New Order e ex-integrante Peter Hook fazem shows em São Paulo com 5 dias de diferença

Banda liderada por Bernard Sumner se apresenta no dia 1ª, já o baixista fará seu show na cidade do dia 6

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Por Pedro Antunes
Atualização:

Se ter uma banda é o mesmo que manter um casamento, topar com um ex-companheiro de estúdios e shows deve ser como dar de cara com aquele(a) ex na entrada de um restaurante ou na fila para o cinema. É possível sentir o desagrado na voz de Steve Morris, baterista do New Order, ao descobrir que Peter Hook, o ex em questão, estará em São Paulo para uma apresentação com seu grupo The Light apenas cinco dias depois da trupe de Morris, Bernard Sumner, Gillian Gilbert, Phil Cunningham e o baixista (ou “novo Peter Hook”) Tom Chapman. “Ah, é mesmo?”, diz o baterista com o mesmo desgosto que alguém que acaba de saber que o ex está a poucos metros de distância no show daquela sua banda preferida. 

New Order em ação durante o show no Lollapalooza Brasil, em 2014 Foto: Felipe Rau / Estadão

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São anos de companheirismo, desde os tempos de Joy Division, ali no fim dos anos 1970, passando pelo auge na década seguinte até a dolorosa separação. Por fim, resta a mágoa, os processos judiciais e as alfinetadas por meio da imprensa pelos dois lados – veja mais no quadro abaixo. Hook e New Order seguiram em caminhos distintos em 2007, dois anos depois de lançarem um disco, Waiting for the Sirens’ Call, cujas gravações foram complicadas devido as tensões entre o então baixista com o restante do grupo e uma turnê engatada na sequência também cheia de problemas. 

Peter Hook vem a São Paulo com seu projeto de revisitar os discos mais clássicos do Joy Division, banda desfeita após a morte do vocalista e letrista Ian Curtis, e do New Order, grupo formado pelos integrantes do Joy Division. Turnês como essa ele já tem feito há tempos – e costumam ser criticadas pelos antigos companheiros. O show, com ingressos já esgotados, será no dia 6 de dezembro, terça, na casa de shows Cine Joia. 

O New Order, por sua vez, está mais vivo do que há, pelo menos, uma década. Com Music Complete, disco de inéditas lançado no ano passado, o grupo reconquistou o respeito da crítica que já a via como uma daquelas ex-bandas em atividade, sem criatividade para novas músicas, mas ainda dispostas a encher os bolsos apenas com os sucessos do passado. O New Order, na verdade, foi mais esperto do que isso. 

Music Complete é um diálogo com o fino produzido pela banda nos seus anos dourados, quando a presença dos sintetizadores metalizavam o rock outrora gótico e soturno e as batidas mecânicas robotizavam as pistas de dança. Tudo ainda era sombrio, mas ganhava ares futuristas. Em entrevista ao Estado, Morris (o responsável justamente pelas batidas mecânicas e um apreciador do uso de sintetizadores) conta que o primeiro disco do grupo em dez anos nasceu justamente para promover esse encontro. 

Nos anos 1980, o New Order via o futuro do rock a partir de encontro com a estética sintética. Em 2016, ficou provado que eles estavam certos. O rock, desde os anos 1990, soube trazer os elementos eletrônicos, os beats e os samples para seus subgêneros – até a psicodelia inebriante do Tame Impala só existe graças aos sintetizadores e loopings.

De volta a São Paulo para realizar aquele que será o 14º em território nacional, o New Order tem a chance de provar esse salto no tempo ao vivo. A apresentação única no Brasil será realizada no Espaço das Américas, no dia 1º, quinta, às 23h. O Brasil é o 9º maior destino do New Order ao redor do mundo, em número de apresentações por aqui. Após o show da próxima semana, o País deixará de estar empatado com o Japão. “É, pelo visto, somos mais populares no Brasil do que na Bélgica”, brinca Morris, ao saber do número. 

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“Queríamos, mesmo, fazer essa ligação direta entre as músicas novas e aquelas antigas. Isso esteve na nossa cabeça logo no início”, continuou o baterista. “Precisávamos de coisas cruas e dançantes. Definitivamente, esse disco foi mais fácil de fazer do que o anterior”, alfinetou Morris – afinal, Hook já não era responsável pelas linhas de baixo. O New Order, mesmo que sua tríade restante original, Sumner. Morris e Gilbert ainda esteja beirando os 60 anos, ainda é capaz de cantar o amor e as dores da solidão enquanto obriga seus quadris a dançar ao sabor das batidas. 

Questionado sobre um possível encontro com Hook pela cidade durante a sua estadia, Morris foi irônico. “Ele deve estar ocupado escrevendo um outro livro, não?”, diz. O baixista, por sua vez, é ainda mais agressivo – leia aqui. Curioso é como Ian Curtis previu o futuro dos antigos companheiros de banda em Love Will Tear Us Apart. Não foi aquele amor desesperado de Curtis que os destruiu, mas o rompimento aconteceu. Resta só o gosto amargo deixado por um relacionamento acabado. 

NEW ORDER EM SÃO PAULO Espaço das Américas.  R. Tagipuru, 795, Barra Funda, tel.: 3864-5566. 5ª (dia 1º), às 23h. R$ 210 a R$ 380

PETER HOOK AND THE LIGHT Cine Joia. Praça Carlos Gomes, 82 - Sé, tel.: 3101-1305. Dia 6/12 (3ª), Ingressos Esgotados.

Peter Hook Foto: Divulgação
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