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Crítica: Novo álbum do Radiohead inova na estratégia, mas não na música

Repórter da BBC baixou 'In Rainbows' pela internet e avaliou novas músicas.

Por Ian Youngs
Atualização:

Pedi o novo álbum do Radiohead, In Rainbows, pela internet duas vezes. O álbum está disponível para download, por qualquer preço de 0 a 100 libras (cerca de R$ 370), no site oficial lançado pela banda para a divulgação de In Rainbows a partir desta quarta-feira. Na primeira vez, paguei zero por motivos de pesquisa: queria saber se isso realmente podia ser feito. E funcionou: o processo de pedido do álbum pulou a parte que pede os dados do cartão de crédito e foi diretamente para a tela de confirmação do pedido. Mas logo minha consciência começou a incomodar. Afinal de contas, eu iria ouvir o álbum e, talvez, gostar. Lembro dos velhos tempos, antes da época dos downloads, quando não se conseguia nada de graça, e do argumento de que a banda e todo o resto precisavam ser pagos. E isso dava um sentimento de culpa. Mas o que é um preço justo? Decidi, na segunda vez, que pagaria 9,82 libras (cerca de R$ 36), pois esse seria o preço médio de um CD na Grã-Bretanha em 2006. As instruções para os dois downloads chegaram por e-mail logo pela manhã e o processo foi fácil e rápido. O e-mail tinha um link que iniciava automaticamente o download, precisando de alguns minutos para que as músicas aparecessem em um arquivo zip. Simples. In Rainbows é o sétimo álbum de estúdio do Radiohead e o estilo não mudou tanto em comparação aos últimos três álbuns - Kid A, Amnesiac e Hail to the Thief. O novo álbum tem batidas espalhadas, orquestrações cheias de devaneios, gemidos incompreensíveis. E não tem muitos gemidos de guitarra, não tem muita força emocional ou boas canções. Como ocorreu com os últimos três álbuns (e no trabalho solo de Thom Yorke), provavelmente vou ouvir algumas vezes, sentir que deve haver alguma excelência artística que não compreendi completamente e então esquecer tudo. Lembro de inicialmente não ter tido muita certeza a respeito do álbum OK Computer. E finalmente percebi que era brilhante, depois de ouvir uma meia dúzia de vezes. Mas este álbum parece ter menos conteúdo para entrar aos poucos na vida de uma pessoa. Pensei que o Radiohead deveria ser como um mestre da invenção e da inovação, mas parece que eles ficaram presos na mesma rotina criativa por muito tempo. Estou revendo minhas visões a respeito do valor deste álbum. Mas, infelizmente, não existe um espaço na página do Radiohead para pedir o dinheiro de volta, se o consumidor achar que pagou demais. Se mais grandes bandas seguirem o caminho do Radiohead, as pessoas vão se acostumar a pagar zero ou mesmo metade do que paguei, 4,91 libras (cerca de R$ 18), por um lançamento oficial. Os preços dos outros álbuns vão começar a parecer altos demais e as gravadoras e lojas de CDs vão enfrentar ainda mais problemas do que já estão enfrentando agora. A idéia do Radiohead, de o consumidor pagar o quanto quiser, pode ser um truque para ser usado uma única vez ou pode ser o futuro da indústria fonográfica. Mas talvez a revolução digital tenha dado poder demais às bandas. Talvez o Radiohead precise de uma gravadora. Talvez eles precisem de alguém que diga a eles que o que estão produzindo está muito igual e, na verdade, não é tão bom e talvez eles deveriam tentar algo diferente. E talvez a gravadora precise deles, para pegar uma fatia nas vendas para financiar o próximo Radiohead, seja quem for. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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