Ativismo nas artes é tema de festival de teatro de grupo

Oito companhias brasileiras e grupos de quatro países de língua latina se apresentam em mostra em São Paulo

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colunista convidado
Por Leandro Nunes
Atualização:

Uma frasqueira encontrada no lixo pode ter muito o que contar sobre a história do Brasil. O objeto continha uma radiografia, maquiagens, cartões com números de telefone e documentos que pertenciam a uma senhora chamada Jacy. O espetáculo Jacy, do grupo Carmin, do Rio Grande do Norte, será apresentado durante a 10.ª edição da Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, com abertura nesta sexta-feira, 30.

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A montagem vista neste ano em Brasília, durante o festival Cena Contemporânea, tem como ponto de partida buscar compreender o envelhecimento. Com direção de Henrique Fontes, a aparição da frasqueira mudou os caminhos para uma investigação sobre a identidade da mulher e da capital potiguar. Nela, havia uma intrincada teia genealógica e hierárquica, e documentava as famílias da região que trabalhavam pela manutenção do poder.

Ao lado de Jacy, mais sete grupos brasileiros e representantes da Argentina, Equador, Cuba e Chile circulam entre os palcos do Centro Cultural São Paulo, teatros, CEUs e na Estação Brás da CPTM. A curadoria organizada pela Cooperativa Paulista de Teatro sincronizou a programação sob uma temática que reunisse estéticas que mesclassem arte e política. “Estamos em um momento político complexo”, diz o porta-voz da cooperativa, Edgar Cardoso. “Frente a uma ala religiosa, conservadora e violenta como a que estamos vendo no Brasil, é preciso pensar em como a arte pode se posicionar”, explica.

Grupo paulistano Motosserra Perfumada mescla rock’n’roll em espetáculo teatral Foto: MARCOS LOBO|DIVULGAÇÃO

Com a mesma quantidade de grupos, a mostra manteve os números em relação à edição anterior (seis nacionais e seis internacionais). “Apesar dos cortes no orçamento da cultura que ocorreram neste ano, conseguimos manter o mesmo número de grupos e ainda ampliar os espaços de apresentação.”

Na lista de montagens nacionais, há o espetáculo do grupo A Motosserra Perfumada, que narra a história de um jovem que corre de porta em porta para reaver pedaços do seu corpo com amigos, familiares, amores. Com texto e direção de Biagio Pecorelli, o show Aquilo Que Me Arrancaram Foi a Única Coisa que Me Restou traz no elenco atores e músicos que se dividem no palco, entre eles o cantor Jonnata Doll, que participou da turnê Legião Urbana XXX Anos. “Quando escrevi, ainda não havia pensado em algo que integrasse música”, explica Pecorelli. “Mais tarde, surgiu a vontade de fazer um show que misturasse a história do rapaz com as canções do repertório de Doll.”

A programação internacional inclui o grupo Malayerba, do Equador, com seu Instrucciones para Abrazar El Aire (Instruções para Abraçar o Ar). Percorrendo memórias vindas de registros líricos e históricos, a peça reflete sobre o desaparecimento de uma criança durante a Guerra Suja na Argentina. O grupo chileno Tryo Teatro Banda relembra a passagem da Companhia de Jesus pelo país, de 1593 a 1767, e leva para o palco a montagem La Expulsión de Los Jesuitas (A Expulsão dos Jesuítas). 

Outras peças da programação

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‘A Cidade dos Rios Invisíveis’ (SP)Partindo da viagem de Marco Polo descrita em As Cidades Invisíveis, do italiano Italo Calvino, a peça percorre as estações BrásJardim Romano, na linha Safira da CPTM.  

‘La Virgen Triste’ (Cuba)A Compañia Galiano retrata a história da poetisa e pintora modernista Juana Borrero (1877-1896), vítima de tuberculose.

‘Condomínio Nova Era’ (SP)Inspirada em uma pensão real de São Paulo, a Digna Companhia aborda a rotina de seus moradores, a busca por moradia e as manifestações populares.

10ª MOSTRA LATINO-AMERICANA DE TEATRO DE GRUPO. Centro Cultural São Paulo. R. Vergueiro, 1.000, tel.: 3397-4006. Estreia hoje. Até 8/11. Grátis.

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