Julian Rachlin rege e sola ao violino e à viola com músicos ingleses da Royal Northern Sinfonia

Músico se apresenta na Sala São Paulo nesta terça e quarta

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Por João Luiz Sampaio
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Para um dos maiores violinistas de sua geração, o comentário pode parecer estranho. Mas o instrumento preferido do lituano Julian Rachlin é o violoncelo. “Sempre foi, na verdade”, ele diz, brincando. Mas logo recupera a seriedade. “Eu digo isso para ressaltar uma coisa que para mim sempre é importante: o violino foi a minha primeira ferramenta na hora de me expressar por meio da música. Mas nessa frase, nessa ideia, o mais importante não é o instrumento e, sim, a necessidade de expressão.” 

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Rachlin, não por acaso, somou ao violino a viola e, nos últimos anos, a regência. “Não é uma trajetória comum, mas quando me dou conta de que não estou interessado em ser um virtuose de um instrumento mas, sim, em conhecer a música por todos os seus lados, me parece um caminho natural.” E as três facetas estarão representadas nos concertos que ele apresenta hoje e amanhã na Sala São Paulo, com os músicos da inglesa Royal Northern Sinfonia, pela temporada da Cultura Artística.

Hoje, o programa tem a Valsa Triste, de Sibelius, a Sinfonia n.º 4 de Mendelssohn - com regência de Rachlin -, a Música Fúnebre de Hindemith (com Rachlin solando na viola) e o Concerto para violino de Mendelssohn (com solos de Rachlin ao violino). Amanhã, o foco é Mozart, com a Abertura da ópera As Bodas de Fígaro, o Concerto para Violino n.º 3 e a Sinfonia n.º 40; completa o programa Lachrymae, de Britten.

Rachlin. 'A música clássica pode ser cool, pode ser encantadora, depende de quem a ouve' Foto: K. Miura

“É um programa no qual temos trabalhado bastante nos últimos tempos. Uma das coisas que mais me interessam no trabalho da Royal Northern Sinfonia é a possibilidade de fazer um número grande de ensaios, o que permite desenvolver nossa própria identidade, nosso próprio som, nossa visão sobre as peças”, ele explica. E isso parece particularmente importante em programas nos quais há uma variedade grande de climas. “Certamente é o caso do primeiro. A Valsa e a peça de Hindemith carregam enorme tristeza, um caráter introvertido, enquanto a Sinfonia de Mendelssohn traz uma mensagem de alegria, de celebração à vida”, garante.

Nas sinfonias, Rachlin vai reger; nos concertos, é apenas o solista. Ou também assume uma posição de liderança? “Na verdade, nem uma coisa nem outra. Em todos os casos, eu entendo o que fazemos como o ato de criar música em conjunto. E isso tem a ver não apenas com a forma como me vejo como artista, mas com a natureza da orquestra também: é um grupo menor, em que todo mundo ouve todo mundo e, por conta disso, o resultado final sempre lembra a música de câmara.” Rachlin assumiu há três anos o posto de principal regente convidado da orquestra, que, criada em 1958, já gravou com artistas brasileiros: o maestro Claudio Cruz e o violoncelista Antonio Meneses. O grupo é residente no Sage Gateshead, centro cultural localizado no norte da Inglaterra que trabalha na prática a ideia de que a arte precisa dialogar com a comunidade em que está inserida, com a excelência artística aliada à formação de jovens músicos, programas para a terceira idade, além de um atenção especial a questões sociais. “Isso me fascinou desde o primeiro momento. Nossa sala de ensaios é toda envidraçada, o que significa que qualquer pessoa que estiver passando por lá pode ver o que estamos fazendo. É um espaço pensado para que as pessoas possam interagir com a música o tempo todo e isso é algo que me agrada não apenas como músico, mas como alguém que ama a música”, afirma ainda. 

Para Rachlin, é preciso quebrar a “parede invisível” que separa o público das salas de concerto. “Ela foi criada a partir da ideia de uma arte de elite, que é uma construção, não algo que tenha a ver com a música em si. A música clássica pode ser cool, pode ser bela, pode ser encantadora, depende de quem a ouve. A ideia de exclusividade precisa ser trocada pelo conceito de inclusão e uma forma de fazer isso é ouvir os jovens que, ao contrário de quem normalmente está à frente das orquestras, tem uma percepção desse nosso novo mundo mais rápida, mais dinâmica, mais clara. O trabalho do Sage é fantástico nesse sentido, mas cada cidade precisa encontrar o seu projeto, a sua forma de fazer. Aqui no Brasil, por exemplo, me fascina o trabalho feito pelo Instituto Bacarelli em Heliópolis”, recorda Julian Rachlin.Os músicos da Royal Northern oferecem lá, na quinta, dia 29, uma série de masterclasses para jovens artistasJULIAN RACHLIN Sala São Paulo. Praça. Júlio Prestes, s/nº, tel. 3256-0223. 3ª (27) e 4ª (28), às 21h. R$ 50 a R$ 430.

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