PUBLICIDADE

O sonho de gravar um CD, a partir de R$ 10

Pequenos estúdios oferecem serviços de gravação e masterização para anônimos, afinados ou não. Os preços vão de R$ 10 por faixa a R$ 25 para um pacote de 5 canções

Por Agencia Estado
Atualização:

Montreal e Mirassol são moradores de rua. Dormem num albergue na Baixada do Glicério, região central de São Paulo conhecida pelo tráfico de drogas e prostituição. Mas a dupla, sertaneja, já tem dois discos gravados: Volta do Boiadeiro, que vendeu 600 cópias, e o recém-lançado Mundo Cruel. Montreal e Mirassol não têm um aparelho de CD para ouvir o próprio trabalho, muito menos gravadora interessada em empregá-los. Mas o sonho de serem famosos fez com que procurassem um estúdio para gravar em CD suas músicas inéditas. Encontraram um que cobra R$ 10 por uma faixa gravada ou R$ 25 por um pacote de cinco músicas. Assim como a dupla, vários músicos amadores têm recorrido aos pequenos estúdios para gravar CDs demo. No caso de Montreal e Mirassol, o trabalho foi feito no estúdio "móvel" Rec-Tec, no Internacional Shopping Guarulhos. O estúdio é, na verdade, uma cabine - que pode ser levada de um local para outro - de cinco metros quadrados, com isolamento acústico e toda parafernália necessária para uma gravação simples. Montreal e Mirassol, respectivamente violonista e violeiro, gravaram o novo CD numa tarde. Tocaram as 12 músicas e saíram do estúdio com o disco, cuja capa estampa uma foto dos dois. Pagaram R$ 60 pela obra - R$ 50 pela gravação e R$ 10 pela capa personalizada. O dono da Rec-Tec, Alaor Rodrigues, explica que não é preciso saber tocar algum instumento para gravar um disco em seu estúdio. Basta saber cantar, porque há 800 playbacks de músicas famosas que, garante ele, são idênticos às gravações originais. Em oito meses de atividade, a Rec-Tec já gravou 4 mil CDs. O negócio deu tão certo que em outubro Rodrigues começa a gravar DVDs para os anônimos. Ele explica como funciona: "Enquanto a pessoa canta dentro do estúdio, oito câmeras filmam seus movimentos. Em seguida, sobreponho a imagem do cantor à de um cenário escolhido por ele, que pode ser praia, campo, deserto ou outras 12 locações". Pelo serviço, ele vai cobrar R$ 35. "Estou vendendo sonhos e também oportunidades. Muita gente leva o CD ao programa Raul Gil e às rádios do interior." Rodrigues acredita que pelo menos 20% dos que passaram pela cabine têm talento para seguir carreira e diz que 40% estão acostumados a cantar em videokês. "Os outros 40% cantam mal demais, mas têm curiosidade e vontade de ser cantor por um dia". O pianista e guitarrista Eduardo Longhitano Navarro acha difícil que um músico seja bem recebido ao apresentar numa casa noturna ou numa gravadora um CD gravado nessas cabines, mas ele próprio fez o seu CD doméstico, Ele Precisa Voltar, e gravou outros 25 em seu próprio estúdio. Os que ele produz, garante, têm qualidade. Dudu, como é conhecido no meio gospel, de onde vem a maioria de seus clientes, cobra R$ 15 por hora de estúdio. O tempo é suficiente para a gravação de uma música, segundo ele. "Uma banda demora meia hora para acertar os intrumentos e outros 30 minutos para gravar." Dudu garante que não deixa os músicos saírem de seu estúdio com um CD feito em 60 minutos. "O resultado não fica bom. É preciso masterizar o som para garantir a qualidade final do produto". Um CD com 10 músicas, masterização e fabricação de matriz (o disco que servirá de base para as demais cópias) pode ser produzido por R$ 1 mil. "É um preço muito acessível, porque em um estúdio grande esse trabalho não custa menos de R$ 20 mil." Mas por R$ 400 os músicos do Cracker Blues, banda paulista de blues, gravaram um CD que vendeu 60 cópias. Os músicos passaram 6 horas no estúdio de gravação e outras 4 masterizando. O disco foi feito para que eles conseguissem agendar apresentações em bares. "Depois dos shows as pessoas passaram a pedir nosso CD e mandamos fazer novas cópias", conta o vocalista e gaitista da banda, Paulo Henrique de Souza Oliveira. O resultado está surpreendendo os integrantes do Cracker Blues, que fizeram o CD demo há três meses e pensam em voltar ao estúdio no meio do ano que vem para gravar um novo trabalho. "Tocamos blues, que não é um ritmo muito popular, não temos divulgação e costumamos nos apresentar nos bares nas noites de segunda e terça, as mais fracas. Não esperávamos vender nem 10 CDs", diz Paulo. O CD da banda foi gravado no estúdio Alchimia. O responsável pela gravação, Cláudio Sanches Vicente, também conhecido como Formiga, diz que nem ele esperava que os rapazes do Cracker Blues fossem conseguir tal resultado. "Eles fizeram a gravação ao vivo, que é a mais simples e barata, mas recorreram à masterização, que ajuda na qualidade final do CD". No Alchimia, cada hora no estúdio custa R$ 25. Formiga diz que é possível gravar e não masterizar o som. "Quem quiser gravar um disco rapidamente pode tentar vendê-lo ou encaminhá-lo para uma gravadora. Não é provável que um CD feito desta maneira sirva de porta de entrada, mas também não é impossível." Alchimia - Rua José do Patrocínio, 463, Aclimação, tel. 5085-0002 e 5082-4109; Dudu Navarro - Rua Soldado Alessio Venturi, 100, Picanço, Guarulhos, tel. 6459-2309 e 9309-1357; Rec Tec - Internacional Shopping Guarulhos, rodovia Presidente Dutra, km 225, tel. 6425-1000.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.