Filha de Paulo José e Dina Sfat, Ana Kutner cria dramaturgia sobre afeto

Em 'Passarinho', atriz mescla memórias familiares para falar de morte, amor e sexualidade

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Por Leandro Nunes
Atualização:

Não é preciso se deter demais nos olhos de Ana Kutner para perceber a semelhança com sua mãe, Dina Sfat. O câncer de mama que matou a atriz, que foi casada com Paulo José, não calou fundo o futuro da filha nem o de sua irmã Clara. Nesta quinta, 17, Ana estreia na dramaturgia com um monólogo dirigido pela irmã. Se Passarinho prefere pairar mais ao longe de retratos tão expressamente biográficos, a relação de mãe e filha, algo mais universal, e a dor da perda causada pela morte, estão na mira da atriz, e agora dramaturga. “Foi num impulso que reuni cenas e narrativas que também versam sobre a sexualidade, o amor e, claro, as memórias familiares.”

Ver. Plateia terá surpresa visual na cena Foto: Felipe Lima

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Ao mesmo tempo em que assume não criar uma história fictícia, a atriz concebe o que acredita ser uma conversa mais aberta sobre esses temas. “No Rio, realizamos algumas leituras dramáticas para descobrir como a plateia percebia o texto, e o retorno que mais tivemos foi essa dor comum de pessoas que perderam amigos ou parentes.” 

Olhar esse material afetivo com um pouco de distanciamento demandou trabalho para impedir que a dramaturgia caísse num estado emotivo descontrolado e sem função, conta a diretora. O trabalho da direção de Clara foi o de alertar para trechos que pudessem debandar em atalhos de lágrimas fáceis. “Na primeira leitura dramática, eu pensei que nunca conseguiria parar de chorar. Lidar com o texto da Ana tem esse desafio. Queremos falar de assuntos mais universais, mesmo que eles tenham surgido por meio de experiências muito particulares”, explica a diretora. 

E nesse palco nu, ao lado de uma cadeira, Ana conta que foi preciso identificar e descobrir qual era o lugar determinado para tais declarações. “Eu não havia definido nada no texto, mas às vezes parecia um quarto, ou uma sala afastada, embora fosse uma geografia delicada para amparar essas palavras”, diz. 

Bem calçada no palco com a trilha sonora, cenografia e iluminação, a atriz acrescenta que a plateia ainda poderá participar de uma experiência lúdica em uma determinada cena. Ana antecipa que será oferecido, junto com o material da peça, um filtro gelatina, material utilizado em refletores para dar cor ao efeito de luz. “É uma folha violeta”, explica. “A plateia coloca sobre os olhos e vai enxergar a cena de um outro jeito.” 

E para quem estiver na estreia, uma outra surpresa. Ana conta, com ansiedade, que o pai estará na plateia. Aos 80 anos, Paulo José convive com a doença de Parkinson desde 1994. “É com a sabedoria dele que nós seguimos. Meu pai é um homem que precisa se reinventar todos os dias e isso faz com que a gente nunca pare. A vida se tornou um ciclo com descobertas a todo momento”, acrescenta Ana. 

PASSARINHO. Sesc Pinheiros. R: Paes Leme, 195. Tel.: 3095-9400. 5ª, 6ª, sáb., 20h30. R$ 25. Estreia hoje, 17/8. Até 16/9.

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