Robert Plant e a ascensão sem o Zeppelin

Cantor lança novo álbum 'lullaby and ... The Ceaseless Roar', seu primeiro com inéditas desde 2005

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Por Redação
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“Estou sempre num estado de constante mutação, acho”, disse Robert Plant, depois se corrigiu. “Espero.” Plant, 66, falou por telefone de sua casa no Shropshire, Inglaterra, a respeito do seu novo álbum, lullaby and ... The Ceaseless Roar (pelo selo Nonesuch), que saiu nesta terça-feira, 9. Este é o primeiro álbum de Plant com canções novas de sua autoria desde o lançamento de Mighty Rearranger, em 2005.

Trata-se do trabalho de um músico que - depois de alcançar o estrelato no arena rock, quando ele era o vocalista líder do grupo Led Zeppelin, de cabelos dourados, que gemia, uivava, para depois embarcar numa longa e variada carreira solo - seguiu com determinação os seus instintos e impulsos em vez de caminhos mais claramente comerciais. “Toda vez que gravo um disco”, ele disse, “preciso achar um tempo enquanto estou absolutamente enlouquecido de trabalho”. Em suas novas músicas, estilos como o americano, celta, africanos e do Oriente Médio recebem uma reestruturação tecnológica porque o álbum transforma e reconfigura elementos que fazem parte da produção artística de Plant desde os anos 60. O suingue da música hipnótica atual mistura blues e country, enquanto loops e programação se mesclam com banjo, guitarras elétricas, sintetizadores e o violino da África Ocidental de uma única corda.

Robert Plant em Londres Foto: Joel Ryan/Invision/AP

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“Tive muita sorte de estar apaixonado e ligado em tantos gêneros diferentes”,” disse Plant. “Para mim, não tem nenhum problema roubar um pouquinho aqui e outro ali, ser seduzido por estas diferentes formas e então fundi-las”. Plant não parou de trabalhar desde 2005. Em 2007, lançou Raising Sand; o álbum, em que canta com Alison Krauss, inspirado em um repertório de preciosidades americanas, lhe permitiu voltar à lista dos 10 mais e ganhar os principais prêmios Grammy. Fez turnês com Alison, depois com seu próprio grupo americano, Band of Joy, e com os Sensational Space Shifters, do qual participam músicos britânicos e um griot (contador de histórias) de Gâmbia na África Ocidental.

Plant voltou a integrar o Led Zeppelin em apenas um show na arena O2 em Londres; houve milhões de fãs querendo um ingresso. Celebration Day, o filme de 2012 e o álbum que documenta o show, ganharam o Grammy de melhor álbum de rock. Mas Plant continuou recusando novas associações com o Zeppelin, com o desagradável episódio público de Jimmy Page, que tocou guitarra e escreveu músicas do Led Zeppelin com Plant. O cantor planeja uma turnê mundial para 2015 com o grupo Sensational Space Shifters.

Em lullaby and ... The Ceaseless Roar, Plant canta frequentemente com uma voz irreal, capaz de sustentar tons altíssimos, andrógina, equilibrada entre serenidade e dor. O álbum começa e acaba com versões muito diferentes de Little Maggie, uma canção folclórica da região dos Apalaches que fala de amor não correspondido e separação. Uma delas mistura o dedilhado de banjo com instrumentos africanos; e a outra, toda rodopios e estrondos com música eletrônica para dançar, um ritmo em seis batidas e a voz exultante do griot Juldeh Camara cantando Abaden!, termo da língua fulani que significa, segundo Plant, “vamos dar tudo o que temos para a gente se divertir”. Há também músicas que meditam sobre o amor terreno e transcendental. Em Embrace Another Fall, com sua voz calma entre tambores, um riff pizzicato num alaúde africano e tons eletrônicos distantes muito altos, Plant canta "To you I bare my soul/My summer’s almost gone". “Eu sei cantar o amor, porque o amor é uma montanha russa constante”, disse o cantor. “Não precisa ser de verdade. Basta vê-lo como uma coisa maravilhosa, destroçado, solitário e ocasionalmente capaz de unir. Sinto a necessidade de amor, e também sinto o desespero, então junto os dois”.

Escrevendo as canções, “eu me senti bastante vulnerável”, confessa. “Não sei se essa é a palavra certa. Eu me senti exposto, mas senti que tinha de fazer alguma coisa para mim em vez de escrever sobre situações imaginárias e romances de estranhos”. Foi necessário o estímulo de uma gravadora para Plant voltar a escrever. A banda e a música vinham em primeiro lugar. Depois de excursionar com a Band of Joy, que incluiu os compositores Patty Griffin e Buddy Miller, Plant retornou à Inglaterra e voltou a trabalhar com Justin Adams, um guitarrista cosmopolita imerso na música do Oriente Médio e da África, que era o centro da banda de Plant Strange Sensation de 2001 a 2007. No meio tempo, Adams fez parceria com Camara, o griot de Gâmbia, e com o baterista Dave Smith. Com outros membros da Strange Sensation, em 2012, eles se tornaram os Sensational Space Shifters e começaram uma turnê mundial com “nada para promover”, conta Plant achando graça.

Robert Plant em Londres Foto: Joel Ryan/Invision/AP

Adams descreveu Plant como líder e catalisador: “Não que ele tenha aprendido uma enorme quantidade de complexa teoria musical com todos estes anos de experiência. Mas aprendeu muito sobre como administrar climas complexos. Ele consegue criar uma atmosfera em que de repente pode explodir um relâmpago. Na música de parceria, muitas vezes não se trata de escrever e compor de maneira cuidadosa, esse tipo de coisa. É mais o espírito do momento, quando as coisas se juntam num instante fulgurante. Ele é especialista nisso”. Na turnê, Plant cantou blues e músicas antigas do Led Zeppelin e dos seus álbuns solo; em cada show, a banda criou improvisos novos em estilos diferentes , com “voltas e mais voltas num verdadeiro caos físico”, acrescentou. Ficou tão entusiasmado que convidou David Bither, vice-presidente sênior da Nonesuch, para assistir a um concerto extraordinariamente barulhento na Cidade do México. “Ele disse: ‘É uma música surpreendente, mas onde estão as novas canções?’ Eu estava tão entretido me divertindo, que não pensei em criar material original”. 

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De volta à Inglaterra depois da turnê, Plant reuniu a banda preocupado apenas em compor. Ouviu gravações de shows e recolheu pedaços de músicas de momentos espontâneos no palco e de membros da banda que trabalhavam por conta própria. Daí, disse Adams, Plant optou por estruturar o álbum “na forma de colagem, que combina com a maneira como a tecnologia trabalha”. E prosseguiu: “Com a tendência de pinçar temas daqui e dali ficou feliz por trabalhar com tecnologia numa espécie de jogo de cortar e colar”. Em junho, o Led Zeppelin lançou versões novas, remasterizadas e ampliadas dos seus três primeiros álbuns, supervisionadas por Page, seu produtor original. Embora Page estivesse profundamente envolvido no projeto, o baixista do Led Zeppelin, John Paul Jones, e Plant também mergulharam na música que haviam feito em conjunto: “Todos nos dedicamos a juntar fragmentos daqui e dali”, disse Plant.

Ouvindo agora como ele cantava há 40 anos, com o Led Zeppelin, é “como visitar um velho amigo, coisas que esquecemos que eram fundamentais para nós”, prosseguiu. “Evidentemente, como vocalista, naquela época eu estava aprendendo meu ofício. Era um Robert Plant diferente do de agora, o que é bom. É como deveria ser. Sempre em frente”. / Tradução de Anna Capovilla

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