O melhor e o pior do primeiro fim de semana do Rock in Rio, festival realizado entre os dias 18 a 27, no Rio de Janeiro, por quem realmente esteve lá e viu tudo de perto.
MELHOR SHOW
Julio Maria: Queen e Adam Lambert
A ira extremista dos que apedrejaram Lambert por ele ocupar o trono de Freddie Mercury pode estar cegando uma percepção mais profunda. Brian May não colocaria qualquer um naquele posto. Escolheu Lambert por sua afinação de alta precisão e seu carisma. O show foi grande e comovente, um brinde a um dos songbooks de maior relevância no rock mundial. Bohemian Rhapsody, I Want to Break Free, Under Pressure. Freddie Mercury foi bem representado
Pedro Antunes: Baby do Brasil e Pepeu Gomes
Em 30 anos, se o Rock in Rio ainda existir, qual apresentação será lembrada como icônica do festiva? O reencontro no palco de Baby do Brasil e Pepeu Gomes obrigatoriamente estará na lista. O casal separado em 1988 nunca mais havia se apresentado junto e, mesmo que não estejam mais juntos, a química no palco é impecável. Para deixar mais histórico, o encontro foi programado por Pedro Baby, filho do casal e grande guitarrista.
João Paulo Carvalho: Elton John
Elton John é um daqueles casos raros. Dinossauro do rock, soube envelhecer com dignidade sem perder o prestígio. Quanto mais velho, melhor. Como um bom vinho. O britânico hipnotizou a plateia e proporcionou ao público um show tranquilo, mas ao mesmo tempo intenso. Há quem torça o nariz para o britânico. Cafona. Brega. Monótono. Gentleman no palco, senta-se no piano e permite que a música flua. No set, clássicos como Rocket Man, Tiny Dancer e a doce Your Song.
PIOR SHOW
Julio Maria: Ira!, Rappin Hood e Toni Tornado
Nasi é um patrimônio do rock paulistano e vê-lo no Rock in Rio dá orgulho. Mas sua voz mostrou sérios problemas de afinação. Em músicas importantes como Núcleo Base e Envelheço na Cidade, ela não chegou onde deveria e se perdeu feio. Nasi é blindado por seu passado, mas vê-lo assim é preocupante, seu próprio passado não merece. Rappin Hood e Toni fizeram bem suas partes, amortecendo a triste queda daquela tarde no Sunset.
Pedro Antunes: Queen e Adam Lambert
Vamos cortar o papo furado. Era preferível assistir a Brian May, um dos maiores no seu instrumento, e Roger Taylor tocando em frente a um projetor com imagens de Freddie Mercury do que aguentar o Queen com Adam Lambert. Veja bem, a crítica não é ao rapaz, que tem técnica e bastante personalidade, aliás. É a May e Taylor. O show parecia uma versão menos ensaiada do musical We Are The Champions com músicos convidados.
João Paulo Carvalho: Gojira
Um caos entrópico: assim pode ser definido o show da banda Gojira. No sábado, dia dedicado ao heavy metal, o grupo não conseguiu cativar o público do Palco Principal. Mesmo com guitarras pesadas e o tradicional bumbo duplo do baterista Mario Duplantier, a sonoridade dos franceses só se destacou pelo alto volume. Quem assistia a apresentação, se assustou com o ímpeto do vocalista Joe Duplantier. Força no metal não significa qualidade.
MAIOR SURPRESA
Julio Maria: Royal Blood
Mike Kerr é a vingança dos baixistas. Quem disse que eles são soturnos? Seu baixo desbanca a guitarra e dialoga apenas com a bateria raivosa de Ben Thatcher. Mas a guitarra vive ali naquelas quatro cordas cheias de distorção. Sua missão é difícil. Além de fazer o dois em um intrincado, ele canta. É certo que também usa sons programados, o que poderia colocar sua originalidade em suspeita, mas acaba pesando mais a verdade do som em duo que consegue fazer com tão pouco.
Pedro Antunes: Alice Caymmi e Eumir Deodato
É de se tirar o chapéu para Alice Caymmi. Num dia tão pop quanto o domingo, 20, ela colocou o kitsch entre tantas escolhas musicais óbvias, como de Magic! e Seal, ela inverteu as frequências, mostrou seu anti-pop, e ainda foi bem recebida pelo público diminuto. Chamou ainda Eumir Deodato ao palco para engrandecer o nível técnico. A neta de Caymmi colocou Led Zeppelin, Donna Summer e MC Marcinho no mesmo balaio. E deu certo.
João Paulo Carvalho: Os Paralamas do Sucesso
Ninguém nunca duvidou de que os Paralamas do Sucesso fariam um bom show no Rock in Rio. Entretanto, a força de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone triplicou na apresentação de anteontem no Rock in Rio. O público reagiu bem aos clássicos e o power trio justificou a presença no Palco Principal com maestria. A banda não poderia ficar de fora da edição mais nostálgica do evento. A comemoração de 30 anos do festival necessitava da força do rock brasileiro.
GAFE
Julio Maria: Seal
Alguns artistas não gravam bons discos mas crescem no palco. Outros, como Seal, vivem a lógica contrária. Seu show do Mundo, apesar de abordar até o bom disco novo, Seven, criou expectativa dos fãs mas, o que se viu, foi uma falta de entrega de uma banda burocrática. A plateia percebeu e reagiu. Enquanto Seal cantava, muitas pessoas aproveitavam para ir ao banheiro, entrar nas filas de alimentação ou, simplesmente, conversar. Não foi por acaso. /
Pedro Antunes: Homenagem a Cássia Eller
A ideia de ter sempre um homenageado no Palco Sunset, como foi com Raul Seixas em 2013, é de causar arrepios. E não é medo de assombração, não. É pela ideia de que colocar um punhado de músicos para interpretar a obra de outro já morto é tudo aquilo que podem aniquilar qualquer festival de música que se preze. O Rock in Rio se moveu, neste primeiro fim de semana, de nostalgia. O caminho pode ser perigoso.
João Paulo Carvalho: Metallica
Veteranos de Rock in Rio, o Metallica não conseguiu driblar um pitoresco problema de som. O incidente interferiu diretamente no desempenho de James, Lars, Kirk e Robert. Os gigantes do metal foram silenciados por longos minutos. A Cidade do Rock ficou muda. Constrangidos, eles abandonaram o palco. Pouco tempo depois, retornaram com a acústica The Unforgiven para recolocar as coisas nos eixos. Não deu. Constrangidos, perderam o foco.