O alemão Bernd Alois Zimmermann é um dos compositores menos conhecidos entre os criadores do século 20. Um pouco por causa de sua independência em relação a grupos como os de Darmstadt, Colônia, Paris e Viena. Outro tanto por conta de sua história de vida.
Nasceu em 1918, em Colônia. Estudava música quando foi convocado, em 1938, para o exército nazista. Na Segunda Guerra, lutou em vários fronts: na Polônia, França e Rússia. Por sofrer de uma doença alérgica, foi dispensado do exército. Voltou a estudar música em Colônia. Tudo isso o desestabilizou. E, em 1970, aos 52 anos, suicidou-se, após anos sofrendo com distúrbios mentais.
É hoje respeitado e reconhecido por sua ópera Die Soldaten, de 1965. Mas o restante de sua produção é pouco conhecido. Quando se fala em Zimmermann, pensa-se, por exemplo, em sua penúltima obra, Stille und Umkehr, de 1970.
Em texto no folheto do CD Capriccio Modern Times (download por US$ 9,99 em www.classicsonline.com), Christoph Schlüren diz que a peça parece “uma natureza-morta”, não há movimento musical. Karl-Heinz Steffen e a Filarmonia alemã de Rheinland-Pfalz se saem muito bem nesta partitura zen.
Mas o CD tem a ver com Brasil por causa de uma obra inesperada, a Suíte Alagoana, composta como música de balé por Zimmermann. Há indícios de que um parente seu morou em Alagoas naquela época. E, de algum modo, o compositor tomou conhecimento da música folclórica brasileira. Schlüren a compara com as peças que Darius Milhaud compôs logo após sua estada no Brasil, entre 1917 e 1920. “Pode-se ver nela uma contrapartida alemã às aventuras cariocas de Milhaud.” É possível, mas bem menos perceptível do que no caso do francês.
Zimmermann compôs a peça em 1951, com base em esboços realizados ainda nos anos 1940. Em sua estada na França como soldado durante a Segunda Guerra, estudou partituras de Stravinski e Milhaud. A suíte tem cinco partes. Uma abertura e um finale enquadram três movimentos “nordestinos”: Sertanejo, Saudade e Caboclo. Sertanejo é bem-comportada; Saudade está mais próxima da linguagem europeia de Zimmermann; e Caboclo é a mais “brasileira” (villalobiana?). Não é uma obra-prima, mas tem lá sua graça como estudo de timbres, emoldurados – quem diria? – por raízes alagoanas, muito nossas.
Quanto à capa, o mínimo que se pode dizer é que é estranhíssima: mostra tratores em estado de decomposição!
O CD também traz a Sinfonia em um movimento de 1947-51, igualmente influenciada pelos estudos de Stravinski e Milhaud, embora avance um pouco mais no desenvolvimento da linguagem sinfônica posterior que marcou Zimmermann.