PUBLICIDADE

Osesp encerra gravação de Villa-Lobos e promove festival para mostrar as várias facetas de sua obra

Orquestra paulista lança caixa com seis CDs dedicados às sinfonias do compositor

Foto do author João Luiz Sampaio
Por João Luiz Sampaio
Atualização:

Sete anos – e centenas e centenas de páginas revistas – depois, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo comemora esta semana a conclusão do trabalho de edição e gravação das 11 sinfonias de Villa-Lobos, que estão sendo lançadas em uma caixa especial com seis discos pelo selo Naxos. E, para marcar a data, o grupo dá a largada em um festival que, até o dia 25, vai mostrar as várias facetas da obra do compositor.

As sinfonias foram escritas por Villa-Lobos em dois períodos: antes de 1920 e depois de 1944 Foto: Acervo Estadão

PUBLICIDADE

“As sinfonias contêm alguns dos movimentos mais incríveis de toda a obra de Villa-Lobos”, diz Arthur Nestrovski, diretor artístico da Osesp. “Vários dos Adágios, em especial, são capítulos à parte, escritos numa linguagem muito original, muito livre, de uma profundidade única – um Villa-Lobos noturno, muito diferente do compositor das Bachianas e dos Choros. Só por isso, o projeto já estaria justificado, mas há muito mais para ser descoberto e apreciado, num acervo de obras que cobre a vida inteira do compositor”, explica ele, definindo a importância do projeto. “Acima de tudo, cabe destacar a importância de se ter planejado e cumprido um projeto dessa dimensão, e nessa escala de tempo. E de se ter feito isto no Brasil, numa instituição de natureza pública. O projeto em si encarna ideais artísticos, culturais e administrativos, que a gente não perde a esperança de ver multiplicados.”

+++ Teatro São Pedro aposta em óperas alternativas em 2018

As sinfonias foram escritas por Villa-Lobos em dois períodos de sua trajetória criativa, antes dos anos 1920 e, mais tarde, depois de 1944. “Muitos autores defendem a ideia de que o gênero, saturado da carga histórica, não se adequava à indisciplina da abordagem musical de Villa-Lobos”, escreve o violonista Fabio Zanon em seu livro a respeito do compositor. “Vendo as coisas em retrospecto, o primeiro impacto do ciclo agora parece justamente o contrário: chama atenção a homogeneidade e o papel secundário exercido por elementos descritivos ou de colorido local”, continua.

+++ Villa-Lobos completa 130 anos como sinônimo de brasilidade

O trabalho de revisão significou ter contato com os manuscritos, tentando decifrar as intenções e anotações de Villa-Lobos quando elas não estavam claras – ou mesmo presentes. Em outros casos, como na Sinfonia nº 2, inclui a busca por páginas que estavam faltando, que levou meses e teve final feliz: após pesquisas em acervos como o Museu Villa-Lobos, as páginas foram encontradas em partitura enviada por engano pela editora Ricordi à Osesp (a encomenda original era da Sinfonia nº 2 de Guanieri).

O trabalho de revisão foi levado adiante pela musicóloga Maria Elisa Pasqualini, coordenadora do Centro de Documentação da Osesp no início do projeto, seu sucessor, Antonio Carlos Neves Pintos, e pelo maestro Isaac Karabtchevsky, que comandou a interpretação, revisão das partituras e sua gravação. Mas não só. “O trabalho de preparar edições compreendia horas de conversa com o maestro, pessoalmente, pelo telefone, analisando, discutindo. E, depois, com os músicos, o processo continuava”, explica Neves Pinto. “É um privilégio poder discutir uma questão de equilíbrio ou dinâmica tendo uma orquestra como a Osesp para testar e ajudar a chegar ao ponto correto. E Karabtchevsky, claro, apresentava sua própria visão ampla, conquistada ao longo da carreira, que lhe permitia tomar decisões com clareza”.

Publicidade

+++ Marin Alsop será regente de honra da Osesp a partir de 2020

A programação do festival mistura as sinfonias a outras obras de Villa-Lobos. Nesta terça, 20, Karabtchevsky rege a Osesp e o Coro da Osesp em Uirapuru, na Sinfonia nº 7 (segundo movimento) e nos Choros nº 10 – Rasga coração. Nos dias 22 e 24, ele reassume a batuta, agora com a Sinfonia nº 1 (primeiro movimento), Sinfonia nº 4 (terceiro movimento) e a Sinfonia nº 6; os segundos movimentos das sinfonias nº 2 e nº 9, a Sinfonia nº 10 (primeiro movimento) e novamente os Choros nº 10

+++ Estagiários encontram partituras inéditas de Villa-Lobos no Rio

A música de câmara é o destaque no dia 21, com o Quarteto Osesp e Fabio Zanon que, ao lado de alunos da Academia Osesp, interpretam os Cinco prelúdios para violão, o Quarteto de Cordas nº 11, o Quinteto instrumental e o Sexteto místico. No dia 23, o Coro da Osesp, a maestrina Valentina Pellegi e o pianista Lucas Thomazinho fazem programa com Rudepoema, Suíte floral e Bachianas brasileiras nº 9 (em arranjo para vozes), de Villa-Lobos; e, de Bach, o Prelúdio e fuga nº 8, em sua versão original, e na transcrição feita pelo compositor brasileiro em 1938. No encerramento, no dia 25, o pianista Marcelo Bratke toca com o Coro Infantil e o Coro Juvenil da Osesp.

DESTAQUESSinfonias Trechos das obras serão apresentados hoje e nos dias 22 e 24, com regência de Isack Karabtchevsky

Villa & Bach O diálogo do brasileiro com a música de Bach será tema de concerto do dia 23

Fabio Zanon O violonista se une ao Quarteto da Osesp e a alunas da Academia da Osesp no dia 24

Publicidade

Marcelo Bratke O pianista vai abordar, no dia 25, ligação de Villa-Lobos com o universo infantil

FESTIVAL VIVA VILLA! Sala São Paulo. Pça. Julio Prestes, s/nº. Tel.: 3223-3966. De terça (20) a sábado (24), às 19h30. Domingo (25), 11 h. Grátis

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.