‘Estado’ assiste às audições para o clássico musical ‘Cantando na Chuva’, que chega em agosto

'Foi por causa da dificuldade de trazer a aparelhagem que faz chover no palco que adiamos a produção por tanto tempo”, conta Claudia Raia

PUBLICIDADE

Foto do author Ubiratan Brasil
Por Ubiratan Brasil
Atualização:

Claudia Raia garante que a produção de seu próximo musical, Cantando na Chuva, previsto para estrear no dia 12 de agosto, no Teatro Santander, é o mais trabalhoso de sua carreira. O que surpreende vindo de uma artista que ajudou a desbravar o gênero no Brasil, chegando a improvisar a orquestra nos bastidores em teatros distantes ou até a se apresentar com microfone com fio. “Passei muito perrengue mesmo”, diverte-se ela. “Mas não conhecia o molhado, apenas o seco.” A atriz e produtora se refere, claro, ao grande desafio de levar para o palco um dos maiores (senão o maior) musicais cinematográficos de todos os tempos, aquele cujo número mais icônico mostra um homem apaixonado dançando sob um forte temporal. “Foi por causa da dificuldade de trazer a aparelhagem que faz chover no palco que adiamos a produção por tanto tempo”, conta Claudia, que, desde 2012, alimenta o sonho de montar a história encenada no cinema por Gene Kelly, Debbie Reynolds e Donald O’Connor. Foi em 2012 que Claudia e Jarbas Homem de Mello, seu parceiro na vida e na arte, assistiram à montagem inglesa do filme. Não saíram tão satisfeitos. “Na clássica cena de Kelly dançando na chuva, o ator era acompanhado do coro, o que tira a graça”, observa Jarbas. Mas o que deixou o casal literalmente boquiaberto foram as cenas de chuva. “O ator que interpretava Don, vivido por Gene Kelly no cinema, começa a cena usando um grande chapéu. Claro, pensei, vai ficar assim até o final, pois não pode molhar o microfone, que fica acoplado na testa”, recorda-se Claudia. “Mas, de repente, ele arranca o chapéu, olha para cima e começa a cantar: ‘I am singing in the rain...’. Debaixo de um aguaceiro!”

Equipe do musical 'Cantando na Chuva': odiretor FredHanson, a produtora Stephanie Mayorski e os atoresJarbas Homem de Mello e Claudia Raia Foto: Caio Gallucci

“Pior: começou a sapatear no palco totalmente encharcado”, emenda Jarbas, que viverá apropriadamente Don Lockwood, por ser um dos maiores especialistas em sapateado no Brasil e também por já ter apresentado o “joie de vivre” (gosto pela vida) que sempre marcou as atuações de Kelly. Terminada a sessão, o casal procurou desvendar os detalhes técnicos e descobriu a existência de uma empresa inglesa especializada em chuva cênica, atuando tanto no teatro como também em grandes eventos como aberturas de Olimpíada. Ela cria uma estrutura complexa que fica sobre o palco: uma rede de canos que não é vista pelo plateia recebe a água por meio de canaletas e ralos bem discretos e a conduz para dois enormes tanques que recebem 10 mil litros cada. “A água que será utilizada é de reuso e volta aquecida na forma de chuva para não adoentar os atores”, conta Stephanie Mayorkis, diretora da divisão de teatro de IMM Esporte e Entretenimento, que se associou a Claudia e Jarbas ao sentir solidez em seu projeto. “Gosto de apostar nos musicais clássicos (recentemente, produziu ‘My Fair Lady’ com Jorge Takla) e aqui o desafio é entregar um trabalho que mantenha os momentos icônicos do filme, mas, ao mesmo tempo, com um toque moderno, nacional.” O equilíbrio, portanto, é decisivo para o sucesso do espetáculo. Para isso, os produtores montaram um grupo de criação de primeiro time. A direção, por exemplo, está a cargo do americano Fred Hanson, que já comandou espetáculos como Miss Saigon e O Médico e o Monstro. Sua identificação com o Brasil tornou-se tão sólida que hoje ele se divide entre São Paulo e Nova York. “Desde setembro do ano passado, estou cuidando do projeto”, conta, em bom português, Hanson, um homem cuja gentileza é capaz de dobrar os mais resistentes. “Gosto de espetáculos com logística complicada e que são assumidos por produtores ‘caxias’, como vocês dizem aqui. Exatamente como Claudia e Stephanie.” A tarefa de trabalhar a coreografia, essencial em Cantando na Chuva, será dividida entre Kátia Barros, que trará um toque de jazz para a dança, e Chris Matallo, especialista em sapateado old tap, ou seja, à moda antiga. “Iremos para um teatro com ótima acústica, o que é excelente também para o sapateado, que tem diferentes timbres”, comenta Claudia, que fará uma participação especial em Cantando na Chuva: ela viverá Lina Lamont, a estrela do cinema mudo que, na passagem para o sonoro, revela ter uma voz de taquara rachada. “Meu desafio será o de cantar desafinado”, conta ela, já se divertindo em falar errado como a vilã da história - Lina é namorada de Don, que se apaixona por Kathy, personagem consagrado por Debbie Reynolds e que será definido por audição (leia abaixo). Outro desafio foi enfrentado por Mariana Elisabetsky e Victor Mühlethaler, responsáveis pela versão nacional. Autores da excelente tradução de Wicked, eles agora enfrentaram um musical cujas canções não contam necessariamente a história. “Buscamos nos aproximar do original”, conta Victor, cuja canção que mais preocupação deu foi a tema - era preciso mencionar o título do musical. E a solução, o público verá, funciona.300 candidatos participaram da seleção As audições para a definição do elenco de Cantando na Chuva terminavam neste sábado, 18. Participaram 300 candidatos, escolhidos a partir de 1.200 currículos enviados. O grande desafio era escolher dois dos papéis principais: o de Kathy Selden (vivido, no cinema, por Debbie Reynolds) e de Cosmo Brown (um dos melhores trabalhos de Donald O’Connor). “São o contraponto para o meu papel (Lina) e o de Jarbas (Don)”, diz Claudia Raia. Nesta segunda-feira, 20, os produtores receberão a primeira maquete dos cenários, que prometem ser vistosos. “Acho que ficarão impressionados”, brinca o diretor americano Fred Hanson, que já viu o projeto. O espetáculo será produzido pela Raia Produções, pela IMM e pela EGG Entretenimento. 

Cena do musical 'Cantando na Chuva', de Gene Kelly e Stanley Donner Foto: MGM

Foi o tempo que colocou o filme no panteão de Hollywood Nada como o tempo. Quando estreou, em 1952, Cantando na Chuva fez sucesso modesto. Suas maiores recompensas foram o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante de comédia ou musical para Donald O’Connor e o prêmio do Writer’s Guild para a dupla de roteiristas Betty Comden e Adolph Green. Passados 60 e tantos anos, Singin’ in the Rain ocupa o primeiro lugar na lista dos 25 maiores musicais de todos os tempos do American Film Institute e o quinto na dos 100 maiores filmes de Hollywood, também do AFI. Pense em musical e, com certeza, virá a imagem emblemática de Gene Kelly cantando (e dançando) na chuva. Poderia não ter ocorrido. A primeira escolha do estúdio (a Metro) e do produtor (Arthur Freed) para o papel foi Howard Keel. Mas, quando Kelly foi escolhido, ele assumiu e codirigiu o filme com Stanley Donen. Não eram frequentes, na época, os filmes sobre bastidores. Na transição para o sonoro, Kelly e O’Connor torcem pela mocinha, Debbie Reynolds, que fornece a voz para a estrela que desafina. Uma ou outra música foi composta para o filme. A maioria já existia. Difícil imaginar maior energético. Cantando na Chuva é remédio certo contra a depressão. (Luiz Carlos Merten)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.