PUBLICIDADE

Paulinho da Viola: o samba vestido com fineza

Em novo show, ele canta temas seus e de outros autores, como Ary Barroso e Zé Kéti

Por Lucas Nobile
Atualização:

Há um abismo tremendo entre a saudade e o saudosismo. Paulo Cesar Batista de Faria inunda-se da primeira e repudia o segundo ao olhar para o passado, principalmente quando se trata de parentes, amigos e pessoas amadas. Outro dia mesmo fechava os olhos e via um encontro entre seu pai - o violonista Cesar Faria, do lendário conjunto Época de Ouro, e que morreu há três anos - e sua avó, também já falecida.

 

PUBLICIDADE

Atendendo por Paulinho da Viola, desde 1965, quando ganhou o apelido de Sérgio Cabral durante a gravação do disco Roda de Samba, com o grupo A Voz do Morro, sete anos depois de ter sua vida retratada no documentário Meu Tempo É Hoje, Paulinho se apresenta em São Paulo a fim de reparar injustiças do passado.

 

"No filme eu digo que não sinto saudade, mas é mentira. Tudo o que a gente viveu e não viveu está na gente. É normal falar do passado, mas sem saudosismo. Eu sinto saudade do meu pai, da minha mãe, da minha avó, minha bisavó, minha madrinha, meus amigos. Com a música é a mesma coisa, a vida não volta para trás, por isso a gente tem que cantar o que gosta, o que tem vontade", diz.

 

Esse cantar aquilo que se tem vontade se justifica pelo roteiro traçado por Paulinho para as seis apresentações que fará no Teatro Fecap. Depois de três anos em turnê com o disco Paulinho da Viola - MTV Acústico, o compositor fará shows inéditos, mas não muito elaborados em termos de produção, interpretando 18 músicas, entre temas seus e de outros autores. "Eu me senti atraído pelo convite, de fazer o show em um lugar menorzinho, gostoso, aconchegante, mas tivemos pouco tempo de preparação. Seria legal se eu tivesse um projeto absolutamente novo, como foi o acústico. Mas tivemos de fazer um roteiro mais simples, juntando coisas que nunca foram gravadas com algumas que eu já canto e outras que fazia tempo que eu não cantava", explica Paulinho.

 

Coração batendo em azul e branco, o sambista, ao longo de sua carreira, sempre registrou composições dos amigos e bambas da Portela, como Manacéa, Casquinha, Argemiro e Jair do Cavaquinho e ainda se encanta com a possibilidade de um dia gravar um disco inteiramente dedicado aos compositores da escola de Oswaldo Cruz. Por enquanto, no repertório deste espetáculo, ele incluiu alguns temas de portelenses, como Lenço (Monarco e Chico Santana), Chega de Padecer (Mijinha) e Peregrino (Toninho Nascimento e Noca da Portela).

Além desses, com uma formação menor do que a da turnê anterior, desta feita acompanhado por Cristóvão Bastos (piano), Mario Feve (sopros), João Rabelo (violão), Dininho (baixo), Hércules Nunes (bateria) e Celsinho (pandeiro), Paulinho cantará suas elegantes maravilhas, como Quando Bate Uma Saudade, Ame (parceria com Elton Medeiros), Obrigado Cartola (samba-enredo feito com Hermínio Bello de Carvalho para um interrompido musical) e Canção para Maria (com José Carlos Capinan). "Essa música com o Capinan foi registrada por mim em um compacto simples. Eu mesmo tenho um só, ninguém tem, nem amigo nem colecionador."

No meio da conversa, com memória infalível, Paulinho lembra uma de suas grandes paixões. Barbosa, Augusto, Rafanelli, Eli, Danilo e Jorge; Djalma, Maneca, Ademir, Ipojucan e Chico, time do Vasco que formava a base da seleção brasileira na virada da década de 1940 para a de 1950. Tudo para explicar que não terá problema algum em cantar Botafogo, Chão de Estrelas, parceria sua com Aldir Blanc em homenagem ao sambista Walter Alfaiate.

Publicidade

Em relação a temas de outros autores, Paulinho interpretará Primeiro Amor, de Ary Barroso, Portela Feliz, de Zé Kéti, Tudo Foi Surpresa, de Peterpan e Valzinho, e a nostálgica e maravilhosa Não Te Dói A Consciência, de Nelson Cavaquinho, Ary Monteiro e Augusto Garcez. Oportunidades boas para vestir a roupa mais fina que se tem diante da elegância única dos sambas e da voz de Paulinho da Viola.

 

Paulinho da Viola - Teatro Fecap. Avenida Liberdade, 532, telefone 4003-1212. Sáb., às 21 h, e dom., às 19 h. R$ 150 (R$ 75, meia). Até 17/10.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.