Ator Stepan Nercessian interpretará Chacrinha em novo musical

'Chacrinha, o Musical' estreia em 14 de novembro no Rio de Janeiro

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - Vai pro trono ou não vai? Leo Bahia vai. Stepan Nercessian, também. Os dois atores foram escolhidos para encarnar, em idades diferentes, o papel-título de Chacrinha, o Musical, com estreia marcada para 14 de novembro no Teatro João Caetano, no centro do Rio. Atualmente em cartaz como a Lucia da Ópera do Malandro, personagem de destaque no musical de Chico Buarque, Bahia participou de audições com mais de 400 atores-cantores. O rapaz de Niterói nasceu em 1991, três anos depois da morte de Chacrinha. Só o conhece do YouTube e da biografia que o pesquisador Denilson Monteiro - biógrafo de Carlos Imperial e de Ronaldo Bôscoli - está lançando. Foi o suficiente para identificar no palhaço-apresentador a originalidade e a ousadia que foram sua marca na comunicação brasileira - primeiro no rádio, depois na televisão. "Ele é a própria história da TV brasileira", diz Leo, a quem caberá Chacrinha até os 40 anos, quando sua Discoteca do Chacrinha estreou na TV Tupi. Nercessian, que tem 60 anos, 46 de carreira, chegou a participar do Cassino do Chacrinha, na TV Globo, na década de 1980 (atualmente o programa é reprisado pelo Canal Viva). Participou do júri que execrava ou exaltava os pobres calouros. Ele só aceitou o convite para o musical por se tratar de um projeto diferente, grandioso - serão 22 atores-cantores, numa montagem orçada em R$ 12 milhões.

Stepan pensa em reduzir o cigarro para ganhar fôlego para o musical Foto: Fabio Motta/Estadão

"É uma irresponsabilidade me chamar para fazer um musical. Sou reconhecidamente uma pessoa que não canta nem dança, e mal representa", ele brincou, ontem, ao ser apresentado como Chacrinha ao jovem elenco. Foi a primeira reunião de toda a equipe, que agora terá dois meses de ensaio. A "entronização" foi feita por Pedro Bial, que, com Rodrigo Nogueira, assina o texto: o jornalista lhe deu uma cartola e uma buzina, à semelhança do figurino do Velho Guerreiro. Nercessian admite que precisará ganhar fôlego para a temporada: “Faço tudo errado, bebo, fumo... Vou ter aula de voz. Não quero imitar, porque existem milhares de imitadores melhores do que eu. Quero chegar ao espírito do Chacrinha. Em comum, temos a alegria". Esse espírito - de anarquia, deboche, incorreção política e também de muita afetuosidade e faro profissional - foi descrito ao elenco, que será comandando por Andrucha Waddington, por gente que conviveu com Chacrinha intimamente. Elke Maravilha, símbolo maior dos jurados de calouros (ficou na função por 14 anos) lembrou do “painho” que, nos bastidores, urinava na sua frente, e que se estressava tanto durante o programa, que tinha incontinência e precisava se trocar diversas vezes. “Era uma pessoa sem conceitos; portanto, sem preconceitos. Sempre querem engavetá-lo no brega, mas era completamente atemporal”, defendeu. Andrucha vive a primeira incursão teatral em 28 anos dedicados ao audiovisual. Na reunião de ontem, mais ouviu do que falou. Foi ele quem trouxe Nercessian para a peça. A sugestão foi de sua sogra, Fernanda Montenegro. "Ela disse: 'ele tem a alma do Chacrinha."' Com produção da Aventura Entretenimento (de Elis, Rock in Rio e Um violinista no telhado, entre outros musicais de sucesso em onze anos de atividade), a peça vai começar em Pernambuco, onde Chacrinha nasceu, em 1917, com Abelardo sendo visitado por um velho palhaço, no qual vai se transformar no segundo ato. Vai mostrar a trajetória no rádio, onde ele ingressou nos anos 1940, e a revolução na TV, a partir dos anos 1950 - começou pouco depois de inaugurado o veículo no Brasil. Não faltarão chacretes rebolativas, calouros desafinados, troféus abacaxi, piadas infames, postas de bacalhau voadoras e sucessos musicais dos anos 1970 e 1980, perenes e descartáveis, de nomes como Roberto Carlos, Elba Ramalho e Rosana “Como uma deusa”. O lado melancólico do showman (era bipolar), também autoritário (seus programas tinham que seguir suas diretrizes sem desvios), não serão escamoteados. "Antes de entrar no ar o Big Brother Brasil, eu faço o 'Terezinhaaaaaa!!!!!' e todo mundo responde 'úúúúhh', mesmo sendo uma plateia com média de idade de 20 anos", lembrou Bial. "Ele inaugurou no Brasil a comunicação de massa. Vamos falar desse palhaço felliniano, cheio de lirismo, mesmo dentro dos duplos sentidos mais chulos".

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