançar o contemporâneo é bem maior.
Nesta quinta, 19, a companhia potiguar estreia Jacy, no Sesc Pinheiros. A montagem, que teve rápidas passagens pela cidade em 2015 e no ano passado, é fruto de uma busca por compreender a identidade do nordestino e do brasileiro, explica o diretor Henrique Fontes.
A peça teve impulso com uma frasqueira encontrada no lixo. No interior do objeto, Fontes encontro uma radiografia, números de telefone e objetos de uma tal Jacy. Algumas pesquisas depois e já havia uma boa história para ser contada, que se misturava aos fatos políticos e da corrupção na capital. “Depois de tantas investigações, temos políticos nossos envolvidos em crimes. Não foi preciso atualizar a peça”, diz o diretor.
Ainda que o grupo vá consultar na história do Brasil o motivo de suas reflexões, a empreitada do Carmin dispensa uma estética que parte do Sudeste e Sul compreende como “regionalista”. “É um conceito carregado de significados e que foi criado para servir aos interesses muito específicos”, aponta o videomaker Pedro Fiúza, responsável por uma câmera que capta detalhes dos documentos em uma dramaturgia visual.
Ao perceber que o caminho não aponta logo uma chegada, o grupo se reuniu com o historiador Durval Muniz para fazer a versão de A Invenção do Nordeste e Outras Artes, obra que remonta à construção dos grandes estereótipos sobre o Nordeste, entre eles o da pobreza e do ‘cabra-macho’. “Nós sabemos que o homem nordestino é o amável. Na história, os filhos das famílias ricas iam estudar na França e voltavam com trejeitos e recusando o trabalho nas fazendas. A cultura do sujeito bruto servia para proteger os negócios do gado e da família”, explica a atriz Quitéria Kelly.
JACY. Sesc Pinheiros. Rua Paes Leme, 195; telefone 3095-7400. 5ª, 6ª, sáb., 20h30. R$ 12,50/ R$ 25. Estreia hoje (19). Até 18/2.