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Música erudita em 2017: investir em formação pode ser saída para driblar a crise

Em meio a dúvidas, cortes e caos, projeto oferece um novo caminho

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Por João Luiz Sampaio
Atualização:

Orquestras e teatros de ópera nem sempre se comportam assim, mas são instituições que funcionam no longo prazo. É por isso que não dá para pensar em uma retrospectiva 2017 sem levar em consideração o fato de que em muitos sentidos o ano não termina no dia 31 de dezembro. Uma realidade que persiste desde 2015, quando tiveram início cortes de verbas na área, que não pouparam nenhum projeto, levando a indefinições e compassos de espera que enchem o setor de incógnitas.

Ensemble Modern.Com o projeto Re-inventing, grupo alemão reverencia obra do músico experimental Walter Smetak Foto: Jörg Baumann

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No Teatro São Pedro, a chegada da Santa Marcelina Cultura à gestão trouxe uma nova proposta de programação – da qual a produção de Pulcinella e Arlecchino, de Stravinski e Busoni, foi exemplar, sob o comando de Ira Levin e William Pereira. Ela permanece? Tudo indica que sim, mas não é detalhe pequeno o congelamento de verbas proposto pelo governo do Estado para os próximos cinco anos.

No Teatro Municipal de São Paulo, a temporada 2017 teve espetáculos de ópera – Nabucco e Os Pescadores de Pérolas – aquém daquilo que vinha sendo feito, o que é resultado, na verdade, de uma indefinição a respeito de como se entende o papel do teatro na vida musical da cidade. Resolvê-la é missão agora do Instituto Odeon, que precisa mostrar ser capaz de transformar em ação o que tem sido apenas discurso – encarando, acima de tudo, o caos institucional em que o Municipal se meteu.

A Osesp teve grandes momentos, com destaque para as participações de Nathalie Stutzmann, como regente e cantora, e da violinista Isabelle Faust. E informou que não renovará o contrato de Marin Alsop como regente titular e diretora musical ao final de 2019. Quem assumirá a Osesp? Especulações sobre o nome devem tornar-se cada vez maiores, mas ele é tão importante quanto a disposição da Fundação Osesp de repensar o modo como se comunica com a sociedade, em busca de uma presença mais ampla.

Isabelle Faust. Violinista teve grande momento com Osesp Foto: Ian Douglas/The New York Times

Fora de São Paulo, os festivais de Manaus e Belém mantiveram-se vivos em meio à redução de verbas. Mas nenhuma situação é tão dramática quanto a do Teatro Municipal do Rio, no qual a qualidade de espetáculos como Jenufa (Marcelo de Jesus/André Heller-Lopes) empalidece perante a realidade dos artistas, que ficaram meses sem receber por conta da crise no funcionalismo estadual.

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Boas notícias, no entanto: os dez anos do Neojiba (Núcleos estaduais de orquestras juvenis e infantis da Bahia), dirigido por Ricardo Castro, se somam à atividade de projetos como a Emesp e o Instituto Baccarelli para reforçar a importância, ainda mais em um momento de crise, do investimento em formação como caminho para um mundo musical diferente.

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Da mesma forma, foi especial ver Antonio Meneses completar 60 anos no auge de seu talento, no palco e em CDs; o Quarteto Carlos Gomes jogar luz sobre a música romântica brasileira; o Ensemble Modern revisitar a obra de Walter Smetak; e o talento de instrumentistas, de Nelson Freire, com seu disco dedicado a Brahms, a Neymar Dias e sua reinvenção de Bach pela viola caipira.