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Regida por Heinz Holliger, Osesp encanta com repertório-síntese

Concerto da orquestra teve Thomas Zehetmair como solista do violino, que revelou domínio de uma partitura complexa

Por João Marcos Coelho
Atualização:

A orquestra e a música concertante do século 20 em 90 minutos. Este bem que poderia ter sido o título do concerto de quinta-feira, 26, da Osesp, com Heinz Holliger na regência e Thomas Zehetmair ao violino solista. Alguém deve se lembrar de uma série de livrinhos-bulas de anos atrás que pretendia explicar neste exíguo tempo até filósofos como Wittgenstein.

Ao contrário da filosofia, a música de uma época consegue mostrar-se inteira na duração de um concerto. E que concerto. Madeiras e metais da Osesp em estado de graça, cumprindo com paixão e precisão as exigências maiúsculas das partituras. Percussão e cordas em estado de alerta. E um repertório-síntese – menos xiita, mais amigável – do século 20. Não o óbvio, escolhido por causa da acessibilidade – e sim revelando gemas pouco conhecidas e menos ainda tocadas, mas igualmente sedutoras.

O maestro e compositor suíço Heinz Holliger Foto: Patrick Deslarzes|Divulgação

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A começar com Khamma, a música para um balé que Debussy só aceitou fazer por necessidade financeira. Não cumpriu o prazo, escreveu só 10 páginas da grade de orquestra. Seu editor pediu então a Charles Koechlin que terminasse o trabalho. Ou melhor, fizesse 90% dele, as outras 70 páginas. No final dos anos 1930, ele assinaria um precioso tratado de orquestração. Koechlin, professor de Camargo Guarnieri na Paris de 1938, conseguiu o milagre de capturar o que dizia ser “o inimitável charme debussysta”. Com justiça, Mágico Orquestrador foi o título do CD em que Heinz Holliger, o regente da noite, gravou Khamma e outras orquestrações de Koechlin, como a da fantasia Wanderer, de Schubert (Hanssler, 2012).

Métaboles, peça de 1962 de Henri Dutilleux (1916-2013), soa mais ou menos como um Debussy “aggiornato” para o final do século 20. O compositor a chama de “concerto para orquestra” explorando sucessivamente as madeiras, as cordas e os metais. As cinco partes nascem de deformações dos temas iniciais, formando elos que podem até conter a série de 12 sons. Dutilleux compõe como Debussy: deixando-se levar por seu instinto de prazer sonoro (mantendo, claro, controle total sobre este jogo dificílimo de se praticar). Obra-farol do caleidoscópio contemporâneo.

Ótima a inversão do programa. O concerto nº 2 de Bartók encerrou de modo espetacular a suculenta noitada de música mais próxima de nosso tempo. Zehetmair domina esta partitura tão complexa com facilidade suficiente para transmitir o lirismo em doses exatas, sem açucará-lo demais, até para estabelecer certa continuidade com os trechos mais ríspidos e ásperos. Você pode assistir a este concerto hoje, na Sala São Paulo. E com certeza vai querer ouvi-los de novo, com papéis trocados – Holliger no oboé solista, Zehetmair na regência –, na semana que vem.

OSESP Sala São Paulo. Praça Júlio Prestes, 16, tel. 3367-9500. Sáb. (28) e dia 4/6, 16h30; 5ª (2/6) e 6ª (3/6), 21h. R$ 42/ R$ 194.

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