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Último concerto da temporada de 2014 da Osesp faz mergulho no primitivismo

Apresentação tem composições de Arvo Pärt e Carl Orff

Por João Marcos Coelho
Atualização:

Os dois compositores programados para o concerto final da temporada 2014 da Osesp mergulharam fundo no primitivismo, fazendo misturas pessoais de música medieval, cantos populares, influências modais, além de técnicas repetitivas se equilibrando entre uma simplicidade excessiva, mas conveniente para sugerir arquétipos, fundamentos da condição humana. A introdução de detalhes denunciando terem sido compostos no século 20 completa quadros de relativa estranheza e, ao mesmo tempo, de sonoridades confortáveis.

Marin Alsop. Uma boa condução da orquestra 

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Arvo Pärt ocupou a primeira parte com duas obras relativamente curtas: a primeira, Mein Weg, para pequeno grupo de cordas e percussão, é um minimalismo aculturado ao leste europeu, com toques místicos; na segunda, escancara-se a religiosidade num Salve Regina, para coro e orquestra. Aqui, Pärt avança em sua técnica “tintinnabuli” de explorar as sonoridades inspiradas nos grandes sinos de igreja medievais. Duas execuções muito boas, de obras que pouco oferecem de dificuldade.

Na segunda parte, sexo, álcool... e música fácil. Estes são os eixos de Carmina Burana, a cantata cênica mais conhecida e executada no mundo inteiro desde sua estreia em 1937, em Munique. Composta por Carl Orff, foi seu passaporte para virar figura proeminente no mundo artístico do 3.º Reich. O staff oficial não gostou de crianças cantando versos falando do ato sexual. Mas, como escreveu na ocasião o crítico Abraham Skulsky, a cantata é “leve demais... nem suficientemente primitiva nem suficientemente moderna: é algo entre as duas condições”. Como agradou demais ao público, foi aceita pelo regime.

Hoje em dia, é mais útil avaliar como Orff soube combinar elementos bastante heterogêneos em estruturas musicais simples, repetitivas, com pulso regular agigantado pelo arsenal percussivo e o fortalecimento dos metais. A pá de cal foi a escolha dos textos em latim, alemão e francês do século 13, mexendo com temas atávicos, falando com franqueza sobre natureza, bebida e sexo.

A orquestra e os três corais da casa não tiveram dificuldades para uma execução limpa, bem conduzida por Marin Alsop. Orff reservou os maiores obstáculos aos solistas vocais. Eles cantam praticamente o tempo todo no limite agudo das vozes. Torna-se assim impossível esconder do público o esforço. O baixo Lício Bruno e o tenor Luciano Botelho conseguiram ultrapassar estes perigosíssimos passeios pela região superaguda. 

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