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Coldplay volta a São Paulo cheio de amor para dar

Banda liderada por Chris Martin, que iniciou sua trajetória carregada de melancolia, deixou a tristeza para trás

Por Pedro Antunes
Atualização:

Por mais que o horário tenha sido ingrato com o Coldplay, com o sol ainda lá no alto, no meio da tarde californiana, a claridade fez sentido. A banda inglesa, que cantava a dor e solidão naqueles primeiros discos, os idos dos anos 2000, hoje vive da luz. Vive radiante, reluzente, por intermédio de batidas dançantes, acompanhadas de uma versão enfim feliz de Chris Martin, seu líder e vocalista. 

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É esse o Coldplay que voltou ao Brasil – para São Paulo e Rio de Janeiro –, a partir desta quinta-feira, 7, na apresentação paulistana realizada no Allianz Parque. Será a sexta vez da trupe por aqui – no Rio, a banda que se apresenta no Maracanã já tocou em outras três ocasiões. Nada de solidão ou depressão, que tanto afetaram Martin nos últimos anos. Com o álbum A Head Full of Dreams, ele soube lidar com seus problemas pessoais, montou de volta o quebra-cabeça que havia sido seu coração antes do término com a atriz Gwyneth Paltrow. 

Ele propõe aos fãs paulistanos e cariocas que se sintam como ele: o coração batendo forte dentro do peito, como no single Adventure Of a Lifetime, aquele cantado no Super Bowl 50, a grande final do campeonato de futebol americano, citado no início. Se o sol estraga qualquer apresentação com sua luz incessante, no caso de Martin, ele exibia o rosto radiante do vocalista em um dos eventos mais assistidos do mundo. 

Chris Martin, do Coldplay, em um show na Alemanha Foto: EFE|ARNE DEDERT

Se tem algo em que o Coldplay é preciso é na capacidade de mostrar os humores e amores de seu líder. Cada disco, e foram sete ao longo destas duas décadas de carreira, é um retrato do estado de Chris Martin. E, bom, atualmente, ele está de bem com a vida e quer que todos nós saibamos disso. Passou por maus bocados quando Gwyneth anunciou que o deixaria. Foi um relacionamento de dez anos, com dois frutos, os filhos Apple (12 anos) e Moses (10 anos), encerrado oficialmente em 2015. Em uma entrevista à Rolling Stone norte-americana, o inglês de 39 anos explicou que passou por um período de depressão de um ano, quando a mulher o deixou (e antes da assinatura da papelada), e precisou buscar ajuda no que conseguiu encontrar. 

Seu suporte, contou o músico, foi o livro A Busca do Homem por Sentido, escrito por Viktor Frankl, psicólogo, psiquiatra e filósofo austríaco que passou pelos mais letais campos de concentração, Auschwitz e Dachau, durante a Segunda Guerra Mundial. Nele, Martin viu um sentido na dor. Antes, quando a agonia vinha, ele era derrubado por ela. E se sentia assim porque tentava combatê-la e, por fim, perdia a luta. Bastava aceitar a presença daqueles períodos sombrios e saber que ele sairia mais forte depois que tudo fosse embora. 

Não é por acaso que A Head Full of Dreams seja tão iluminado. É o oposto do introvertido Ghost Stories, seu precedente, lançado há dois anos, quando Martin estava no olho do furacão emocional que a perda da mulher lhe causara. A banda indie que encantou com sucessos melancólicos, como Shiver, Yellow e Trouble, trio do álbum de estreia Parachutes (2000), agora domina estádios. 

A turnê de A Head Full of Dreams marca também o retorno do grupo aos grandes estádios. Com um som expansivo, diversos flertes com pop dançante e de pista, produzido pelo time que leva o nome de Stargate (responsável por músicas de gente como Beyoncé, Rihanna, Iggy Azalea e Jennifer Lopez), o Coldplay está pronto para a festa. Em Ghost Stories, o grupo preferiu seguir com apresentações menores, menos grandiosas. 

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O disco mais recente tem diferentes participações curiosas, tão espantosas quanto algumas decisões sonoras, como o apreço pelas batidas eletrônicas, presentes ali e acolá, em uma espécie de versão menos desorganizada do dubpstep. Beyoncé e a filha Blue Ivy, por exemplo, aparecem nos créditos da música Hymn for the Weekend. Por outro lado, Noel Gallagher, metade do Oasis, toca violão em Up & Up, canção que fecha o álbum. O mais curioso, contudo, é a participação da própria Gwyneth no disco no qual o líder do Coldplay espalha suas boas vibrações. Ela canta em Everglow, justamente a mais desesperada da safra. Na faixa, Martin a chama de “celestial” e se declara. Martin usou esses sentimentos de ausência e entregou a melhor canção da nova fase. 

COLDPLAY  Allianz Parque. R. Turiassu, 1.840. Hoje (7), 21h. Ingressos esgotados. Abertura: Tiê, às 18h, e Lianne La Havas, às 19h30

Brasil viu de perto a ascensão 

Desde que assumiu a cor para dentro da sua música, abandonou vídeos e versos melancólicos, o Coldplay cresceu exponencialmente. E o Brasil foi capaz de testemunhar cada passo da banda, que já se apresentou nove vezes por aqui – cinco em São Paulo, três no Rio de Janeiro e uma no Rio Grande do Sul. De casas de shows de médio porte, como Via Funchal (SP) e ATL Hall (RJ), em 2003, Chris Martin e companhia seguiram para palcos maiores. 

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Naquela primeira passagem por aqui, eles ainda eram uma banda indie, de nicho pequeno, embora um potencial enorme, com os discos Parachutes (2000) e A Rush of Blood to the Head (2002). Quando veio X&Y (2005), o jogo virou. 

O Coldplay deixou os indies e, por consequência, eles também deixaram para trás a banda, que se tornou mais uma daquelas da frase blasé “gosto só dos primeiros discos”. Martin encontrou um mar de braços abertos nos estádios. Em 2007, a banda, que ainda não tinha aqui a notoriedade do exterior, voltou ao finado Via Funchal para três noites de shows. 

A mudança, por aqui, aconteceu em 2010, durante a longa turnê do definidor Viva la Vida or Death and All His Friends. Foi quando o Coldplay chegou para as arenas brasileiras. Passaram por Morumbi, Praça da Apoteose e Gigantinho. No ano seguinte, retornaram para lançar o indeciso Mylo Xyloto e se apresentar no Rock in Rio. De volta aos estádios, o Coldplay está no Brasil – com ingressos esgotados. E vem provar que está mais popular do que nunca. 

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