Isabel, a refugiada congolesa, emocionou o país no 'The Voice Brasil'

Originária de Kinshasa, Isabel sofreu uma reviravolta quando a guerra civil a separou de sua família em 2015

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Por Redação
Atualização:

Há dois anos, Isabel Antonio teve que deixar para trás seu país e sua infância por causa de uma das guerras mais sangrentas da África, mas a refugiada congolesa acabou conquistando o coração de milhões de brasileiros com suas apresentações no programa The Voice Brasil.

Depois de dois meses no concurso, a jovem de apenas 16 anos foi eliminada esta semana, mas suas conquistas foram muito além.

Originária de Kinshasa, Isabel sofreu uma reviravolta quando a guerra civil a separou de sua família em 2015 Foto: MAURO PIMENTEL

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"Ter participado desse programa foi muito importante para mim e tenho certeza que vai ser importante também para outras meninas como eu, outras refugiadas, trazendo a emoção da música e servindo de exemplo para muitas pessoas", contou à AFP, falando em português.

Em sua última visita aos estúdios da TV Globo, Isabel aproveitou sua estada no Rio para ver o mar pela primeira vez.

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No calçadão da praia de Ipanema, os fãs paravam a cada dez metros a adolescente de sorriso radiante e nascida na República Democrática do Congo (RDC) para pedir uma selfie com ela.

"Parabéns, você canta muito. Já é uma vencedora, mesmo com a eliminação", diz Rafael, vendedor de gelo de 26 anos.

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Desde que cantou no programa Heal the World, sucesso de Michael Jackson contra o sofrimento de crianças em todo o mundo, Isabel virou um símbolo da causa dos refugiados no Brasil. 

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Três dias escondida

Originária de Kinshasa, Isabel sofreu uma reviravolta em sua vida em 2015, quando a violência da guerra civil a separou de sua família.

"Tive que fugir com minha irmã, não achamos minha mãe e ficamos escondidas na mata durante três dias", contou, tocando nervosamente em suas longas tranças.

As duas jovens acabaram sendo encontradas por missionários brasileiros, que as levaram a Angola e, depois, para o Rio.

"Não queria ir embora porque queria encontrar minha mãe, mas acabei aceitando porque senão corria o risco de morrer", explicou.

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A guerra civil que castiga há anos a RDC forçou centenas de milhares de pessoas a se deslocar, entre elas as mais de 500.000 que vivem como refugiadas em países vizinhos.

Chegadas ao Brasil, as duas irmãs descobriram, graças a um registro feito pela organização católica Cáritas, que tanto sua mãe quanto seus outros quatro irmãos tinham feito o mesmo caminho semanas antes e estavam em São Paulo.

Pouco depois, seu pai acabaria se unindo à família no fim de 2015. Agora, trabalha como gari em São Paulo, enquanto sua mãe é faxineira.

Sonho

Foi precisamente em São Paulo que Isabel descobriu seu talento para a música, graças ao coral Somos Iguais.

O projeto, fundado pela voluntária Daniela Guimarães, pretendia apenas ser um passatempo para os filhos dos refugiados, enquanto suas mães eram sensibilizadas sobre os riscos do câncer de mama.

"Eles cantavam tão bonitinho que percebi que tinha que levar esse projeto adiante", explicou Daniela, que chamou o maestro João Carlos Martins para inspirar sua paixão pela música nas crianças vindas de RDC, Angola, Síria e Haiti.

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O coral ganhou, assim, certo renome com apresentações em várias cidades brasileiras, o que levou a TV Globo a convidar cinco de seus membros a participar de The Voice Kids, a versão infantil do programa.

Isabel foi uma das selecionadas, mas como acabara de completar 16 anos, preferiram que disputasse com os concorrentes adultos, mais experientes.

Sua bela voz encantou tanto o público quanto o júri e permitiu que ela continuasse no programa até a etapa da Batalha dos Técnicos.

"Isabel representa a voz dos demais membros do coral. Ela soube aproveitar a oportunidade para carregar os sonhos dos outros refugiados", comenta Guimarães, enquanto caminha ao lado da adolescente na praia.

De volta a São Paulo, após sua experiencia na TV, Isabel, que sonhava em ser médica quando criança, espera aproveitar a fama para seguir com uma carreira musical.

"Quando canto, eu me sinto outra pessoa, não me sinto mais a Isabel triste, que sofreu, que pensava que iria morrer", confessa a menina.

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