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'Vinyl', série de Mick Jagger e Martin Scorsese, explora a bruma dos anos 1970

Seriado sobre o rock n' roll vai estrear na HBO no dia 14 de fevereiro; Terrence Winter, de 'Boardwalk Empire', é o showrunner da produção

Por Dave Itzkoff
Atualização:

NOVA YORK - Quando vemos pela primeira vez Richie Finestra, o protagonista do novo drama da HBO Vinyl, sua situação é amarga. É o ano de 1973, e este executivo de uma gravadora famosa, cercado de problemas, interpretado por Bobby Cannavale, perdeu a fé na indústria musical, acabou com toda a sua sobriedade e se encontra numa situação extremamente difícil.

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Entretanto, quando parece ter chegado ao fundo do poço, Richie vislumbra uma nova inspiração não muito longe da degradada interseção do centro de Manhattan, aonde foi comprar cocaína: um estridente concerto de rock no Mercer Arts Center, de uma promissora banda chamada New York Dolls. 

Não por acaso, desde os minutos iniciais, Vinyl, uma mistura de realidade suja, de nostalgia da Nova York dos anos 70 e a trilha pulsante de um rock 'n' roll, se assemelha a um filme de Martin Scorsese. O cineasta várias vezes premiado pela Academia, é um dos produtores executivos da série, e dirigiu seu episódio piloto de duas horas de duração.

Cena de 'Vinyl' Foto: Cena de 'Vinyl'

Se este pedigree for insuficiente para uma narrativa sobre mau comportamento, crises existenciais e o poder redentor da música, Scorsese conta com Mick Jagger, o cantor dos Rolling Stones e produtor executivo na série que estreará no dia 14 de fevereiro.

Com um elenco que inclui Olivia Wilde, Ray Romano e Juno Temple, e uma estética que mescla personagens de ficção com atores que interpretam astros da música na vida real (como David Bowie, Elvis Presley e Lou Reed), a série é ambiciosa, cara e - para a equipe de criação - é a proposta mais próxima seguramente a uma reunião do Led Zeppelin.

Como disse Terence Winter, seu showrunner (misto de roteirista, produtor e diretor), quando foi convidado para participar do projeto: "Lembro que pensei: 'Tudo bem, Martin Scorsese, Mick Jagger, Rock 'n' roll. Não importa o que seja - não poderia deixar de ver isto".

Para a HBO, que agora é a rede de Game of Thrones, Sesame Street, Jon Stewart e Bill Simmons, Vinyl é uma importante contribuição à sua lista de produções: uma maneira de manter pessoas como Scorsese e Jagger em seu acervo de talentos, e proteger-se contra a invasão das concorrentes a cabo como Showtime e os serviços de streaming como Netflix, que estão preparando séries próprias sobre os anos 70. 

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Para ser um sucesso, Vinyl terá de cumprir as promessas do seu argumento sexy e dos seus produtores superstars. E terá de encontrar uma narrativa coerente, convincente para uma ideia profundamente sincera, embora abstrata, a respeito de como a música definiu a vida das pessoas daquela época.

Como Scorsese explicou no início do mês na coletiva à imprensa da Associação de Críticos de Televisão, ter crescido com o rock 'n' roll significa que "você vê a vida ao seu redor representada ao som daquela música". 

"O objetivo de Vinyl", ele disse, é "que a música se torne parte da narrativa, mas toda a narrativa é como uma peça musical".

Para Scorsese, a música é um elemento persistente em suas obras de ficção, bem como seus documentários sobre rock como The Last Waltz (sobre a The Band) e Shine a Light (sobre os Rolling Stones).

Concentrando-se nos anos 70 em Vinyl, Jagger explicou numa entrevista, as cenas poderão descrever uma época emocionante, incerta na música, quando uma cidade em declínio constituía um cadinho para que se fundissem punk, disco e hip-hop.

"Nova York estava quebrada" ele disse. "Havia muita pobreza, um monte de gente rica e muita disparidade - todas estas cenas desenrolando-se contra um pano de fundo de imagens da cidade bastante brutais e sujas".

E Jagger acrescentou: "Tinha esquecido daquelas roupas bobas. Algumas ridículas, e algumas marcantes".

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O processo levou um ano para atingir este ponto com Vinyl, que foi planejado como filme, intitulado The Long Play, que Scorsese e Jagger vinham elaborando desde pelo menos 2000, e que acompanharia os personagens da indústria da música ao longo de várias décadas e de eras culturais.

Winter, produtora ganhadora do Prêmio Emmy com The Sopranos e showrunner de Boardwalk Empire foi um dos roteiristas que trabalharam no Long Play. Mas em 2008, disse: "A economia mundial entrou em crise, e de repente o telefone parou de tocar".

"O estúdio dizia: 'Talvez não seja este o momento de fazer um filme épico de três horas de época' ", disse Winter, que também fez o roteiro de O Lobo de Wall Street para Scorsese.

Mick Jagger na premiere de 'Vinyl', em 15 de janeiro de 2016, em Nova York Foto: REUTERS|Eduardo Munoz

Inspirando-se em Broadwalk Empire, o dispendioso filme de gângsteres sobre a época da proibição para a HBO (que foi teve cinco temporadas e conseguiu de 2 a 3 milhões de telespectadores por episódio), Winter reformulou o projeto sobre rock como um piloto para TV a cabo.

Para o papel principal, Richie Finestra, o angustiado presidente da American Century Records, os produtores contactaram Cannavale, vencedor de um Emmy por sua interpretação de um mafioso, Gyp Rosetti em Boardwalk Empire.

Cannavale, astro da Broadway e do cinema, se tornara amigo de Scorsese durante Boardwalk Empire.

Numa das primeiras sessões de leitura do roteiro, quando interpretava uma das cenas cada vez mais violentas de Rosetti, Cannavale lembrou: "Marty começa rindo - rindo, rindo, rindo".

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Quando Rosetti espancou outro personagem até a morte na cena, Cannavale disse a Scorsese "a perdeu - ele estava chorando e rindo ao mesmo tempo e batia na minha perna".

A preparação de Cannavale para Vinyl foi mais cara e pessoal, e incluiu sessões com o gerente de talentos, Danny Goldberg (que interpretou artistas como os Beastie Boys e Nirvana); as aulas de guitarra com Lenny Kaye, um dos fundadores do Patti Smith Group; e muito tempo conversando com Scorsese, que ajudou a montar o personagem Richie.

"Ele me disse: 'você é um grande cara, e colocou suas mãos em muitas pessoas", lembra Cannavale. "Toda vez que eu me aproximava dela, podia perceber que ele se retraia um pouco Ele disse: 'Quero que você mantenha isto. Quero que Richie seja assim".

Wilde, veterana dos programas de TV como House e The O.C., também procurou inspiração para a sua personagem, Devon, que é a esposa de Richie e participante do cenário artístico outrora decadente de Nova York.

Em conversas com os produtores de Vinyl, Wilde comentou: "Já sou fã. Mas para assinar um contrato, preciso saber se vocês não irão me pedir para ser a esposa sofredora. Quero ter certeza de que o personagem tem algo mais".

Wilde disse que estava satisfeita não só com a história de Devon, uma ex-musa e confidente de Andy Warhol, mas também com a abertura e a colaboração dos produtores.

Os outros intérpretes pareciam felizes pela oportunidade de se verem recriados com lapelas largas e barbas abundantes.

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Romano, o astro cômico de Everybody Loves Raymond, que faz o papel do sócio de Richie na gravadora, Zak Yankovich, disse que quando mostrou a fita com seu teste a Scorsese, a resposta foi: "Ele nunca ouviu falar de você".

No entanto, prosseguiu (desde então ele apareceu em programas como Parenthood e Men of a Certain Age): "Acabou sendo fantástico. Ele não tinha ideias preconcebidas a meu respeito". / Tradução de Anna Capovilla

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