Fernando Torres e eu convivemos com Gianni Ratto a partir de 1954, na companhia Maria Della Costa. Um homem que tinha optado por estar no Brasil, e que tinha deixado um legado de alta qualidade artística na Itália.
Foi nesse momento que encaramos um intelectual, um artista pleno, um mestre. Ele sempre dizia que não haveria teatro brasileiro sem autor brasileiro. Sua adesão total à nossa cultura impulsionou a criação aqui.
Quando fundamos o Teatro dos Sete, buscamos empréstimos e nos endividamos. O jeito foi ir também para televisão para viabilizar os projetos no palco. A companhia ia começar com O Beijo No Asfalto, mas Nelson Rodrigues ainda não havia finalizado o texto.
A estreia aconteceu meses antes da renúncia de Jânio Quadros, o que colocaria o País e seus artistas em um difícil modo de sobrevivência.
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Gianni foi um condutor obsessivo, exigente, disciplinado e que nos preparava física e intelectualmente em ensaios de 10, 12 horas por dia. Se hoje tenho alguma bagagem como intérprete, sem ele não haveria nada.
Seu compromisso não era facilitar a caminhada de ninguém. Muito tempo depois nos encontramos e ele brincou: ‘Hoje eu não sou tão ditador como era antes’.
Gianni era homem que buscava exaustivamente a perfeição dentro dele mesmo. Uma pena que não deixou nenhum substituto.