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Joyce Moreno lança caixa com seus álbuns da primeira metade dos anos 1980

Trabalho marca o início da duradoura relação da cantora com o Japão

Por Renato Vieira
Atualização:

Joyce Moreno nem pensava em adotar o sobrenome do marido Tutty quando gravou os álbuns da caixa Anos 1980, idealizada pelo produtor Marcelo Fróes e que será lançada nesta segunda (28) em São Paulo. A cantora e compositora diz ter boas recordações desse período, mas, por ter vivido os dois lados do sucesso, a afirmação vem em tom nada saudosista. É o retrato do tempo em que ela foi da glória pública às portas fechadas em privado. Uma história que teve final feliz do outro lado do mundo.

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Na ativa desde 1964, quando tinha 15 anos, Joyce já tinha uma história de respeito quando gravou seu álbum clássico, Feminina, no início de 1980. Excepcional violonista, participou de festivais, foi gravada por Elis Regina e trabalhou com o maestro Claus Ogerman nos Estados Unidos em um disco jamais lançado. Após um tempo retirada para cuidar das filhas pequenas, suas composições chegaram às vozes de Milton Nascimento, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, entre outros.

Feminina, clássico instantâneo agora relançado com quatro faixas extras, nasceu porque sua editora era vinculada à gravadora EMI, vendo ali uma mina a ser explorada após tantas gravações. Entre as inéditas estava Aldeia de Ogum, remixada sob medida para pistas de dança por DJs estrangeiros a partir dos anos 1990. Outra era uma singela cantiga para as filhas Clara e Ana. Inscrita no festival MPB-80, Clareana ganhou o Brasil com o refrão “Clara, Ana e quem mais chegar”. Joyce foi aplaudida no mesmo Maracanãzinho onde havia sido vaiada 13 anos antes com Me Disseram. “Até hoje tem gente achando que eu ganhei o festival”, diz. A canção foi tão forte que um executivo da gravadora lhe disse que “precisava de uma Clareana para o ano que vem”, quando ela começava a preparar seu trabalho seguinte, Água e Luz. 

Durante a pré-produção, ela recebeu em casa um disco da cantora Sonia Mello com Clareana. Ao ouvir, imediatamente liga para um produtor da EMI. O playback de Sonia é o mesmo seu. Violões, vozes, tudo idêntico. “Falei que eles não poderiam fazer isso. Disseram que talvez não devessem fazer, mas que poder, eles podiam, porque eu havia assinado um contrato de cessão de direitos”, lembra.

Em um acordo, a EMI decidiu recolher o disco de Sonia. Isso custou caro a Joyce. “Passei a ser boicotada pelas gravadoras. Anos depois, soube de uma reunião secreta em que diretores de gravadora se comprometeram a não me contratar, uma espécie de punição.” Ainda assim, sem nenhuma ambição de ter o hit do momento, ela acabou dando ao executivo a nova Clareana que ele pediu. Monsieur Binot, homenagem ao seu professor de ioga, tocou bastante.

A solução era partir para o mercado independente com o belo Tardes Cariocas (1983), sem a mesma repercussão dos anteriores pela dificuldade de distribuição, com participação de Egberto Gismonti, Mário Adnet e Ney. Todos participaram sem cobrar cachê. “Foi um período difícil, de muito aperto financeiro. Eu estava terminando de construir uma casa e os amigos ajudaram no que foi possível”, conta ainda. Egberto, por exemplo, participa de quatro músicas.

Este trabalho marca o início da duradoura relação de Joyce com o Japão, onde se apresenta anualmente, além de gravar discos específicos para aquele país, que chegam ao Brasil com diferença de anos. Um lote de Tardes Cariocas chegou às mãos dos organizadores do Festival Yamaha e lá ela interpretou seu samba Fã da Bahia, incluído em Saudade do Futuro (1985).

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Sete anos depois, o diretor Robert Altman escolhe Tema Para Jobim, desse disco, para a trilha de O Jogador. O dueto com Milton Nascimento embala uma cena entre Tim Robbins e Greta Scacchi. “Até hoje, não sei como Altman ouviu essa música, que Gerry Mulligan me deu em Roma para fazer a letra. Fiquei feliz com a escolha, ficou muito bem colocada no filme.”

Saudade do Futuro é um disco pautado pelo passar do tempo, aberto com uma versão de When I’m Sixty-Four. O standard beatle virou Velhos no Ano 2000 e uma bem-humorada Joyce se imaginava “aposentada pelo Inamps”. Mal sabia ela que, desde a virada do milênio, lançaria 15 álbuns.Lançamento do Box  'Joyce: Anos 80'. Livraria Cultura. Conjunto Nacional. Av. Paulista, 2.073, 3170 4033. 2ª (28), 19h.JOYCE 'Anos 80' Discobertas - R$ 89,90