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Zé Renato sofistica temas do iê-iê-iê e Wanderléia diversifica

Cantor e compositor se aproxima do pop, enquanto a musa do iê-iê-iê grava choro, samba, reggae, blues

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Há um bom tempo os caminhos dos egressos da jovem guarda e da elite da MPB vêm se cruzando. Nara Leão, Elis Regina, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Luiz Melodia, Marisa Monte, Adriana Calcanhotto e outros tantos já visitaram o cancioneiro de Roberto Carlos e seus congêneres dos anos 1960. Com É Tempo de Amar (MP,B/Universal), porém, o cantor e compositor Zé Renato supera todas as investidas anteriores. Moderno, romântico, sofisticado e divertido, é um dos melhores títulos brasileiros lançados em 2008. Na direção oposta, Wanderléa, a eternamente jovem musa do iê-iê-iê, afasta-se mais uma vez do estilo que a consagrou e mostra outras facetas no álbum Nova Estação.     Veja também: Zé Renato - 'Coração de Papel'  Wanderléa - 'Samba da Preguiça'      Zé Renato não incluiu no CD, mas vai cantar nos shows de lançamento – em janeiro no Teatro Rival (Rio) e em março no Teatro Fecap (São Paulo) – um clássico do repertório romântico de Wandeca, Ternura. Outras de Roberto Carlos – como Eu Disse Adeus, Namoradinha de Um Amigo Meu e Eu Te Darei o Céu – também ficaram para o show, já que o Rei não autorizou a tempo de entrarem no CD. "Vamos rezar pra que ele autorize pra gente fazer um DVD", diz o cantor.   Mesmo assim, a essência de Roberto, capixaba como Zé Renato, se faz presente na maior parte do CD. São canções de outros autores, como Luiz Ayrão (Nossa Canção), Eduardo Araújo e Chil Deberto (Com Muito Amor e Carinho), Hélio Justo e Edson Ribeiro (Ninguém Vai Tirar Você de Mim e Custe o Que Custar), Paulo César Barros e Getúlio Cortes (O Tempo Vai Apagar), em que Roberto deixou sua marca definitiva. Outro grande hitmaker, Renato Barros comparece com mais um sucesso na voz do Rei, Não Há Dinheiro Que Pague, que tem o piano de Marcos Valle, e outro clássico de Leno e Lilian, Eu Não Sabia Que Você Existia.   "São coisas perfeitamente integradas à minha vida profissional. Já estavam entre as primeiras coisas que aprendi a tocar no violão. Isso não aconteceu de repente, só veio se manifestar agora porque era a hora", diz Zé, que já interpretou várias canções de Roberto no palco.   O pontapé inicial do projeto foi a encomenda que ele recebeu da atriz Patrícia Pillar, pedindo sugestões de tema, "nessa veia mais popular", para sua personagem na novela A Favorita. Dentre as canções que ele gravou, Roberto Carlos incluído, a escolhida foi O Tempo Vai Apagar. O segundo passo veio de uma conversa com Nelson Motta, que sugeriu um disco inteiro com "grandes canções" do mesmo gênero e período, "com esse tratamento instrumental e vocal sofisticado". "Se o que a velha MPB sempre reclama da jovem guarda é a ‘pobreza harmônica’, seus problemas acabaram!", brinca Motta no texto de apresentação.   "Além das letras, tinha uma coisa melódica que me pegou muito", diz. São melodias que sugeriram soluções harmônicas que têm a ver com o estilo dele. "Minha identificação vai muito por aí, de pegar as músicas e botar violão. Meus projetos todos foram concebidos dessa maneira." Bom entendedor, o produtor Dé Palmeira (ex-Barão Vermelho) já veio com a idéia de que o disco tinha de ser baseado no violão de Zé. Foi fundamental no resultado, aproximando-o de uma inédita sonoridade pop, somada às idéias de harmonias do cantor.   Coração de Papel (Sérgio Reis) é um bom exemplo dessa mistura de conceitos, meio bossa nova meio iê-iê-iê, com órgão Hammond e programação eletrônica. O rascante Lobo Mau (versão de Hamilton di Giorgio para The Wanderer) de Roberto vira um felino furtivo na voz galante de Zé, em roupagem suingada de rhythm and blues. Para quem conhece a vida amorosa do cantor, é uma gag a mais, já que o tipo da canção diz que não gosta de casamento e ele já está no sexto.   Há outras duas boas ironias no CD. Uma delas é Última Canção, cujo autor é Carlos Roberto e foi grande sucesso na voz de um imitador do Rei, Paulo Sérgio. A outra é Por Você, o único iê-iê-iê composto por Vinicius de Moraes (em parceria com Francisco Enoé), que foi gravado para a trilha do filme Garota de Ipanema, de Leon Hirszman, por Ronnie Von – concorrente de Roberto na televisão nos anos 60 e que nunca foi ao programa Jovem Guarda. Libera as suas aí, Roberto.

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