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Nada Surf coloca fim ao hiato e lança ótimo e melancólico disco

Banda norte-americana liderada por Matthew Caws lança o oitavo disco, You Know Who You Are’

Por Pedro Antunes
Atualização:

As primeiras horas do dia 26 de abril de 2012 corriam regadas a festa, algumas cervejas e gente dançando. Em um pequeno cômodo secreto no Cine Joia, casa de shows localizada na Liberdade, em São Paulo, integrantes da banda Nada Surf, produtores e alguns fãs comemoravam o retorno da banda ao País depois de oito anos. Um after-party disputado, pouco iluminado e barulhento. Ou era barulhento, até o momento em que Matthew Caws, vocalista da banda, surge pela pequena porta e desce as escadas com um violão pendurado no pescoço. Tocou algumas canções em formato acústico, antes de encerrar – de vez – as atrações da noite. 

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Caws lembra daquela noite, presenciada pelo Estado, enquanto caminha pelo bairro do Brooklyn, onde mantém um apartamento pequeno, segundo ele, que serve como base quando ele atravessa o Atlântico, deixando para trás a cidade onde mora há tempos, Cambridge, na Inglaterra. “Um pouco de ar fresco nesse fim de tarde vai ser bom para a gente poder conversar”, disse o músico, do outro lado da linha, na noite (no Brasil) de quinta-feira, 3. Estava animado. O novo disco do Nada Surf enfim sairia em poucas horas – chegou às plataformas digitais nesta sexta-feira, 4 –, depois de dois anos de preparação. Não que a ideia para You Know Who You Are fosse, de fato, gestá-lo por tanto tempo. 

Não havia pressa, afinal. O Nada Surf, depois da turnê com o disco The Stars Are Indifferent to Astronomy (2012), com o qual eles passaram por aqui pela última vez, deu um tempo. Cada um dos integrantes, e isso inclui Caws, Daniel Lorca (baixo), Ira Elliot (bateria)  e Doug  Gillard (guitarra, ex-Guided By Voices), foi para um canto, Caws voltou para a Inglaterra, Lorca vive em Ibiza, Gillard reside em Nova York, mesma cidade na qual Elliot divide seus dias, quando não está na Flórida. “Eu não consigo ficar parado por muito tempo”, contou Caws, ao explicar a ideia do duo Minor Alps, criado em parceria com Juliana Hatfield, seguida por uma turnê solo, tão acústica quanto aquela performance improvisada no Cine Joia. 

As duas experiências, de alguma forma, se refletem em You Know Who You Are, explica o músico, que, aliás, chegou a exercer a função de jornalista no início das carreira. “Trabalhar com Juliana, outra pessoa com a mesma posição que a minha, de cantar e compor, me ajudou a dividir essas funções”, explica ele. O novo álbum do Nada Surf foi gravado em uma comunidade maior, conta ele, graças ao desapego à função criativa. “Estar mais confortável no palco, com todo o mecanismo de ser um artista solo, também ajudou.” Na turnê de Caws, que passou pela Holanda e França, ele dirigia até o endereço do show, montava o equipamento, fazia o espetáculo, vendia o merchandising, guardava o equipamento e viajava para o próximo local. 

Com dez canções, You Know Who You Are, um dos melhores discos da carreira de mais de 20 anos do Nada Surf, nasceu na casa de Caws, em Cambridge, cujas paredes finas, próximas ao vizinho, o impediram de criá-las em altos volumes. Depois de gravado, o disco passou por um novo processo de releitura. O que Caws vê como proveitoso. “Quando se tem que criar um trabalho, há sempre um medo, um prazo a ser cumprido. Há muito pânico envolvido. Depois, passamos mais um ano nessas canções e acho que conseguimos tirar o melhor delas.” 

Há quatro anos, em entrevista, Caws não mostrava o ânimo de 2016. Havia alguma melancolia na voz do outro lado da linha, enquanto ele explicava a dificuldade de reunir os integrantes da banda espalhados pelo mundo. A tristeza, agora, está nas canções. Os versos de Caws são entristecidos, mesmo que a suavidade da sua voz impeça o ouvinte de senti-los ao primeiro impacto da voz do autor. E, quanto à distância geográfica dos integrantes, o vocalista também está em bons termos. “O melhor a fazer é parar de comparar o passado com o presente e aceitar o que está aí”, diz Caws, antes de fazer sinal para um táxi e terminar a entrevista. “Às vezes, as coisas não são mais as mesmas.” 

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