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O feminino no novo disco de Chico Buarque, lançado nesta sexta, 25

Em 'Caravanas', o compositor retoma a figura da mulher em suas canções, mas ela não aparece em primeira pessoa

Por Adriana Del Ré
Atualização:

A presença da figura feminina na obra de Chico Buarque é notória. Inspirou até estudos, como o publicado no livro Sem Fantasia – Masculino-Feminino em Chico Buarque, de Maria Helena Sansão Fontes. Em suas músicas sobre amores – e desamores –, o eu lírico de Chico se alterna entre o ponto de vista masculino e, com extrema sensibilidade, o ponto de vista feminino. Nessa última, há exemplares clássicos, como Olhos nos Olhos, já cantada pelo Chico intérprete, mas que, na versão visceral de Maria Bethânia, demonstra se encaixar com verdade na voz – e na alma – feminina. De arrepiar. 

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Em seu novo disco, Caravanas, que será lançado nesta sexta-feira, 25, Chico acabou reunindo canções em que a figura da mulher surge apenas sob o olhar do homem e não em 1.ª pessoa. Com exceção de Dueto, que ele já havia cantado com Nara Leão e que, no novo álbum, divide os vocais com a neta, Clara Buarque. Nessa canção, o próprio ‘duelo’ de vozes, masculina e feminina, dá vazão a essa dualidade. 

Chico Buarque retoma ainda a mulher inatingível nas faixas A Moça do Sonho (parceria dele com Edu Lobo) e Desaforos. Como explica a autora Maria Helena em seu livro, na primeira fase da obra de Chico, já se observa em algumas canções essa mulher inacessível, como em Madalena Foi Pro Mar, de 1965. De volta ao novo disco, Chico usa as expressões “dama” e “vagabundo” para mostrar essa distância entre os dois personagens em Desaforos: “Alguém me disse/Que tu não me queres/E que até proferes desaforos pro meu lado/Fico admirado por incomodar-te assim/Jamais pensei/Que pensasses em mim”. 

Chico Buarque gravando seu novo disco, 'Caravanas',comCristóvão Bastos ao piano, Jorge Helder no baixo e Jurim Moreira na bateria. Foto:Rodrigo Assad 

O lesbianismo na letra de Blues Pra Bia, apesar da atualidade (e da importância) do tema, também não é novidade na obra de Chico. Estava ali em composições como Bárbara (feita para a peça Calabar) e Mar e Lua (para a peça Geni), talvez de forma mais poética, e menos direta do que em Blues Pra Bia. “Que no coração de Bia/Meninos não têm lugar/Porém nada me amofina/Até posso virar menina/Pra ela me namorar”, ele canta na nova canção. 

Tua Cantiga, música que foi divulgada mês passado, foi apontada como machista, sobretudo por causa do trecho “Quando teu coração suplicar/Ou quando teu capricho exigir/Largo mulher e filhos/E de joelhos/ Vou te seguir”. Como se não fosse machista o homem ficar com família e amante ao mesmo tempo, como o próprio Chico – ou sua equipe, com aval dele, claro – sugeriu em seu Facebook. Jogo de Bola talvez dê mais pano para manga por causa do “vivas às marias-chuteira” em sua letra, que não soa depreciativo, uma vez que está no contexto futebolístico que Chico tanto gosta – e, dentro do qual, sabe-se bem, a expressão não caiu em desuso. Esperemos a reação da turma do politicamente correto. 

Assista ao clipe de 'Tua Cantiga':

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