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Tame Impala funde Bee Gees e psicodelia em terceiro disco

Banda australiana lança mais ousado álbum da carriera meteórica e se aproxima do pop

Por Pedro Antunes
Atualização:
Tame Impala toca no festival Governors Ball, em Nova York Foto: Krista Schlueter/The New York Times

Por mais bobagem que seja, o terceiro disco diz muito sobre uma banda. É o vai ou racha. Chegue lá ou guarde seus instrumentos e vá procurar outro ofício. A insistir em um quarto álbum, depois de uma terceira e fracassada tentativa, é uma vagarosa caminhada ladeira abaixo. Encaixar um trio bem-sucedido, por sua vez, garante uma vida musical tranquila por alguns anos. Difícil encontrar uma banda de rock capaz de entregar uma trinca de álbuns tão surpreendente quanto os australianos Tame Impala. 

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O rock citado aqui é só um termo para localizar o leitor que ainda não tenha ouvido o trabalho concebido por Kevin Parker. O músico, que idealizou o projeto desde o estágio embrionário até agora, quando o terceiro álbum é lançado, consegue extrapolar da bolha indie e, aos poucos, aproxima-se de uma popularidade de massa.

Em cinco anos, Parker tirou o Tame Impala da cidade australiana de Perth e o levou para o mundo. O que era um projeto idealizado e realizado por ele, na solidão do seu quarto, ganhou aos poucos os blogs especializados em música alternativa. Tornou-se rapidamente a banda a liderar o movimento neo-psicodélico. 

As canções viajantes caíram no gosto de um público bastante específico na segunda metade dos anos 1960, de Beatles a The Birds, passando por Grateful Dead, Jefferson Airplane, Cream, Doors Pink Floyd (nos primeiros discos, antes de pegar a onda progressiva). O retorno do gênero em uma escala maior tem um responsável direto – e esse é Kevin Parker. 

Em contrapartida, enquanto o mundo entendeu e passa a explorar essa maré de “guitarra psicodélica 2.0”, Parker colocou o instrumento no fundo da pancada sonora. Em Currents, são os teclados os protagonistas do Tame Impala. 

O líder da banda conta que a inspiração para o trabalho veio quando dirigia pelo deserto e o trio Bee Gees começou a tocar na rádio. Tomado por aquele espírito da disco music, Parker decidiu mudar drasticamente o já bastante revolucionário som do grupo, estabelecido nos experimentais Innerspeaker e Lonerism. O único e mais evidente resquício da sonoridade anterior está em Disciplines, canção escondida no meio do disco de 13 faixas. Lá, as guitarras ainda ditam as regras, comprimidas e texturizadas, com seus chiados característicos. Mas a faixa, de 1 minuto e 49 segundo de duração, só não é menor do que a instrumental Gossip, de 55 segundos. 

Inegável que o Tame Impala já gozava de certo endeusamento no meio underground, por críticos e fãs, mas Currents leva a banda a outro patamar. A revista norte-americana Rolling Stone, por exemplo, citou a banda na capa – o que é um feito considerável para bandas fora do mainstream e estrangeiras. 

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Currents é o melhor disco do Tame Impala? Talvez seja a mais dura das perguntas, por se tratar de impactos diferentes. Innerspeaker, de 2010, foi um baque tão grande quanto Lonerism, lançado dois anos depois. O ruído do disco de estreia ganhou refinamento. Perguntava-se qual direção Parker tomaria depois de estabelecer um nível tão bom com o segundo disco. E ele inverteu o jogo. Trouxe sua psicodelia para o pop de Bee Gees. Há um quê de Prince também. Mas nenhuma das referências vai saltar aos ouvidos de forma gritante.

Parker é mestre em criar uma vibração própria para suas canções. É, hoje, um dos poucos a ter a capacidade de buscar referências no passado e olhar para frente, ao mesmo tempo. Currents, terceiro acerto em três tentativas de Parker, chega para assegurar que o Tame Impala terá vida longa – ainda bem. 

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