Festival Berlioz termina com orquestra brasileira

Diretor artístico Bruno Messina que trazer evento ao País

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Por Redação
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LA CÔTE SAINT-ANDRÉ - Os primeiros acordes da ópera A Danação de Fausto nem haviam começado a soar na noite de encerramento do Festival Berlioz e o diretor artístico Bruno Messina já falava em planos para os próximos anos. Conversando com o Estado na tarde de domingo, ele falou do desejo de levar o evento, realizado em La Côte Saint-André, cidade natal do compositor, para o Brasil; e adiantou que, em 2015, a programação terá como eixo central paralelos entre Berlioz e Napoleão; e, em 2016, vai explorar o papel do sofrimento na arte romântica - e na própria personalidade do autor. São ideias ousadas, necessárias quando se busca a originalidade ano após ano em um festival que tem sempre o mesmo ponto de partida: a obra do compositor da Sinfonia Fantástica. Mas Messina garante que não precisa inventar nada. "A inspiração de Berlioz é polimórfica. Ele foi compositor, escritor, jornalista; homem de esquerda e de direita; visionário e reacionário. A cada festival, meu papel é apenas narrar mais uma aventura baseada em sua personalidade." Em 2014, o tema do festival foi Berlioz na América. O compositor, afinal, foi tocado desde o século 19 no continente. Por outro lado, pode-se também entender o conceito proposto por Messina como alusão a um novo mundo musical, evocando uma frase do próprio Berlioz: “Há um mundo novo musical em que Beethoven seria Colombo e eu, Pisarro ou Cortez". É nesses dois sentidos que pode ser entendida a participação da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo na programação. "Vivemos na Europa uma sensação de cansaço, fadiga, com algumas ideias e conceitos. Estamos à espera de uma nova juventude, com novas propostas. Enquanto isso, na América Latina, já parece haver uma ideia de começo e não de fim." Não por acaso, depois de interpretar a Sinfonia Fantástica na semana passada, a orquestra voltou a se apresentar no evento, agora em concerto ao ar livre, ao lado de grupos infantis de um projeto francês chamado Démos, que tem criado pelo país projetos de musicalização que dão origem a conjuntos sinfônicos.

Mas Messina vai mais longe. Ao lado de Paulo Zuben, diretor artístico e pedagógico da Santa Marcelina Cultura, à qual pertence a orquestra, esboça uma tentativa de levar o festival ao Brasil. "A ideia seria apresentar em São Paulo algumas das peças que apresentamos aqui, como Christophe Colombe, de Félicién David, tendo a orquestra jovem como residente e levando também um grupo francês como a Orchestre des Siècles. Também criaríamos uma academia em que poderiam ser trocadas experiências sobre a interpretação de época aplicada ao repertório do século 19." Concertos. O último fim de semana do festival foi dedicado às orquestras. O conjunto La Cercle de L’Harmonie foi o primeiro a subir ao palco, na quinta, para apresentar o ciclo Les Nuits D’Été, de Berlioz. Solista convidada, a meio-soprano americana Kate Lindsey revelou-se uma intérprete sensível aos contrastes da escrita do compositor, em canções que vão da lembrança de uma paixão de juventude à certeza da finitude e da impossibilidade do amor. Na sexta, apresentou-se a Sinfônica de Lyon, comandada por Leonard Slatkin. Na primeira parte, obras inspiradas pela tecnologia; na segunda, diferentes leituras musicais para a história de Romeu e Julieta. O programa era estranho, mas teria se justificado com uma interpretação menos atropelada, em especial nas obras de Prokofiev e Tchaikovski. Se Slatkin decepcionou, outro veterano da regência fez jus à sua fama: o inglês John Eliot Gardiner. O trabalho com as cordas na abertura Mar Calmo e Viagem Afortunada, de Mendelssohn; a inteligência no acompanhamento ao solista no concerto para violoncelo de Schumann (o ótimo Gautier Capuçon); a autoridade com que revisita trechos do Romeu e Julieta de Berlioz - foi memorável a apresentação da Sinfônica de Londres sob regência do maestro. Por sinal, um outro regente inglês, Colin Davis, disse certa vez que a música de Berlioz só entra na França pela alfândega, brincando com o descaso de intérpretes franceses em relação ao compositor. Mas, no domingo à noite, ele talvez mudasse de ideia ao ver o trabalho desenvolvido pelo francês François Xavier Roth com A Danação de Fausto, um dos pontos altos da programação. Destaque para o tenor americano Michael Spyres, a soprano Anna Caterina Antonacci e a orquestra, formada por jovens de conservatórios europeus e da qual também participaram este ano 20 músicos da Orquestra Jovem do Estado.

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