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De Sinatra a Prince, Nikka se reergue com disco de soul e jazz

De volta aos EUA após viver na Austrália, ex-estrela mirim lança ‘Underneath and in Between’

Por Pedro Antunes
Atualização:

Domenica Costa, a Nikka, remexia naquelas caixas entulhadas em algum canto escondido da casa onde mora, guardadas longe da vista às vezes por motivos inexplicáveis.

Nikka Costa Foto: Melody McDaniel

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Na morada em Los Angeles, onde voltou a viver depois de décadas na Austrália, a cantora encontrou, dentro de uma maleta, partituras de Come Rain Or Come Shine, uma canção da década de 1940, gravada por nomes como Billie Holiday, Ray Charles, Ella Fitzgerald, Eric Clapton.

Reconheceu a letra e os rabiscos: os arranjos, para um sexteto de cordas, havia sido criado pelo próprio pai, o produtor, músico e midas da música Don Costa. 

Arranjador de grandes álbuns de Frank Sinatra, como Sinatra and Strings e My Way, Costa deixara mais essa versão para ser gravada pelo cantor dos olhos azuis. A morte precoce do pai de Nikka, aos 57 anos, em 1983, não impediu que a música fosse registrada. Nikka se emocionou com o que tinha nas mãos.

Afinal, aos 8 anos de idade, a cantora estava em turnê, como a maior popstar mirim dos anos 1980, com apresentações para mais de 300 mil pessoas e dueto com o próprio Sinatra na Casa Branca, quando o pai morreu. Ligou imediatamente para Jeff Babko, o pianista da banda com a qual ela tocava, a cada um mês e meio, em uma casa de espetáculos de Los Angeles, para “manter o ritmo”, como ela diz. 

“Venha já aqui. Você precisa ver isso”, disse ao telefone. Jeff percebeu que os arranjos de Don eram criados para um sexteto de cordas e os adaptou para o atual formato de Nikka, com dois instrumentos de cordas a menos. Ao apresentá-la ao vivo pela primeira vez, Nikka se lembra de sentir a presença de Don ao seu lado. “É realmente especial para mim ter encontrado essa partitura e ter gravado essa canção”, explica ela. 

Come Rain Or Come Shine é, de fato, um dos destaques de Underneath and in Between, o novo álbum da cantora de 45 anos, quase nove desde o lançamento de seu último trabalho de estúdio. “Fizemos de tudo para manter a essência daquilo que meu pai havia produzido ali para aquela música”, ela diz, antes de lamentar ter poucos pertences do pai ainda com ela. 

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Underneath and in Between apresenta Nikka em um trampolim emocional, jogando-se por canções que marcaram seu passado. Talvez pela ligação emocional com essas canções, ela esteja tão em forma. Depois do estouro como cantora mirim, Nikka saiu dos holofotes antes mesmo da chegada dos anos 1990. E pouco apareceu até o álbum Everybody Got Their Something, de 2001. 

O novo disco, que sequer era planejado para ser um álbum, foi erguido um dia, com ela e a banda gravando juntos, no estúdio. “Estava em um momento de transição, mesmo. E, de repente, vimos a oportunidade de gravar essas músicas.” 

O primeiro single foi Nothing Compares 2 U, uma canção de Prince, de quem Nikka foi muito próxima desde que voltou aos Estados Unidos. “Prince foi alguém que me ajudou a crescer muito. Sempre me apoiou”, ela lembra do músico morto no ano passado, também aos 57 anos, tal qual Don Costa. “Então, é claro que fiquei em choque quando descobri sobre a sua morte. Nós gostamos de tocar essa música para que o público se junte a nós em um momento de pesar e de lembrança.”

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