Diretor de mídia da Filarmônica de Berlim fala da mudança na divulgação de concertos

No Brasil, Robert Zimmermann explica o projeto Digital Concert Hall

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Por João Luiz Sampaio
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A música sempre esteve presente na carreira de Robert Zimmermann. Como produtor e cineasta, realizou filmes sobre compositores e intérpretes. Mas o grande desafio profissional surgiu em 2008: inserir uma das mais tradicionais instituições culturais do mundo, a Filarmônica de Berlim, na era digital. O resultado foi a criação de um projeto de transmissões pela internet e de um selo próprio. “A orquestra precisava assumir o modo como difundiria o seu trabalho”, diz ele, sem depender “do Google, do iTunes, ou da Amazon, o que dificulta fazer o trabalho como você acredita”.

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Zimmermann participa no sábado de um debate que integra o Rc4, festival carioca dedicado à inovação na música clássica. Em conversa com o Estado, ele adiantou que falará principalmente do Digital Concert Hall. O projeto nasceu há sete anos. Em qualquer lugar do mundo, mediante o pagamento de uma assinatura mensal ou anual, o público pode acompanhar pela internet, em alta qualidade, concertos ao vivo da filarmônica ou um acervo com mais de 700 apresentações. Os números impressionam: se a casa da orquestra, a Philharmonie, oferece 2.200 lugares, o público “virtual” em alguns concertos chega a 22 mil pessoas. “E não se trata apenas de quantidade. Cerca de 80% do público está fora da Alemanha, ou seja, é um projeto que não se dedica à nossa plateia habitual mas, sim, à busca de uma nova audiência.”

“Inovação” é um termo nem sempre bem recebido pela música clássica – e costuma carregar consigo o medo de perda de qualidade. Para Zimmermann, esta é uma visão limitada. “Se você inova de acordo com sua história, você não perde a sua identidade, pelo contrário, você acrescenta algo novo a ela.” No caso da filarmônica, investir em tecnologia era, de certa forma, algo natural.

“Um dos primeiros LPs foi o da orquestra, o primeiro CD foi gravado por nós com Karajan. A questão é você encontrar a ferramenta ideal. O Metropolitan Opera de Nova York, por exemplo, resolveu exibir produções no cinema, tentando recriar a experiência de audiência coletiva. Para nós, pareceu interessante levar o que fazemos para a casa das pessoas.”

Não foi um processo fácil. “Eu não posso dizer que houve resistência por parte dos músicos, mas com certeza havia um clima de ceticismo e de medo. Eles receavam ter uma câmera o tempo todo no palco e a pressão que isso poderia gerar, afinal qualquer pequeno erro seria registrado em tempo real. Com a questão do patrocínio, aconteceu algo semelhante. O governo não quis investir no projeto por considerar a internet um território desconhecido. Mas tivemos sorte de encontrar um patrocinador que nos ajudou a iniciar as transmissões.” Hoje, a postura é outra. “A presença das câmeras tornou-se um desafio, o que levou a um esforço ainda maior por parte da orquestra.”

A ajuda do maestro Simon Rattle, regente-titular da orquestra, também foi grande, diz Zimmermann. E como será a relação com Kirill Petrenko, o novo maestro do grupo? “Ele não é muito extrovertido, está muito focado apenas no fazer musical, não é um comunicador. Mas isso não é um problema, o projeto hoje é sólido e não depende de um maestro. Será, da nossa parte, estimulante permitir que as ideias musicais dele cheguem ao maior número possível de pessoas.”

Há dois anos, a filarmônica deu também o que Zimmermann chama de “passo para trás”: criou um selo de gravação próprio para lançar seus CDs. “O trabalho que fazemos já não agradava às gravadoras. A orquestra quer continuar a gravar o grande repertório sinfônico, o que é caro e não te permite colocar a foto de uma estrela solista na capa. Além disso, pensamos o CD como uma experiência completa: as edições que estamos lançando trazem textos explicativos, arquivos em alta resolução, vídeos, enfim, não é só um punhado de faixas. Se você depende apenas da Amazon, do iTunes ou do Google, dificilmente consegue manter sua história e independência.”

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