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Coldplay reafirma, em dois shows em SP, que a melancolia não tem mais espaço

Banda se apresenta no Allianz Parque nesta terça-feira, 7, e quarta, 8

Por Pedro Antunes
Atualização:

No pulsos de cada uma das mais de 45 mil pessoas presentes no Allianz Parque, naquela noite de abril de 2016, pulseiras que vibraram, em cores, de acordo com a canção executava pelo Coldplay no palco montado no estádio da zona oeste da capital paulista.

Chris Martin, do Coldplay Foto: Dave Hogan/One Love Manchester/Handout / Via Reuters

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Existia euforia até mesmo quando a canção do repertório reverberava a melancolia do Coldplay de outrora. A fase atual da banda de Chris Martin tem, acima de tudo, luzes vivas, novos amores e recomeços. Tal como no ano passado, as “good vibes” voltam a dominar o Allianz Parque hoje e amanhã, quando a banda retorna à cidade – a turnê inclui ainda uma apresentação na Arena do Grêmio, no sábado, 11. 

Mais do que chorar o fim, o que o Coldplay prega, em suas canções, são os sonhos que ainda estão por vir. Assim surgiu A Head Full of Dreams, o disco lançado em 2015, criativamente motivado pelo fim do relacionamento entre Martin e a esposa Gwyneth Paltrow. 

Em vez de se voltar às canções entristecidas e aos videoclipes em preto e branco que deram à banda o status de cool no meio independente no início dos anos 2000, o Coldplay seguiu pelo caminho atual. Mais do que chorar, é preciso entender, na filosofia chrismartiniana, que o fim é sempre o início de algo novo. 

Martin, Guy Berryman (baixo), Jonny Buckland (guitarra) e Will Champion (bateria), no palco, não se propõem a criar espaços sonoros cinzentos demais. A cada música que leve o ouvinte para um ambiente introspectivo, há uma resposta ensolarada.

Na apresentação mais recente do grupo inglês, no Qualcomm Stadium, em San Diego, na costa oeste dos Estados Unidos, em outubro uma música como Yellow, de Parachutes, o disco de estreia, de 2000, foi seguida de Every Teardrop Is a Waterfall, faixa do já sacolejante Mylo Xyloto, lançado 11 anos depois, na fase mais colorida do grupo formado em 1996, por colegas da universidade pública University College. 

Com essa brincadeira de luz e sombra, o Coldplay promove um retrato do que é a vida adulta e como os sentimentos se comportam e se transformam. É uma ação responsiva à idade dos integrantes do grupo, todos com ou prestes a completar 40 anos de idade. Casaram, descasaram. Tiveram filhos. Tornaram-se uma das maiores bandas do mundo. Viveram, o bem e o mal, nos extremos. 

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Portanto, é compreensível ver desalento inicial da vida adulta como protagonista entregue empacotado, ainda em formato de CD, no já citado Parachutes e em A Rush of Blood to the Head (2002) – o último, o álbum responsável por elevar a banda ao status de gigante, com 12 milhões de cópias vendidas e hits que marcaram uma década, como In My Place, The Scientist e Clocks.

Basta lembrar de si mesmo aos 20 e poucos anos ao ter o coração juvenil partido: ficava-se imprestável por dias ou até meses. Com os anos, vem a experiência. Com ela, mais uma porção de foras e pontapés nas nádegas. A dor ainda é dilacerante, na mesma intensidade sentida pelo amor no início daquele relacionamento, mas algo está diferente.

O sentimento avassalador de derrota com o fim não prevalece por tanto tempo. O Coldplay de hoje quer ser a trilha sonora do redescobrimento, do novo brilho nos olhos e das novas borboletas na barriga. 

COLDPLAY EM SÃO PAULO Allianz Parque. Av. Francisco Matarazzo, 1.705, Água Branca.  Hoje (7), às 21h, e amanhã (8), às 19h. R$ 240/R$ 750. 

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