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Elegante Paulinho da Viola lança seu 'Acústico MTV'

Cantor traz inéditas e sucessos, como 'Coração Leviano' e 'Onde a Dor não Tem Razão'

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Por Redação
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De terno em tom bege, camisa branca e calça cinza-escura, Paulinho da Viola entra no palco, armado em um estúdio em São Paulo, é devidamente aplaudido, pega o cavaquinho e de pé mesmo dá início a uma seqüência de grandes clássicos do sambista, intercalados com algumas poucas inéditas. Timoneiro, Coração Leviano, Onde a Dor não tem Razão, Coração Imprudente, e outras 17 canções. É o primeiro DVD do cantor e compositor, e para a estréia Paulinho foi de Acústico MTV. Ele será exibido neste domingo, 14, pela emissora e chega às lojas no dia seguinte, também em CD, numa versão diminuta, com 15 músicas. O projeto marca também sua contratação na Day1, empresa criada pela sua gravadora para gerenciar shows de seus artistas.   Há tempos que Paulinho não traz um trabalho de inéditas e garante: nem ele mesmo sabe quando irá matar esse anseio dos fãs. Ele conta ter muitas canções que não foram gravadas, o suficiente para fazer um novo disco, mas não quer fazer pensar quando isso ocorrerá. "Pode ser ano que vem, não sei. Agora não digo mais nada, porque toda vez que eu falo aparece um outro projeto e vou adiando", conta Paulinho.   O sambista é daquelas pessoas que a entrevista poderia levar horas. Paulinho é aquela pessoa que divaga sem preocupação. Faz rodeios, retoma histórias passadas, fala sobre presente, mas não gosta de pensar o futuro. "O tempo é uma coisa abrangente. Tem o passado, presente e essas projeções, que não faço muitas nem nunca fiz. Quando somos mais novos fazemos (projeções), mas depois de certo tempo aprendemos que é melhor não fazer muito isso, porque a vida segue, e você se surpreende todo dia com uma coisa nova", analisa ele, com a experiência de 65 anos de vida, a ser completado no mês que vem, e 43 de carreira.   Com tempo contado para uma gravação para a MTV, Paulinho dá de ombros para a pressão de assessores e discorre sobre (quase) tudo que é perguntado. Questiono-lhe por que se rendeu ao Acústico, conhecido projeto comercial, de reciclagem de sucessos. Mas ele contrapõe. "Não sabia que tinha essa imagem. Sei que tem uma audiência muito grande entre os jovens, dentro dessa linha da MTV", pondera. "Quando eu aceitei fazer foi uma pessoa que chegou pra mim dizendo que o pessoal da MTV estava interessado em fazer um acústico comigo. Não foi logo de cara, ficamos fazendo umas preliminares, e isso foi indo até que chegou esse momento. Achei que era a hora de fazer isso", complementa.   Sem inéditas desde Bebadosamba, lançado em 1996, Paulinho da Viola traz três novas canções ao público - Bela Manhã, Vai Dizer ao Vento e Talismã. Esta última era uma melodia antiga que o sambista achou em meio a suas fitas-cassetes. Em um encontro na casa da amiga Marisa Monte, Paulinho resolveu mostrar a tal melodia a ela para que Arnaldo Antunes fizesse a letra. "Era uma brincadeira com um tom de desafio", diz. "E pra minha surpresa, dias depois Marisa me liga dizendo que estava pronta e que ela tinha entrado na parceria".   O sambista ainda aproveitou o Acústico para recriar. Trouxe novos arranjos para Sinal Fechado e Tudo se Transformou. Resgatou Amor é Assim e Foi Demais, canções, como ele diz, "que gosta muito, mas que não eram tão conhecidas". Gravou também Nervos de Aço, de Lupicínio Rodrigues. Esta não estava prevista, e registrou a pedido da sua gravadora, a Sony/BMG. "Eu tinha uma resistência, porque eu já tinha gravado. Mas o pessoal pediu e eu aproveitei para fazer um novo arranjo e cantar da forma original".   A tal resistência que ele menciona revela um pouco seu lado perfeccionista. Questionado sobre isso, ele diz que não bem um "perfeccionismo", mas um lance de "estar sentindo (a música) de diversas maneiras". E revela ter problemas para compor. "Vou te falar uma verdade, eu não gosto de compor", confessa. "Mas quando começo não paro mais. No começo acho horrível, viro noite brigando com palavras e melodia, mas depois parece que estou em um quarto onde não ouço mais nada". E emenda: "Não é que sou perfeccionista, porque perfeição não existe. Mas quando eu estou envolvido com a composição me pego em muitos detalhes e variações da canção", declara ele, observando que deve ser "um pouco chato em relação a isso com os outros". Não é o que se vê, entretanto, nos depoimentos do making of do DVD. Cristina Buarque, por exemplo, que está no backing vocal da banda, diz que ele é muito paciente: "(Paulinho) não esquenta com nada, é tudo na calma".   No rico making of, o sambista ainda explica canções, o método de trabalho, e relata algumas histórias de sua longa e digna carreira. Com seu Acústico, Paulinho dá uma pequena amostra de seu vasto acervo de composições. E ao contrário de outros tantos projetos de mesmo formato, o trabalho não é apenas uma mera reunião de sucessos antigos. Mesmo os clássicos, carregam um quê de novidade, além das próprias inéditas que foram incluídas. "Quis aproveitar esse momento não só pra revisar minha carreira, pois não daria para mostrar tudo, afinal são 43 anos de carreira. Então resolvi optar por esse conjunto e deixar outras canções pra depois".   Em Paulinho da Viola - Meu Tempo é Hoje, documentário de Izabel Jaguaribe, de 2003, foi possível detectar momentos mais intimistas do sambista, seja na família ou em meio a Portela e sua Velha Guarda, a quem já dedicara uma composição, em 1969: a clássica Foi um Rio que Passou em Minha Vida. Também no filme, Paulinho destaca sua visão do tempo, que para ele é o hoje, sempre com uma influência do passado. O discurso se repete: "Vivo muito o hoje e tenho essa relação forte com o passado, com uma intuição que ela ainda se mantém presente. Falo como eu sinto, muito mais do que racionalizar. Foi o que tentei dizer no filme". Palavras de quem faz samba e entende sua história como poucos, e se mantém com uma elegância e humildade ímpar. É, fato, o nosso príncipe do samba.

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