Guitarras in Rio: Red Hot Chili Peppers encerra último dia de Rock in Rio com o domínio do baixo

E, tal qual a quinta, o instrumento de seis cordas foi esmerilhado a partir das 15h de domingo, com a banda Ego Kill Talent, criada em 2015

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Por Redação
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Acabou. Galvão Bueno gritaria “é tetra”, com a mesma empolgação com a qual o fez quando Roberto Baggio chutou aquele pênalti para o alto, na final da Copa do Mundo de 1994. Sete dias de Rock in Rio, sete dias de música – pop, rock, principalmente –, da tal experiência da qual a organização do festival gosta tanto de se orgulhar. 

Depois de um fim de semana dominado por batidas dançantes e experimentações com beats, com Maroon 5 tocando duas vezes (na primeira, na substituição repentina da Lady Gaga) e Justin Timberlake, e uma enxurrada de comentários “mas não é ‘Rock’ in Rio?”, as guitarras voltaram a dominar a escalação para os últimos quatro dias de festival. Com a noite encerrada por Aerosmith, na quinta-feira, 21, o som da distorção e dos riffs mostraram que seriam os protagonistas. E, tal qual a quinta, o instrumento de seis cordas foi esmerilhado a partir das 15h de domingo, com a banda Ego Kill Talent, criada em 2015.

O Red Hot Chilli Peppersfez o último show desta edição do Rock in Rio, já na madrugada de segunda-feira, 25 Foto: Wilton Junior/Estadão

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As duas maiores bandas da noite distanciavam da ‘direção guitarrística’, digamos assim. No caso do Red Hot Chili Peppers, a força está no groove do baixo de Flea, ainda mais depois da saída do guitarrista John Frusciante, em 2009. Substituído por Josh Klinghoffer, de 37 anos (17 a menos do que o vocalista Anthony Kiedis), está mais seguro no instrumento, mas sabe que o protagonismo não é com ele. Flea, logo nos primeiros segundos de apresentação, já deixa claro. Ele e o bigodão de Kiedis recebem todos os holofotes – Can’t Stop, música que abre a apresentação, na qual Flea esmurra e puxa as cordas do o instrumento em uma técnica chamada de slap, já diz tudo. Era o domínio rebelde do baixo, quando todo o resto das atrações fazia o oposto. 

Já o Thirty Seconds to Mars é algo a ser estudado. A banda liderada pelo também ator Jared Leto vive de um gênero musical ultrapassado (como o show do Fall Out Boy, que também bebe razoavelmente de uma fonte “emocore”, embora ambas sigam para direções bastante distantes a partir dela), mas se mantém na ativa – há um novo disco, o quinto da carreira, programado para sair ainda neste ano. 

Pediu-se muito, muito mesmo, pelo retorno do rock. Mas o que se viu, em grande parte desses quatro dias, foi pouquíssima novidade e muito mais do mesmo. Assim se repetiram as cenas neste domingo, 24: um monte de distorção repetida e pouquíssima novidade. Até mesmo quando o Thirdy Seconds to Mars subiu ao palco, esperava-se uma nova descida de Jared Leto na tirolesa. Ele não desapontou. Repetiu o feito de 2013. É a vida em looping que o tal rock contemporâneo de massa é capaz de produzir atualmente. Foi uma apresentação poderosa, com 100 pessoas no palco, mas não expôs novidades. 

E na sensação de repeteco, tal qual Pabllo Vittar se mostrou uma força “esquecida” no primeiro fim de semana do festival, e fez estrago por onde passou – pelo palco do banco Itaú, pequenino, e ao lado da Fergie, no gigantesco Palco Mundo –, o Raimundos mostrou que deveria ter um lugar de destaque na programação. A banda de Brasília levou, de surpresa, uma multidão ao mesmo palco do patrocinador. Ao mesmo tempo, a banda República, que tentava ousar, exibia as canções do novíssimo disco, Brutal & Beautiful, lançado na sexta, 22, em uma manobra arriscada quando a maré está na direção contrária.

Também foi ao Raimundos para quem o Capital Inicial recorreu durante sua apresentação no Palco Mundo, ao mostrar um cover de Mulher de Fases. Foi um acerto. As ovações, afinal, vinham o que pode ser considerado clássico. Supla, ao subir no palco da banda Doctor Pheabes, chamou a atenção para si e não foi culpa cabelos espetados e platinados ou do paletó cor verde limão. O que levantou o público foram as versões para Imagine e Heroes, e canções (antigas, sim) Green Hair (Japa girl) e Garota de Berlim. Levantou a plateia, que já espera com ansiedade pelo Sepultura, o pesadíssimo encerramento do palco Sunset – outra figurinha repetida do Rock in Rio. Com a fusão de violinos e a voz demoníaca de Derrick Green, o Sepultura fez as guitarras gritarem. Um grito que ouvimos outras vezes? Sim, mas ainda barulhento. É o que pediram, afinal. 

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2019 já está confirmado?

Sim. A edição seguinte já está marcada para setembro de 2019, na mesma Cidade do Rock montada no Parque Olímpico com suas instalações. “Vamos ficar aqui. A aposta está ganha, deu muito certo. O parque está super aprovado. Hoje, a gente passa pela antiga Cidade do Rock e pensa: ‘como era possível?’”, avalia a vice-presidente do Rock in Rio Roberta Medina

Sobe e desce do festival

Entendido como um palco auxiliar que fica bem distante dos outros palcos, o Rock District desta vez reuniu um grande público para a homenagem feita a Cazuza pelos irmãos Rogério Flausino e Wilson Sideral . Um ponto bem positivo. 

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Dez minutos depois de o Sepultura ter começado a sua apresentação, o público, ensandecido, já abria uma roda e começava aquela troca de sopapos “amigáveis”, que é tão comum nos shows pesados, mas estava em falta no festival. A "roda de pogo" foi outro bom destaque. 

Mas quem visitou a Cidade do Rock para passear pelo espaço encontrou muita gente logo no início da tarde. Entrar na Gourmet Square, espaço de alimentação, foi um teste de resistência por conta das filas. Porém, inexplicável, mesmo, talvez seja a fila de mais de 100 metros para se conseguir um copo grátis. Sim. Aconteceu. Ponto baixo. 

Já outro destaque negativo foram os cambistas. O número ao redor da Cidade do Rock aumentou e o preço chegava a R$ 800 (o ingresso oficial custava R$ 455) . 

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/Por Guilherme Sobota, João Paulo Carvalho, Pedro Antunes, Renato Vieira (enviados especiais) e Roberta Pennafort

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