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Denise Fraga estréia no teatro 'A Alma Boa de Setsuan'

Divertida e inteligente adaptação dirigida por Marco Antônio Braz inicia temporada no Teatro Renaissance

Por Beth Néspoli
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Em plena noite de segunda-feira, uma fila imensa serpenteia diante do Teatro Municipal de Paulínia. No saguão já lotado, famílias inteiras, algumas com até mesmo crianças de colo, aguardam a abertura da platéia de 1,4 mil lugares para ver A Alma Boa de Setsuan. Quem foi até lá ver de perto a atriz Denise Fraga saiu com muito mais do que isso. Viu, sim, a atriz brilhar como a protagonista Chen Te, mas pôde apreciar também um conjunto de ótimas atuações - são nada menos do que 11 atores em cena - e uma divertida e inteligente adaptação dessa peça de Bertolt Brecht, dirigida por Marco Antônio Braz. Veja também: Galeria de fotos  A julgar pelas quatro sessões de pré-estréia em Paulínia, A Alma Boa de Setsuan, que inicia temporada no sábado no Teatro Renaissance, em São Paulo, tem potencial para fazer longa e bem-sucedida carreira. Brecht definia como parábola essa peça cuja trama se situa numa cidade imaginária do Oriente, Setsuan. Chen Te é uma prostituta generosa e, por isso, ganha dos céus um dinheiro que investe na compra de uma tabacaria. Mas como ninguém se salva sozinho, é cercada por miseráveis. Incapaz de negar um pedido, acaba sofrendo com aproveitadores de todas as classes sociais. Para proteger seu único bem, ela inventa a existência de um primo, Chui Ta, ela própria disfarçada, que faz o ‘trabalho sujo’ de expulsar os pobres por ela. De saída chama atenção a forma como a diferença física entre os Chen Te e Chui Ta, embora bem definida, fique parecendo um detalhe. O que parece interessar à atriz e à encenação, conseqüentemente ao público, não é ‘como’, mas ‘por que’ ela se disfarça em Chui Ta. Mais ainda, quais são as conseqüências disso. Muito claramente e ao mesmo tempo com a devida sutileza, Denise Fraga desenha uma linha ascendente no comportamento de Chen Te, que acumula cada vez mais bens e aos poucos vai perdendo o pudor de ser dura. "Se eu passei isso, fico muito feliz, porque minha maior aflição era a dualidade dessa personagem", diz Denise Fraga. "O primeiro desafio era não cair na cilada da composição, de querer dar conta de interpretar um homem. Chui Ta não existe, é uma necessidade social de Chen Te." Ela conta que Braz chamou sua atenção para a potência cômica do disfarce, de tentar ser o que não é, recurso típico de vaudevilles. "Também era crucial mostrar a cachaça que é poder, deixar claro que Chen Te ultrapassa uma linha quando prospera. Tomara que a gente consiga levar à cena as várias discussões éticas propostas por esse texto. E sem abrir mão de a gente se divertir. A Alma Boa de Setsuan. 110 min. 12 anos. Teatro Renaissance (462 lug.). Alameda Santos, 2.233, Cerqueira César, tel. 3188-4147. 6.ª, 21h30; sáb., 21 h; dom., 19 h. R$ 60 e R$ 80 (sáb.). Até 28/9.

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