Festival Cena Brasil Internacional segue valorizando o intercâmbio entre artistas de diferentes país

Espaço é privilegiado para firmar parcerias

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Por Daniel Schenker
Atualização:

RIO - É possível detectar determinadas questões atravessando os trabalhos selecionados para compor a 5ª edição do Festival Cena Brasil Internacional, que começa hoje,1º, e se estende até o dia 12, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. “Percebo nesse instante uma abordagem crítica das mazelas do homem, flagrado em sua fragilidade. De forma mais localizada, a questão da violência sexual aparece com constância”, afirma Sérgio Saboya, idealizador, diretor e curador (ao lado do jornalista Luiz Felipe Reis) do evento.

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Mas o Cena Brasil Internacional – que, este ano, traz 11 espetáculos (quatro nacionais e sete estrangeiros) e uma instalação sonora – não é voltado para a busca de focos temáticos. “Nós não seguimos essa linha. Procuramos priorizar o modo como os projetos se desenvolvem”, frisa Saboya. O objetivo principal é promover o intercâmbio entre artistas de países diversos (nessa edição, Argentina, Bulgária, Chile, Espanha, Portugal e, claro, Brasil estão representados), que permanecem na cidade durante todo o festival.

Depois de integrar uma das edições anteriores com Aquilo que Meu Olhar Guardou para Você, o grupo Magiluth, sediado em Recife, ressurge com O Ano em que Sonhamos Perigosamente. Nesse novo trabalho, a companhia mescla referências do teórico esloveno Slavoj Zizek, do filósofo francês Gilles Deleuze e do cineasta grego Yorgos Lanthimos. “A dramaturgia é cheia de buracos, frestas, respiros. Distante do acabamento tradicional, a cena conserva a vitalidade do processo”, diz Pedro Wagner, que acumula as funções de diretor, dramaturgo (com Giordano Castro) e ator.

Inspirado no filme Dente Canino (2009), de Lanthimos, o grupo adotou o universo familiar como ponto de partida. De dado momento em diante, porém, a narrativa linear foi abandonada. A influência dos turbulentos dias atuais passou a imperar. “Os personagens portam a chama da revolta, mas não conseguem fazer a revolução”, observa Wagner, que incluiu na dramaturgia trechos de peças do russo Anton Chekhov – O Jardim das Cerejeiras, A Gaivota e As Três Irmãs –, autor que, apesar de intimista, trouxe à tona o contexto conturbado de seu país.

Mesmo evidenciando um enredo mais definido – centrado no retorno de Daniel para Wilde, na província de Buenos Aires, onde a família administra uma farmácia –, a montagem argentina Viejo, Solo y Puto também trilha caminho distinto ao da dramaturgia de gabinete. As improvisações dos atores foram fundamentais na concepção do texto. “A palavra é um procedimento, assim como o espaço, o tempo e a musicalidade. Valorizo as cores, os tons, as temperaturas, as intenções, a presença do ator”, declara o diretor Sergio Boris. “Não lidamos com texto prévio. No decorrer do processo, destacamos a individualidade, o desejo, o desamor e o desespero de se ligar a alguém ou a algo para conseguir sobreviver”, enumera o ator Federico Liss.

Entre os espetáculos escolhidos para o Cena Brasil Internacional, estão30/40 Livingstone, sucesso no Festival de Avignon, dirigido e interpretado pelos espanhóis Sergi López e Jorge Picó; Acceso, do chileno Pablo Larraín, monólogo com Roberto Farías, ator que participou de No (2012) e O Clube (2015), filmes de Larraín; e o brasileiro Sonata Fantasma Bandeirante, criação de Francisco Carlos. Concretizar o festival não foi fácil. “Há algum tempo, contamos com o orçamento de R$ 500 mil. Mas esse ano ficou mais difícil por causa do aumento do dólar”, revela Saboya.