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Soprano americana June Anderson celebra aposentadoria dos palcos

Artista está no Brasil para ser jurada do Concurso Brasileiro de Canto Maria Callas

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Por Redação
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“Eu sou muito mais feliz desde que abandonei o canto.” Não é algo que se espera ouvir de um cantor, ainda mais de uma soprano que, nos últimos 20 anos, esteve nos principais palcos do mundo, onde construiu uma carreira de exceção. Mas é com um sorriso no rosto e muito bom humor que a norte-americana June Anderson relembra sua trajetória. “Eu comecei a cantar para mostrar às pessoas que era capaz de triunfar, de ter uma carreira. Mas devia ter sido menos teimosa.” June Anderson está no Brasil desde o início da semana como jurada do Concurso Brasileiro de Canto Maria Callas. No domingo, foi homenageada no Theatro São Pedro, onde amanhã participa do concerto dos premiados do evento. Ao todo, foram 110 candidatos. “O que eu procuro em um jovem cantor é aquilo que não pode ser ensinado. A musicalidade, um senso natural de fraseado. Mas é curioso que minhas escolhas não costumam ser a de jornalistas ou empresários que integram o júri”, ela diz. “Tudo hoje tem a ver com o mercado, com a maneira como se vende um cantor. Eu tenho certeza de que se estivesse começando hoje, não teria jamais uma carreira.” Nascida em Boston, ela se preparou para ser bailarina, mas problemas físicos a afastaram da dança. Quando soube que seria uma cantora? “Cantar era algo que eu fazia bem. Mas eu pretendia estudar direito. Até que um namorado me disse: por que não tentar a música antes? Eu tentei. Muitas pessoas então me disseram: desista, volte para casa, tenha filhos, uma perua na garagem. Precisei provar que eu podia. E de repente me vi presa em uma rede. Pensei em largar tudo algumas vezes, mas seria um desastre financeiro se o fizesse.”

Carreira. Boas lembranças pelos trabalhos com Bernstein Foto: Nilton Fukuda|Estadão

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June deixou os palcos em 2014. Mas, aos 63 anos, mantém-se próxima da música. “Eu vou mais a concertos, ouço o rádio. Mas desligo quando alguém começa a cantar.” Por quê? “Porque eu só quero ouvir se for bom”, explica. Também começou a estudar viola. É um instrumento de som mais grave. “Eu não queria nada que se parecesse com a voz de uma soprano”, ela justifica, rindo. Seu repertório sempre esteve ligado a autores como Donizetti, Rossini, Bellini. “É preciso respeitar sua voz. Eu ouço uma cantora de 22 anos cantando Tosca e penso: isso é triste, quando ela tiver 35 ou 40 anos, terá desaparecido. Quem dá o trabalho aos cantores não está preocupado com isso. Agentes são parasitas profissionais. Quando um cantor estiver estragado, eles arranjam outro.” Cabe, portanto, ao artista conhecer seu instrumento. E investir nele. “Isso também significa ir além da técnica. Com 17 anos, o cantor entra no conservatório e não estuda mais nada. A voz leva ao texto, é preciso conhecer literatura, história, poesia.” Entre os maestros com quem trabalhou, a lembrança mais carinhosa é a de Leonard Bernstein. “Eu trabalhei com maestros que diziam: cante e eu te acompanho. Isso é frustrante. Mas Bernstein não se sentia ameaçado pela troca de ideias, gostava de fato de fazer música, o que é muito raro no mundo da ópera.” A pergunta, então, é inevitável: ela faria tudo de novo? “Não. Uma vez o tenor Jon Vickers me disse: você não foi feita para esse mundo. Ele tinha razão. Mas eu precisei, o que é meio perverso, me afirmar e seguir adiante. Eu era tímida, introvertida, adorava ensaiar. Mas odiava estar no palco. Passei boa parte da minha vida infeliz. Não cantar é maravilhoso.”  

'La Bohème' abre temporada lírica do Municipal O Teatro Municipal de São Paulo abre hoje (30) sua temporada lírica com a ópera La Bohème, de Puccini. A produção é a mesma apresentada em 2013 pelo teatro, dirigida por Arnaud Bernard (a remontagem é assinada por Julianna Santos), quando venceu importantes prêmios.  Minimalista, a concepção constrói um ambiente onírico para narrar a história de amor trágico dos jovens Rodolfo e Mimi na Paris do século 19. A direção musical será do maestro residente do Municipal Eduardo Strausser, que comanda a Orquestra Sinfônica Municipal em todas as récitas, que ocorrem ainda nos dias 1º, 3, 4, 6, 7 e 8 de maio.  No elenco, revezam-se nos papéis de Rodolfo e Mimi os tenores Ivan Magri e Fernando Portari e as sopranos Cristina Pasariou e Maija Kovalevska. Participam ainda Mattia Oliveri, ZhengZhong Zhou, Mihaela Marcu, Anna Maria Sarra, Patricio Sabaté, Mattia Denti, Murilo Neves e Matteo Ferrara.

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