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No Sesc Belenzinho, diversos olhares sobre o jazz funk

Na terceira edição do Nublu Jazz Festival, em São Paulo, contemporâneo e clássico do jazz e do soul se reúnem

Por Roberto Nascimento
Atualização:

A prolífica encruzilhada entre jazz e soul é a especialidade do Nublu Jazz Festival, que teve neste fim de semana sua terceira edição, em São Paulo. Sobre o palco do Sesc Belezinho, linhagens contemporâneas e clássicas do gênero mostraram abstrações jazzísticas ancoradas na língua franca do funk. 

Pouca atenção foi dada para a vinda dos Headhunters, a seminal banda de jazz fusion liderada por Herbie Hancock, nos anos 70. Afinal, não é sempre que coletivos veteranos, com 40 anos de carreira, são capazes de criar algo que se equipare ao que já ouvimos tantas e religiosas vezes no disco. Não é o caso dos Headhunters, que ainda transpiram o hipnótico DNA africano de seu homônimo disco de 1973, um dos álbuns de jazz mais vendidos de todos os tempos. Foi uma reunião de titãs. Bill Summers na percussão, Mike Clark, na bateria, Paul Jackson, no baixo, Bennie Maupin, no sax. Apóstulos de Hancock e Miles Davis. Autores do evangelho das fusões de jazz com a música de James Brown e Sly Stone. Ao vivo, a banda recria suas faixas mais clássicas, entre o repertório mais recente. Watermelon Man, com a histórica introdução assobiada em uma garrafa de vinho por Bill Summers, foi recriada com a sagaz malemolência de outrora. A elegante figura rítmica que anuncia Butterfly nos transportou para os idos do brilhante Thrust. Os primeiros compassos de Sly convocaram os orixás. Mãe África se fez ouvir em toda a dinâmica dos grooves de Headhunters. No sábado, o pianista Robert Glasper dividiu a noite com o sexteto do baixista brasileiro Marcus Paiva. Depois de composições meditativas e improvisos calcados na tradição modal por Paiva, Glasper subiu ao palco com sua banda The Robert Glasper Experiment, para mostrar uma versão moderna do que os Headhunters e outros começaram há quatro décadas. O saxofonista Casey Benjamin, ostentando um penteado que lembra o comediante Chris Tucker em o Quinto Elemento, cuida do elemento pop da banda, cantando através de um vocoder. Trata-se de um chavão de música eletrônica usado extensamente pelo músico. Em torno disto, Glasper e banda navegam por improvisos e pulsação funkeada. Vez ou outra, não é claro se o Experiment é uma banda de neo soul com frustradas aspirações jazzísticas, ou uma banda de jazz que nasceu para fazer r&b. A justaposição destes universos parece banalizada depois de quatro décadas. O grupo se dá melhor quando se desfaz da simplicidade pop e parte para o virtuosismo, assim como esboça talento quando não complica os grooves com floreios pianísticos. Na quinta-feira, o vibrafonista Roy Ayers, outro veterano, fez um comentado show. Na sexta, o grupo italiano Calibre 35 abriu para os Headhunters, mostrando um ângulo sobrecarregado, com excesso de técnica e ausência de nuance, para o jazz funk.

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