Dado Villa-Lobos ajuda a renovar cena de rock carioca

Seu projeto Rockit passou a apostar em várias plataformas para alavancar carreiras e revelar bandas de rock, pop e eletrônica

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Por Julio Maria
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Dado Villa-Lobos poderia estar sentado sobre os discos de ouro que cobrem as paredes de seu estúdio, o Rockit, no aprazível bairro do Horto, no Jardim Botânico. Viveria bem prestando homenagens à sua ex-banda, a Legião Urbana, como tem feito desde o ano passado e que o colocou no palco 84 vezes apenas para esta temporada de revival em comemoração aos 30 anos de lançamento do primeiro disco do grupo brasiliense.

Dado Villa-Lobos no estúdio da Rockit, no Rio Foto: Carolina Amorim/Divulgação

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Depois de manter seu projeto de selo discográfico, o Rockit se firma no Rio como estúdio não apenas para lançamento de discos físicos, mas principalmente para a gravação e produção de artistas da cena carioca de rock em vários formatos. Na última semana, dias 16 e 17, ele realizou um primeiro festival sob o nome de sua empresa no espaço Cultural Sérgio Porto, no Humaitá. “Nosso objetivo é incentivar a criação musical através de um modelo de negócios em que o selo e o artista sejam parceiros na busca do bem-estar espiritual e material pela música”, diz Dado. Sua diletância não inclui interesses financeiros, ao menos não por agora. “Não podemos pensar em ganhar dinheiro. Só quero mostrar que o Rio de Janeiro tem uma cena roqueira que se renova”, explica.

As atrações que passaram pelo festival são uma amostra dessa face renovada do Rio. Pelo palco do Sérgio Porto passaram os projetos Opala, Meia Banda, Negro Leo, Sarah Abdala, Marcelo Callado e 2600. Entra em seu balaio música pop, rock indie, música eletrônica. Existe vida na renovação do cenário roqueiro do Rio, mas há uma outra ponta muito deficiente. O circuito de casas de rock com a proposta de revelar grupos novos resume-se a um ou dois lugares, segundo o próprio músico. Negro Léo, maranhense radicado no Rio, vem traçando seu caminho desde o primeiro disco, lançado em 2012. Água Batizada é o disco que sai também em formato vinil pelo Rockit de Dado Villa-Lobos. Sua linguagem pós-psicodélica é considerada como um acontecimento no rock atual. As estranhezas de sua sonoridade firmam uma identidade bastante peculiar. O duo eletrônico Opala, de Maria Luiza Jobim (voz) e Lucas de Paiva (synths), lança pelo selo seu primeiro álbum em formato digital e em fita cassete, as duas estações distantes da linha do tempo das gravações. Há de fato uma sonoridade 80 que justifica a proposta da fitinha. Seu lançamento pelo selo de um Legião mostra que as antenas de Dado não se restringem apenas aos seus iguais. Há muita qualidade no duo.

Outro grupo que tem ganhado fichas de aposta na cena mais recente do Rio é o Meia Banda, de Bruno Di Lullo (guitarra), Domenico Lancelotti (bateria), Estevão Casé (synths) e Eduardo Manso (guitarra). Como Negro Leo, não há formatos para um rock de experimentos e horizontes imprevisíveis.

A goiana Sarah Abdala, autora e intérprete, faz seu segundo disco, de nome Oeste, pela empresa de Dado. O primeiro, Futuro Imaginário, é de 2014. Sua presença no time reforça uma identidade comum aos grupos surgidos em território carioca. O Rio de Janeiro tem sol, mas a lua é a que incide com mais força nos porões do rock. Sua música, baladas ou rocks soturnos, são da noite, não do dia. Ela é intensa e com alta carga de melancolia. Faz um belo trabalho. Marcelo Callado, outro a sair dos fornos da Rockit, é mais conhecido por trabalhos como baterista de nomes como Caetano Veloso e Jorge Mautner. Agora, ele faz um caminho curioso ao assumir o microfone e a guitarra e a defender suas próprias composições. É o que faz no álbum Meu Trabalho Han Sollo vol. I e no seguinte, o projeto Callado Compacto, com 4 faixas instrumentais.

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