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Jô Soares toca e canta em novo álbum

Em Jô Soares e o Sexteto, segundo CD do grupo, apresentador passeia pelo jazz de Dizzy Gillespie e Duke Ellington com nova formação

Por Agencia Estado
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O one-man-show Jô Soares - escritor, ator, humorista, jornalista, âncora, cantor, trompetista - começou a ouvir jazz aos 14 anos. "Naquela época, a gente comprava a Downbeat só para copiar a roupa dos músicos", ele lembra. O tempo de copiar a roupa dos músicos passou para Jô Soares - até porque suas medidas atuais só se aproximam um pouco mais das do pianista canadense Oscar Peterson -, mas não passou a vontade de empunhar o trompete como Dizzy Gillespie fazia ou de invadir um bar na alta madrugada e juntar-se a um grupo de jazzistas numa jam session. É por isso que o apresentador está lançando, pela Som Livre, o CD Jô Soares e o Sexteto. Ele parece gostar mais disso tudo até do que interpelar o ex-senador Luís Estevão ou desvendar uma cesta básica de sex shop em seu programa de variedades, o Programa do Jô, na Rede Globo. "Obrigado, muito boa noite, meu nome é Jô Soares", ele diz, antes de tocar Sudwest Funk, de Donald Byrd, arrancando risadas da platéia do Bourbon Street, onde o disco foi gravado ao vivo, durante um show em novembro. "Eu nasci num hospital alemão do Rio de Janeiro, na Gávea, às 10 horas da noite do dia 16 de janeiro de 1938", conta. "Exatamente nesse momento, Benny Goodman atacava no Carnegie Hall o primeiro concerto de jazz que foi feito lá", recorda. O grupo de Jô já é bem conhecido dos espectadores de televisão. Alguns, a exemplo dos coadjuvantes do apresentador americano David Letterman, são também personagens e espécie de contra-regras informais do programa. "Na verdade, minha maior influência foi o Jack Parr, nos anos 60, quando eu fazia o programa do Silveira Sampaio", diz. Segundo ele, o primeiro apresentador do Tonight Show Steve Allen, e o comediante Johnny Carson estão mais presentes no formato de seu programa do que Letterman ou Jay Leno - atrações da TV americana que ele é acusado, eventualmente, de copiar. "Hoje em dia, nem o Letterman nem o Jay Leno fazem com tanta desenvoltura quanto o Jack Parr e o Johnny Carson faziam" pondera. Mas voltando ao jazz. Ele formou seu grupo inicialmente como um quarteto, depois como um quinteto e agora, finalmente, como um sexteto. Quando ele estava no SBT, o grupo celebrizou-se como o Quinteto Onze e Meia, que era o nome do programa. Em fevereiro do ano passado, eles tiveram uma baixa sentida: morreu de um derrame, o guitarrista Rubens Cubeiro Rodrigues, o Rubinho. "Para nós, isso é antes de tudo uma grande diversão, uma jam session constante", ele diz. "O jazz é a música clássica da música popular e a grande liberdade de improviso possibilita a criação instantânea", ele diz. Ainda assim, Jô Soares não é um fã entusiasmado do free jazz de Ornette Coleman, por exemplo. "É o antijazz, uma música que chegava ao extremo de ir de um extremo a outra música em um improviso", ele diz. "E o jazz não pode ter improviso de meia hora, porque senão o cara se chateia", avalia. Ritmo e alegria - Fã de Cole Porter, Gerry Mulligan, John Coltrane, Miles Davis e Gillespie, Jô Soares vê com alguma desconfiança o retorno de alguns jovens músicos de hoje em direção à tradição. "A única coisa que eu acho que o jazzista não deve perder é o senso rítmico e a alegria de tocar", ele diz. "O músico precisa demonstrar alegria naquilo que está fazendo, porque até no blues, nos lamentos mais tristes, a maneira de tocar aquilo é celebratória." Segundo Jô, sua primeira aproximação com o jazz deu-se por causa do senso de humor dos músicos. "Count Basie, Dizzy Gillespie: essa turma tinha uma visão do mundo cheia de humor", ele conta. É o segundo CD do grupo, mas o primeiro com a participação de Jô Soares "lui-même". Além do saxofonista e flautista Derico Sciotti (celebrizado como o Assessor para Assuntos Aleatórios de Jô), compõem o Sexteto os músicos Bira (baixo), Miltinho (bateria), Osmar (piano e teclados), Tomati (guitarra) e Chiquinho Oliveira (trompete), o mais recente integrante. O apresentador cantando é a novidade do disco. Ele até que leva jeito, colando num estilo meio Chet Baker de cantar. "Para mim, um dos grandes músicos de jazz de todos os tempos foi o Chet Baker", ele conta no disco, acrescentando que acha que Baker influenciou João Gilberto. "Eu tenho a impressão que, se o Chet Baker fosse inaugurar o Credicard Hall, a gente ouviria ele dizendo: ´Echo, the echo, too much echo, what´s this fucking echo, man?´". Depois da gag, muito aplaudida, ele canta uma das preferidas de Baker, Let´s Get Lost. Segundo Jô Soares, apesar da agenda apertada dos programas de TV, o grupo pretende excursionar com o show. "Estamos abertos para shows e turnês, para sair brincando por aí", diz o apresentador. Além de cantar, ele também toca trompete e bongô. A mudança de quinteto para sexteto parece atender também à necessidade de marcar a nova fase e a nova emissora. Mas o disco de Jô Soares é surpreendentemente bom. Ele abre com Summertime, dos irmãos Gershwin, ataca mais alguns standards, como Night in Tunisia, de Dizzy Gillespie, e Caravan, de Duke Ellington. A produção é do próprio Jô Soares. Jô Soares e o sexteto - CD do grupo do apresentador Jô Soares. Som Livre. Preço médio: R$ 18,00. À venda nas lojas de discos.

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