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Planet Hemp volta à ativa para comemorar 20 anos do primeiro disco 'Usuário'

Banda faz show em São Paulo para celebrar a data

Por João Paulo Carvalho
Atualização:

Em 1995, o Brasil começava a se recuperar de uma de suas maiores crises políticas e econômicas. Um ano antes, em 1994, o Plano Real foi implantado e o País dava claros sinais de que a inflação seria controlada. Após um período bastante conturbado, tudo finalmente parecia entrar nos eixos. Não para aqueles seis jovens do Rio de Janeiro. Marcelo D2, Skunk, Rafael Crespo, BNegão, Formigão e Bacalhau se sentiam amordaçados. Sendo assim, usaram a música para protestar. Com um estilo pioneiro no Brasil, que misturava rap e rock, o sexteto gritou pelas injustiças sociais e a liberação da maconha. Eles apontavam o dedo na cara dos governantes e diziam que aquilo estava distante do cenário ideal.

Vinte anos após o lançamento de Usuário, primeiro disco de estúdio do Planet Hemp, os discursos politizados ainda ecoam pelas periferias das grandes metrópoles. “É difícil analisar se o Brasil evoluiu porque eu já não sou mais o adolescente que era quando escrevi aquelas composições. Mas tenho algumas pistas. O que via, na metade dos anos 1990, eram cidades violentas, uma polícia corrupta, um governo que não ligava para o povo e uma política de drogas super-repressiva e que mandava usuários para a cadeia. Tudo igual. Nada mudou e por isso o álbum continua tão atual”, diz D2, em entrevista ao Estado. Para comemorar os 20 anos do lançamento do disco, o Planet Hemp se reúne para 4 apresentações pelo País. Em São Paulo, a banda toca no Espaço das Américas nesta quinta-feira, 3. Além da capital paulista, eles fazem show em Porto Alegre no dia 4 e no Rio em 18 e 19 de dezembro.

'Legalize já'. Banda carioca deve tocar os clássicos dos 3 álbuns de estúdio Foto: Mauro Pimentel|Estadão

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Diante desse cenário de reconstrução, o Planet Hemp surgiu. Com letras consistentes, ritmos alucinantes e guitarras frenéticas, D2 e BNegão comandavam os vocais. Por onde passavam, arrumavam encrencas. Alguns shows só podiam ser realizados depois das 23h. Em 1997, inclusive, chegaram a ser presos no Distrito Federal, em Brasília, por fazer apologia às drogas durante uma apresentação. “A gente tinha um discurso muito forte na sociedade. O público que assistia ao Fantástico, da Rede Globo, não estava preparado para um discurso tão aberto sobre a maconha. Acho que isso até encobriu um pouco o som do Planet. A banda interferiu diretamente no conceito de liberdade de expressão. Na ocasião, o País vivia uma época em que não se podia falar quase nada”, complementa D2.

Mesmo após 20 anos, Usuário ainda traduz o sentimento de libertação de muitos jovens. Músicas como Não Compre, Plante!, Legalize Já e Mantenha o Respeito, hits do Planet Hemp que certamente estarão nesse show na capital paulista, conquistaram rapidamente o reconhecimento da crítica. As canções, no entanto, falam abertamente sobre a legalização da maconha, uma das bandeiras levantadas pela banda. “O Brasil tem uma bancada extremamente conservadora. Acho que só na época da ditadura nós tínhamos algo parecido. Os que estão ali são religiosos de extrema direita. Isso é assustador. Eu achava que a gente estava caminhando para um lugar diferente. Mas, depois dessas últimas eleições, fiquei um pouco preocupado. Me pergunto se o País tem essa autonomia toda para legalizar a maconha, como ocorreu no Uruguai. Acho que o Brasil só vai legalizar quando o mundo todo fizer isso. A droga é uma questão de saúde pública. Não adianta prender ou matar. Os usuários devem ser tratados como doentes. Só temos mais gente morrendo, mais policial corrupto e violência nas periferias. O fluxo está todo torto. Esse modelo já deixou claro de que algo deu errado”, diz Marcelo D2.

Shows e inéditas. Apesar da extensa carreira, o Planet Hemp, que nunca teve seu fim decretado, tem apenas três discos de estúdio: Usuário (1995), Os Cães Ladram mas a Caravana Não Para (1997) e A Invasão do Sagaz Homem Fumaça (2000). Há ainda o bem-sucedido MTV ao Vivo: Planet Hemp (2001). Sem lançar nada inédito há 15 anos, Marcelo D2, agora com 47 anos e pai de quatro filhos, diz que as idas e vindas da banda foram tão bem recebidas pelo público que não descarta entrar no estúdio logo mais para gravar alguma coisa com os companheiros. “Pretendemos fazer música nova, sim. Acho que um disco é algo muito extenso. Eu não diria um álbum completo. Mas, com certeza, gravaremos coisas. A gente ficou tanto tempo parado. É bem difícil mexer com isso, portanto. Não é uma coisa simples. Se formos fazer alguma coisa nova, tem de valer a pena e ser verdadeiramente bom”, conclui.

Com uma carreira solo já estruturada, BNegão, que lançou em setembro o disco TransmutAção, com o grupo Seletores de Frequência, avisa que a leva de shows pelo País terá algumas novidades, começando pelo set. Além de versões de músicas da Nação Zumbi e dos Ratos de Porão, o Planet Hemp deve resgatar alguns clássicos, como Mão na Cabeça. “Nas últimas apresentações que fizemos, dividimos o show em três atos diferentes. Cada parte fazia referência a um disco da banda. Nesta apresentação, entretanto, a coisa será mais misturada, resgatando clássicos e músicas que não tocávamos há muito tempo, incluindo aí Mão na Cabeça”, afirma BNegão.

PLANET HEMP - Uma música de cada disco

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1) Mantenha o Respeito (Usuário, 1995)

2) Zerovinteum (Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára, 1997)

3) Raprockrollpsicodeliahardcoreragga (A Invasão do Sagaz Homem Fumaça, 2000)

PLANET HEMP

Espaço das Américas. Rua Tagipuru, 795, Barra Funda, 3864-5566. 5ª, 22h30. De R$ 60 a R$ 180.

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