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Morre Ray Conniff, que muitos criticam e muitíssimos dançam

Os críticos malhavam os arranjos suaves e adocicados que o maestro dispensava a clássicos como Besame Mucho, New York, New York, Pretty Woman, que o ajudaram a vender 85 milhões de discos e fizeram gerações dançar.

Por Agencia Estado
Atualização:

Morreu neste sábado em Los Angeles, nos Estados Unidos, o maestro e trombonista Ray Conniff. Ele tinha 85 anos e sofreu um derrame, o segundo em seis meses. Foi levado para um hospital da cidade, mas não resistiu. Conniff nasceu em 1916, em Massachusetts. Seu pai era trombonista, e a mãe, pianista. Seguiu os caminhos do pai e tornou-se um dos melhores instrumentistas da era das big bands. Tocou ao lado de alguns dos maiores nomes da música americana, como Bunny Berigan, Bob Crosby, Art Hodes e Artie Shaw. Após servir na Segunda Guerra Mundial, Conniff passou a investir mais em sua faceta de arranjador. Após uma rápida passagem pelo conjunto de Harry James, foi a Hollywood e começou a trabalhar para os grandes estúdios. Acabou contratado da Columbia, em 1951, que decidiu bancar seu álbum de estréia em 56, S´Wonderful, o primeiro de uma longa discografia de 102 discos. Como arranjador, tornou-se um dos grandes mestres do "easy listening" e uma campeão absoluto dos salões de bailes. Foi também bastante criticado pelos arranjos suaves e adocicados que dispensava a clássicos como Besame Mucho, New York, New York, Pretty Woman, que o ajudaram a vender 85 milhões de discos. Seus críticos enxergavam em seus arranjos, pródigos em metais, uma mesma interpretação pobre e pasteurizada para os mais diversos gêneros, como jazz, bossa, rock, bolero, swing etc. Daí porque passou a ser ironizado, ao lado de Glenn Miller, Burt Bacharach, Chris de Burgh e outros, como rei dos elevadores, consultórios médicos e salas de espera em geral. Conniff dizia não ligar. "Não tenho controle sobre o que escrevem." O fato é que seus arranjos para músicas como Smoke Gets in Your Eyes e Strangers in The Night embalaram bailinhos de várias gerações, em muitas partes do mundo, incluindo o Brasil, país pelo qual tinha um carinho especial. Sua primeira visita ao País foi na década de 60, quando, ao lado de Henry Mancini, tocou Aquarela do Brasil, Besame Mucho e Somewhere my Love. Voltaria mais de dez vezes. "Não sei a razão, mas gosto muito de saber que no Brasil três gerações dançam com minhas músicas", disse ao Estado, em 1999. No mesmo ano, lançou um disco dedicado à música sertaneja brasileira. Em Ray Conniff´ s Country (1999), gravado na Califórnia, o maestro rearranjou Pense em Mim, É o Amor, Festa de Rodeio, Luar do Sertão, Bem te Vi, No Rancho Fundo, Entre Tapas e Beijos, entre outras. O disco entrou para sua longa série de álbuns "regionais", que já incluía homenagens à Rússia, Venezuela, Grã-Bretanha, além do Brasil em Amor, Amor (1982), Fantástico (1983), Ray Conniff Live in Rio (1996). Sua última passagem foi em setembro de 2001, para duas apresentações no Credicard Hall, tendo no repertório músicas de Frank Sinatra, Bee Gees, The Carpenters e Beatles. Estão entre suas últimas aparições públicas. Em surdina A morte do músico não havia sido registrada pelas agências nem pelos sites internacionais de notícias até as 14h30 deste domingo ? motivo pelo qual não havia também sido noticiada neste portal. Nesse horário, O Estado de S. Paulo confirmou a informação ? adiantada ontem pela Globonews - com o presidente do fã-clube internacional de Ray Conniff, o alemão Manfred Thoenicke, que havia recebido a notícia da mulher do maestro, Vera. Ele fez um registro da morte no site do fã-clube (http://members.aol.com/dmitchell9/). Elias Ramos Gaia, responsável pelo fã-clube no Brasil, não considera estranho o silêncio das agências internacionais, mesmo as dos Estados Unidos. Ray Conniff, segundo Gaia, era ignorado pelo público norte-americano, embora seus primeiros discos, nos anos 60, tenham feito muito sucesso. "O maestro era uma pessoa de trato difícil e tinha rompido com a imprensa."

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