Vozes estrangeiras homenageiam a canção brasileira

Italiana Susanna Stivali e espanhola Estrella Morente lançam discos com grandes compositores do País

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Por Adriana Del Ré
Atualização:

Elas são cantoras de origens e sonoridades distintas: Susanna Stivali, italiana, atua na cena jazzística e Estrella Morente, espanhola, se moldou como artista no ambiente do flamenco, ao qual foi exposta desde criança. Mas ambas são apaixonadas por música brasileira e suas declarações de amor se dão em seus recentes álbuns. Susanna lançou Caro Chico (Biscoito Fino), com canções de Chico Buarque que ganharam versões em italiano. Já Estrella faz, em Amar En Paz (Sony Music), um passeio pela história da nossa música, de Pixinguinha a Paulinho da Viola, passando por Dolores Duran, com letras também adaptadas para sua língua.

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No caso de Susanna, ela conta que sua primeira aproximação com a obra de Chico se deu por meio de algumas versões de suas músicas italianas interpretadas por Mina, famosa cantora italiana. “Lembro que meus pais tinham LP ao vivo dela, uma das músicas de Chico foi Tem Mais Samba (C’è più samba, em italiano). Naquela época, eu já adorava cantar e me lembro de pensar que amaria cantar essa música em público, mais cedo ou mais tarde”, diz ela, ao Estado.

O próprio Chico, que tem uma ligação afetiva com o idioma italiano, faz participação especial na primeira faixa do disco, Morena Dagli Occhi d’Acqua (Morena dos Olhos D’Água). “Ele estava lá, disposto a compartilhar um momento na música. Era sua música, mas, de alguma forma, ele me deixou sentir que, naquele momento, era a nossa música. A grande lição. Isso é como um poeta e um generoso maestro faz.”

Cantoras. Ao lado, Susanna grava, em italiano, obra de Chico Buarque; abaixo, Estrella canta autores brasileiros em espanhol Foto: Fabio Motta|Estadão

  Esse disco com 12 faixas, que Susanna carrega para seu universo do jazz – e em que surgem outras belas versões como La Francese (Joana Francesa) –, tem direção musical dividida entre ela e Francis Hime, que a cantora já conhecia como autor e arranjador. Há ainda participações de Cícero e Jaques Morelenbaum. E é com Caro Chico que ela faz pequena turnê pelo Brasil, com shows em São Paulo neste sábado, e dias 14 e 16.

Passado. Encantado há anos pela voz de Estrella Morente, o diretor espanhol Fernando Trueba (ganhador do Oscar de filme estrangeiro por Belle Époque) sonhava em vê-la cantando “algumas joias da música brasileira”. “Mas não se tratava de fazer ‘um disco brasileiro’. Mais um. Este disco é nossa carta de amor à música do Brasil”, escreve ele, no encarte de Amar En Paz, novo disco da cantora, e do qual ele é produtor e assina as versões em espanhol. “Ele vinha amadurecendo esse projeto havia algum tempo e, aos poucos, foi nos envolvendo, nos tornando participantes dessa declaração de amor, desse repertório que ele já tinha tão claro desde o início”, conta Estrella ao Estado.

Ao longo de 13 faixas, que incluem Fruta Buena (Milton Nascimento/ F. Brant), Mañana de Carnaval (Luiz Bonfá/Antônio Maria), entre outras, a cantora faz uma travessia pelo cancioneiro brasileiro, ao seu estilo e com guitarra de Niño Josele. Ela diz que já conhecia alguns clássicos, mas outros descobriu com Trueba. “Tanto no flamenco quanto em outros gêneros musicais, o meu pai, um dos principais criadores de flamenco, Enrique Morente, me ensinou que sempre é preciso ouvir e venerar os clássicos, que é preciso conhecer a história. Conhecer o passado é o que nos permite seguir em frente. Foi ele quem me convidou a conhecer e valorizar Niña de los Peines, clássicos como Manolo Caracol, Pepe Marchena, no flamenco; e, fora dele, Frank Sinatra, Billie Holiday, Camarón, Mozart ou Charlie Parker. Isso facilitou meu caminho para entender Dolores Duran, Pixinguinha e Villa-Lobos.”

O disco traz também canção de Chico Buarque, parceria com Hime, que virou Tras la Puerta. “O Chico, graças a Trueba, é uma pessoa muito próxima a mim, quase familiar, de quem gosto muito.”

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SUSANNA STIVALI Teatro Eva Herz. Livraria Cultura. Conjunto Nacional. Av. Paulista, 2.073. Sábado, às 14h. Grátis. Tom Jazz. Av. Angélica, 2.331. Dia 14, às 21h. R$ 50. Central das Artes. R. Apinajés, 1.081. Dia 16, às 21h.R$ 20.