Leila Pinheiro faz show em SP com músicas do seu repertório e de novos compositores

Cantora fala sobre a difícil arte de administrar uma carreira em tempos tão incertos

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Por Amilton Pinheiro
Atualização:

O trecho inicial da música Agora Só Falta Você, de Rita Lee, serve como epígrafe de dois momentos distintos da carreira de Leila Pinheiro. “Um belo dia resolvi mudar/E fazer tudo o que eu queria fazer/Me libertei daquela vida vulgar.”

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O primeiro, quando resolveu deixar o curso de medicina em Belém do Pará, que fazia há dois anos, em 1980, e montar um show, com o objetivo de testar-se como cantora. 

“Um belo dia cheguei à faculdade e percebi que aquela m... toda não tinha nada a ver comigo. Voltei para casa e comuniquei aos meus pais que ia largar tudo, não dava mais para mim”, explica Leila Pinheiro ao Estado sobre a difícil decisão que tomou, ainda mais para uma jovem de 20 anos, que dependia totalmente da família. 

O outro momento na vida da artista, que se apresenta neste sábado (25) e domingo (26), no Sesc Pinheiros, foi no aniversário dos seus 30 anos de profissão, em 2010, quando gravou com recursos próprios o disco Meu Segredo Mais Sincero, dedicado à obra de Renato Russo (1960-1996).

Leila Pinheiro tem projeto de um disco produzido fora do Brasil Foto: Carol Beiriz

“Eu sempre adorei o repertório dele, e este trabalho me encheu de alegria. Fiz uma aposta arriscada ao bancá-lo com recursos próprios. Dei com a cara no chão, mesmo com críticas positivas, o álbum não foi divulgado na mídia nem chegou ao conhecimento do público”, lembra ainda a cantora.

Leila não se arrependeu das escolhas que fez, mas hoje não investe mais com seu dinheiro, mesmo que seja algo que queira muito ver realizado. Agora, ela está com um projeto de disco conceitual, que será produzido fora do País (a cantora tem uma carreira consolidada no Japão, e faz shows na Europa).

“No momento, estou com um projeto bem bacana, que não posso entrar nos pormenores, que é para o mercado externo, está sendo gerado. Se quisesse terminá-lo logo, teria que colocar dinheiro, mas como eu falei, não faço mais isso. Se tiver que acontecer será com aporte de fora”, fala com a convicção de quem aprendeu a lidar com um mercado cada vez mais incerto, principalmente para o tipo de música que sempre fez parte do seu repertório. “Faço um apanhado vasto da MPB, que é uma dose cavalar de beleza, mas tem um público cada vez mais restrito, infelizmente”, lamenta.

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A cantora paraense garante que nunca faltou público para seus shows, mas reconhece que agora não pode cantar em casas maiores, que cobram ingressos caros. Quando não consegue mais shows, entra em estúdio e grava, mesmo que o trabalho não vire de imediato um disco. O que não pode é parar, segundo ela, pois a cabeça é uma profusão de músicas, de ideias, de arte.

“O espaço de trabalho para a música caiu drasticamente nas últimas duas décadas. Os artistas têm que se adequar à realidade hoje. Eu já venho fazendo isso, há algum tempo, desde os anos 1990, quando comecei com o show solo ao piano. Não posso sair de uma realidade de preço de ingresso, porque aí, sim, não vou ter público quase nenhum.”

Em 2015, ao completar 35 anos de carreira, a cantora lançou um EP por meio de financiamento coletivo (crowdfunding) Por Onde Eu For, que foi mais um registro dessa singular intérprete, que chegou ao grande público ao participar dos Festivais dos Festivais na TV Globo, sendo eleita cantora revelação, e a música que defendeu, Verde, um samba que enaltecia as nossas matas, se classificou em terceiro lugar. “Ali, eu nascia como cantora, mesmo tendo começado há cinco anos”, reconhece.

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O show Cenas de Um Amor não é parte de um disco homônimo, foi idealizado sem um repertório específico de um álbum. “Faço o show sem um trabalho de estúdio, se ele for bem recebido pelo público, corro atrás do registro, que é importante para os fãs que acompanham minha carreira, mesmo sabendo que hoje não se vende mais tantos CDs assim”, comenta.

No repertório, além das músicas que vem cantando há mais de 35 anos, algumas inéditas, como Gosto, de Zélia Duncan e Moacyr Luz, e outras da nova geração de compositores: Alice Caymmi e Dani Black. Mas não faltarão as canções que a consagraram como grande intérprete: Verde, Besame e Serra do Luar. O que a move como artista? “A sanidade e integridade, com reconhecimento de público e crítica, de quem abdicou de caminhos mais comerciais e lucrativos para investir no que que acredito, a boa música.”

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