Philippe Bernold encanta com domínio técnico, ao lado da Orquestra Jovem do Estado

Flautista francês brilha em 'La Mer', de Debussy

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Por João Marcos Coelho
Atualização:

A temporada 2016 de concertos em São Paulo bate, com certeza, um recorde. O dos cancelamentos – a maioria provocada pela alta do dólar, a crise econômica e os inevitáveis cortes nos orçamentos. A Osesp brilhou neste quesito. Não vimos, como esperávamos, um punhado de grandes atrações. A síndrome espalhou-se. O Teatro Municipal de São Paulo cancelou montagens no segundo semestre e já convive com uma crise de proporções imprevisíveis.

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Por vias indiretas, a Orquestra Jovem do Estado também teve de conviver com importantes cancelamentos em seu concerto de sábado passado, dia 21, na Sala São Paulo. Bruno Mantovani, regente convidado – dublê de maestro e compositor, além de diretor do Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris –, comandaria um concerto com repertório exclusivamente francês do século 20, com a orquestra reforçada com 12 alunos da célebre escola. Ninguém veio, por causa dos atentados terroristas do EI dias atrás, que abalaram Paris e a França inteira.

Cláudio Cruz, diretor musical e maestro titular da Orquestra, substituiu Mantovani com a competência habitual. Mas, visivelmente, a situação de emergência provocou uma performance alguns furos abaixo da excelente temporada que o grupo vinha fazendo ao longo deste ano.

Veio, entretanto, o flautista francês Philippe Bernold, professor de flauta e música de câmara do Conservatório de Paris e solista convidado para o concerto de flauta de Jacques Ibert (1890-1962). Ibert banhou-se nas águas tranquilas do neoclassicismo francês do entreguerras, salpicado com tinturas impressionistas e algumas tímidas ousadias harmônicas mais modernas. Assim, sua música soa sempre agradável, apesar de asperezas civilizadas aqui e ali.

Escales, para orquestra, é a outra obra que ainda frequenta as salas de concerto, ao lado deste belo concerto para flauta, com um Andante central de enorme beleza, emoldurado por dois saltitantes Allegros. Bernold encantou com seu domínio técnico do instrumento, mas a orquestra em certos momentos não lhe deu o suporte ideal

Seu extra, a célebre peça solo Syrinx, de Claude Debussy, instaurou o clima para a segunda peça, La Mer, obra-prima do século 20. É música que nasce da “misteriosa harmonia da natureza e da imaginação” na expressão de Debussy, que, claro, não quer representar programaticamente o mar. Ao contrário. É como se o som nascesse da natureza e se desdobrasse com o ritmo dos movimentos do mar. Há nestas três partes, que ele chamou de “esboços” sinfônicos, momentos incríveis, como o vento e o mar se encontrando (o primeiro cromático, o segundo diatônico). Tudo muito refinado, sensual. A orquestra deu-se melhor, apesar de um ou outro deslize nos sopros.

O Bolero de Maurice Ravel encerrou o concerto em clima de festa para uma execução apenas correta.

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